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Folha de S.Paulo

Montagem lê “Bartleby”, de Melville, à luz da angústia

28.2.2008  |  por Valmir Santos

São Paulo, quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

TEATRO 

VALMIR SANTOS 
Da Reportagem Local 

Em meados do século 19, o norte-americano Herman Melville (1819-91) escreveu um conto sobre um homem que preferia não… Não fazer, ir, dizer, comer ou qualquer um desses verbos razoáveis da vida. Aliás, não queria ser razoável. 

A narrativa de “Bartleby, o Escriturário” é pertinente ao vazio do homem contemporâneo, que às vezes se vê paralisado diante dos tempos ditos acelerados, na perspectiva da atriz Cácia Goulart. 

Ela protagoniza a terceira versão para teatro do texto de Melville a que São Paulo assiste nesta década, em curta temporada a partir de amanhã no Sesc Paulista. As montagens anteriores foram de Antônio Abujamra (2006) e do Núcleo Bartolomeu (2000).

Goulart, 40, diz que sua concepção para Bartleby relativiza o tom sociológico da relação do escrevente com o perplexo advogado que o contrata (Rodrigo Gaion), mas para quem se recusa a trabalhar. 

São complexas as forças na obra do também autor de “Moby Dick”. A montagem é intimista, 50 espectadores. “O conto e a peça falam ao vazio da nossa época, à angustiante falta de sentido em certos momentos da existência, sem esquecer o bom humor. Vemos o esgotamento e a necessidade de renovação das relações cotidianas”, diz Goulart. 

Dez anos atrás, ela leu a tradução feita pelo dramaturgo espanhol José Sanchis Sinisterra, que centra o conflito nos dois personagens quando originalmente são cinco. Vadim Nikitin traduziu o texto co-dirigido por Joaquim Goulart e Daniela Carmona. 

À frente do Núcleo Caixa Preta, Cácia Goulart foi indicada ao Prêmio Shell São Paulo pela atuação em “Navalha na Carne” (2003) e integrou o elenco de “BR-3” (2006), do Teatro da Vertigem.



Peça: Bartleby 
Onde: Sesc Paulista (av. Paulista, 119, tel. 0/xx/11/3179-3700) 
Quando: estréia amanhã; sex. a dom., às 20h; até 23/3 
Quanto: R$ 20 

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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