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contracena

Retrato vívido na forma do biodrama

5.5.2010  |  por Valmir Santos

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Ator em cena de Acá estoy chico quando era yo

A narrativa é coalhada por planos de memória e de ficção. Cheiros, toques, cores, sons, palavras, volumes e um amontoado de sentimentos que dão liga às histórias pessoais, coletivas e geracionais coladas num painel afetivo de cenas de gente a um só tempo comum e singular.
O espetáculo do Colectivo Autobiografico atinge universalidade a partir da partilha de foro íntimo, revelações ou fabulações de um grau ínfimo de separação entre as pessoas que habitam o mundo e por acaso – ou não – tem seus caminhos entrecruzados.
Uma baleia em cima do telhado do galinheiro, uma tia ovelha negra na família, os hábitos e costumes enfiados goela abaixo na infância – quem não carrega essas passagens formadoras da infância que impregnam toda a vida?
A dramaturgia é composta dessa natureza em colaboração da diretora Gabriela González com os atores Paula Fernández, Christian Roig e Sergio Sansosti. Há ainda uma quarta pessoa no elenco, Belén Errendasoro.
Esse revolver de lembranças particulares poderia colocar seus criadores na berlinda em tempos de culto à devassidão pública da intimidade na internet e na televisão. Ao contrário, o trabalho apruma sua teatralidade de forma engenhosa. Alterna solilóquios com diálogos em franca abertura para o caráter dialético tanto na fala de quem narra como no conteúdo do que é narrado.
São quatro figuras (elas não são exatamente personagens), dois homens e duas mulheres levados por memórias ora vívidas ora desbotadas, como nos velhos retratos da família guardados na gaveta. Entre a melancolia do passado e as primeiras descobertas do mundo – não menos doloridas e encantadoras -, imprime-se o espírito lúdico em atos adultos de evocação. Bailam sapos e brincadeiras num espaço cênico de signos abertos, televisores, microfones, baldes, areia e tudo o mais em sentido relacional permanente no que os objetos podem comunicar sobre o vivido.
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ator

O mediação do verbo falado e escrito, palavras e desenhos superpostos na lousa ao fundo tal qual o diário em que o adolescente, o adulto ou mesmo a criança plasmam seu olhar ensimesmado sobre a vida que se leva, tudo converge a leitura dessas biografias colocadas em relevo por meio da arte do teatro. Em sua constituição cênica e dramatúrgica, Acá estoy chico cuando era yo  constrói uma delicadeza ética na disponibilidade de trazer à luz verdades tão pungentes colocadas em perspectivas com as verdades que os espectadores carregamos do lado de cá nos pequenos enredos de salvação, bóias que nos fizeram chegar até aqui no mar da vida.

A narrativa é coalhada por planos de memória e de ficção. Cheiros, toques, cores, sons, palavras, volumes e um amontoado de sentimentos que dão liga às histórias pessoais, coletivas e geracionais coladas num painel afetivo de cenas de gente a um só tempo comum e singular.

O espetáculo Acá estoy chico cuando era yo, do núcleo Teatro Autobiografico Colectivo, radicado em Tandil, na Argentina, atinge universalidade ao partilhar o foro pessoal de quatro atores e de sua diretora. Junta revelações ou fabulações de um grau ínfimo de separação entre aqueles que habitam o mundo e por acaso – ou não – tem seus caminhos entrecruzados.

Uma baleia em cima do telhado do galinheiro, uma tia ovelha negra na família, os hábitos e costumes enfiados goela abaixo na infância – quem não carrega essas passagens formadoras da infância que impregnam toda a vida?
A dramaturgia feita dessa natureza umbilical em colaboração da diretora Gabriela González com os atores Paula Fernández, Christian Roig e Sergio Sansosti. Uma quinta pessoa compõe o elenco, a atriz Belén Errendasoro, cuja trajetória também traz subsídios à invesrtigação.
Esse revolver de lembranças particulares poderia colocar seus criadores na berlinda em tempos de culto à devassidão pública da intimidade na internet e na televisão. Ao contrário, o trabalho apruma sua teatralidade de forma engenhosa. Alterna solilóquios com diálogos em franca abertura para o caráter dialético tanto na fala de quem narra como no conteúdo do que é narrado.
São quatro figuras (elas não são exatamente personagens), dois homens e duas mulheres levados por memórias ora vívidas ora desbotadas, como nos velhos retratos da família guardados na gaveta. Entre a melancolia do passado e as primeiras descobertas do mundo – não menos doloridas e encantadoras -, imprime-se o espírito lúdico em atos adultos de evocação. Bailam sapos e brincadeiras num espaço cênico de signos abertos, televisores, microfones, baldes, areia e tudo o mais em sentido relacional permanente no que os objetos podem comunicar sobre o vivido.
O mediação do verbo falado e escrito, palavras e desenhos superpostos na lousa ao fundo tal qual o diário em que o adolescente, o adulto ou mesmo a criança plasmam seu olhar ensimesmado sobre a vida que se leva, tudo converge a leitura dessas biografias colocadas em relevo por meio da arte do teatro. Em sua constituição cênica e dramatúrgica, Acá estoy chico cuando era yo  constrói uma delicadeza ética na disponibilidade de trazer à luz verdades tão pungentes colocadas em perspectivas com as verdades que os espectadores carregamos do lado de cá nos pequenos enredos de salvação, bóias que nos fizeram chegar até aqui no mar da vida.

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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