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Reportagem

Prêmio Shell (2003-2011)

21.3.2012  |  por Valmir Santos

Terminou ontem minha participação no júri do Prêmio Shell de Teatro em São Paulo. Foram nove anos de mais angústia no início do que no final da “gestão”. Na noite de entrega, o momento mais difícil é o intervalo em que a comissão se reúne, cerca de duas horas antes, para definir os vencedores entre os indicados nos primeiro e segundo semestres do ano anterior.

Quando o público chega ao espaço do evento, jurados e criadores cumprimentam-se aqui ou ali, naturalmente. Naturalmente, aspas, porque ficava um bocado constrangido em trocar abraços com artistas contemplados ou não na cerimônia minutos depois. Mas a partir do segundo ano passei a exercer certo distanciamento emocional (bebendo da convenção teatral).

Sabemos que uma comissão implica correlação ou tensão de olhares. Felizmente, os debates internos nunca resvalaram na desqualificação da opinião do outro. Percepções unânimes ou medidas pela régua da maioria flagraram instantâneos dessa linha de tempo. E aprendi ainda que nem sempre a premiação é justa – se outras as cinco cabeças escaladas para ler a temporada, o resultado poderia ser distinto.

Foi um privilégio testemunhar, na noite passada, as presenças da crítica e pesquisadora Mariangela Alves de Lima e da historiadora Maria Thereza Vargas, sendo a primeira homenageada pelos 40 anos de ofício e a segunda a acompanhá-la pela amizade, premiada na categoria especial em 1998 pela organização do livro Giramundo: Myrian Muniz, o percurso de uma atriz (editora Hucitec). Presenças e cumplicidades de ambas para com o cotidiano da arte do teatro inscrito na expressão contemplativa de seus rostos.

A cada dois anos, o integrante mais antigo do júri dá vez a outro profissional, tanto na comissão de São Paulo como na do Rio. Entre os paulistas, o cenógrafo e figurinista Carlos Colabone soma-se agora às dramaturgas Marici Salomão e Noemi Marinho e aos pesquisadores Mario Bolognesi e Alexandre Mate.

Abaixo, os indicados e os ganhadores dessa 24ª edição.

Autor:
Gustavo Colombini por O silêncio depois da chuva
Paulo Faria por Cine camaleão – A boca do lixo
Leonardo Moreira por O jardim
Nelson Baskerville e Verônica Gentilin por Luis Antônio – Gabriela

Direção:
José Fernando de Azevedo e Lucienne Guedes por Cidade fim/ cidade coro/ cidade reverso
Marcio Aurélio por A ilusão cômica
Cibele Forjaz por O idiota – uma novela teatral
Leonardo Moreira por O jardim
Nelson Baskerville por Luis Antônio – Gabriela

Ator:
Jarbas Homem de Mello por Cabaret
Rodrigo Bolzan por Oxigênio
Vinícius Meloni por Cidade fim/ cidade coro/ cidade reverso
Marcos Felipe por Luis Antônio – Gabriela
Roney Facchini por Menecma

Atriz:
Lavínia Pannunzio por A ilusão cômica
Roberta Estrela D’Alva por Orfeu mestiço – Uma hip-hópera brasileira
Ester Laccava por A árvore seca
Lavínia Pannunzio por A serpente no jardim

Cenário:
F. E. Kokocht e Paulo Faria por Cine camaleão – A boca do lixo
Marisa Bentivegna por O silêncio depois da chuva
Laura Vinci por O idiota – uma novela teatral
Marisa Bentivegna por O jardim

Figurino:
F. E. Kokocht e Paulo Faria por Cine camaleão – A boca do lixo
Márcio Medina e Carol Bedra por Prometheus – A tragédia do fogo
Camila Murano por Luis Antônio – Gabriela
Joana Porto por O idiota – uma novela teatral

Iluminação:
Paulo Cesar Medeiros por Cabaret
Rodolfo García Vázquez e Leonardo Moreira Sá por Cabaret stravaganza
Alessandra Domingues por O idiota – uma novela teatral
Marcos Felipe e Nelson Baskerville por Luis Antônio – Gabriela

Música:
Eugênio Lima e Roberta Estrela D’Alva por Orfeu mestiço – Uma hip-hópera brasileira
Gregory Slivar por Prometheus – A tragédia do fogo
Beto Quadros por Um dia ouvi a lua
Luis Aranha por Marulho: o caminho do rio…

Categoria especial:
Grupo Barracão Teatro pela pesquisa e criação de Diário baldio – Um espetáculo de máscaras
Grupo Teatro Popular de Ilhéus pela sátira em cordel em O inspetor geral
Jean Pierre Kaletrianos pela preparação vocal de Prometheus – A tragédia do fogo
Grupo Tapa pela defesa da política de repertório no projeto O repertório de verão, Grupo Tapa e Cia

Homenagem:
Mariangela Alves de Lima pelos 40 anos de trabalho ininterrupto e inestimável, dedicado à crítica e à pesquisa do teatro brasileiro.

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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