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Crítica

Com Nelson ao pé da cena

6.8.2012  |  por Valmir Santos

Foto de capa: Valmir Santos

No sábado e domingo, 21 e 22 de julho, medio três mesas no encontro Com Nelson ao pé da Cena, no Itaú Cultural (av. Paulista, 149). Fiz a curadoria a convite da gerente de artes cênicas, Sonia Sobral. A entrada é livre. São três mesas com pares de diretores que rememoram seus percursos criativos diante de uma peça comum de Nelson Rodrigues.

Na ordem das mesas, os textos abordados e seus respectivos diretores: Senhora dos afogados, com Ana Kfouri (RJ) e Antonio Edson Cadengue (PE); Toda nudez será castigada, com Cibele Forjaz (SP) e Paulo de Moraes (RJ); e Álbum de família, com Eid Ribeiro (MG) e Newton Moreno (SP).

São criadores que pontuaram as últimas duas décadas da produção brasileira com montagens significativas. Em três encontros, os seis expõem como assimilaram essa dramaturgia na cena.

Propomos um exercício de escuta e de memória acerca dessas montagens e, por meio delas, tangenciar sua obra teatral, ao menos parte dela, em dialogismo com a Ocupação Nelson Rodrigues que ocupa o saguão do instituto até o final do mês, sob curadoria da pesquisadora Maria Lúcia Rodrigues, filha do dramaturgo. Ela aborda a condição outsider do homem e do escritor cuja família lhe permitiu ser o gênio “fora de esquadro” que ele era.

Exibiremos trechos em DVD de cada uma das montagens abordadas.

PROGRAMAÇÃO:

Dia 21 de julho, sábado

– MESA 1, das 14h às 16h
Senhora dos afogados (1947), por Ana Kfouri (montagem de 2010, com a Companhia Teatral do Movimento) e Antonio Edson Cadengue (montagem de 1993, com a Companhia Teatro de Seraphim).

– MESA 2, das 17h às 19h
Toda nudez será castigada (1965), por Cibele Forjaz (montagem de 2000, com a Companhia Livre) e Paulo de Moraes (montagem de 2005, com a Armazém Companhia de Teatro).

Dia 22 de julho, domingo

– MESA 3, DAS 17H ÀS 19H
Álbum de família (1946), por Eid Ribeiro (montagem de 1990, com o Grupo Galpão) e Newton Moreno (montagem de 2009, com o Grupo Os Fofos Encenam, adaptada como Memória da cana).

SINOPSES:

Senhora dos afogados, tragédias em três atos escrita em 1947
Era a segunda vez que a família Drumond passava por aquilo. Primeiro foi Dora e, agora, Clarinha. A avó de Moema vivia apregoando que o destino das mulheres da família era o de serem levadas pelo mar. Coincidentemente, as mulheres do cais também estavam rezando pela alma de uma prostituta que morrera há dezenove anos, justamente no dia em que os pais de Moema se casaram. O pai de Moema é apontado na vizinhança como o assassino da moça de reputação duvidosa.

Toda nudez será castigada, obsessão em três atos escrita em 1965
Herculano, viúvo e conservador, é convencido pelo irmão a conhecer Geni, prostituta atraente, por quem se apaixona com a obscenidade do casto. A paixão dele desperta a feroz oposição do filho de dezoito anos, que não admite ato sexual nem no casamento, e da coleção de tias solteironas, que moram com o viúvo. Estupro, homossexualidade, manipulação e infidelidades são enfrentados pelos personagens rodrigueanos com a habitual intensidade que arrasta a todos e obriga, a cada um, mostrar sua verdadeira face.

Álbum de família, tragédia em três atos escrita em 1946
Jonas é casado com Senhorinha e, juntos, têm quatro filhos: Edmundo, Guilherme, Nonô e Glória. Jonas tem uma forte fixação em meninas de 15 anos. Tia Rute, irmã de Senhorinha, é encarregada de ir buscá-las para ele. Edmundo sente atração pela mãe, enquanto Glória é alvo da adoração de seu pai e de Guilherme. Nonô é o filho preferido de Senhorinha, mas enlouqueceu e anda ao redor da casa totalmente nu. Uma trama de ressentimentos, desejos proibidos e incestos.

PARTICIPANTES:

Ana Kfouri é diretora teatral, atriz, roteirista. Faz parte da Companhia Teatral do Movimento (CTM) e do Grupo Alice 118. Coordena o Centro de Estudo Artístico Experimental. É especialista em arte e filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio e mestre em Teatro pela Unirio. Ela constrói espetáculos em que combina ação e coreografia gestual, com textos compostos de fragmentos unidos pela temática.

Antonio Edson Cadengue é diretor e teórico do teatro. Desde os 1970, destaca-se por se opor, criativamente, à expectativa de um teatro nordestino ligado ao mundo rural e às tradições da cultura popular. A partir de 1990, à frente da Companhia Teatro de Seraphim, outra marca de seu trabalho ganha relevo: a atenção a grupos minoritários, sobretudo os discriminados por questão de raça, religião, doença mental e orientação sexual.

Cibele Forjaz é diretora e iluminadora. Encenadora paulista integrada às mais inquietas correntes de pesquisa cênica a partir das décadas de 1980 e 1990, com passagens pelo Centro de Pesquisa Teatral (CPT), de Antunes Filho; pelo Grupo Oficina Uzyna Uzona, de José Celso Martinez Corrêa, e pelo curso de direção teatral da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde é professora hoje.

Eid Ribeiro é diretor, autor, roteirista e ator. Destacado como um dos mais inventivos criadores mineiros, ele está em atividade desde a década de 1960, tendo influenciado muitas gerações e integrado alguns núcleos artísticos. Encenou dois espetáculos do Grupo Galpão, na virada dos anos 1980 para 1990. Foi curador e diretor de programação do Festival Internacional de Teatro Palco & Rua em Belo Horizonte.

Newton Moreno é autor, diretor e ator. Desponta em São Paulo a partir do ano 2000, com a cofundação do Grupo Os Fofos Encenam. Sua dramaturgia manifesta influências da cultura popular, herança da origem nordestina, e compreende temas de impacto em torno do homoerotismo, tônica atemporal que transita entre o campo e a cidade. Durante a formação de ator na Unicamp, foi dirigido, entre outros, por João das Neves, Maria Thaís e Marcio Aurelio.

Paulo de Moraes é diretor, autor e cenógrafo. Cofundador da Armazém Companhia de Teatro em Londrina, em 1987, e radicada no Rio desde 1998. Ele busca um teatro mais próximo do jogo, pensado em grande medida com base na relação do ator com o espaço cênico. Costuma escrever em parceria com Maurício Arruda de Mendonça, inspirando-se livremente na literatura e dramaturgia clássicas para apresentar as reflexões do grupo.

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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