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Reportagem

Sob o ritmo do sapateado

1.7.2014  |  por Michele Rolim

Foto de capa: Paschoal Rodriguez

Faz 30 anos que a a atriz e bailarina Claudia Raia produz musicais no Brasil – estreou em 1984, integrando o elenco de Chorus line. Atualmente, Claudia está em Crazy for you, o primeiro musical de sapateado da Broadway a ser produzido no país. O espetáculo chega nesta semana à capital gaúcha, com sessões de quinta-feira a sábado, no Teatro do Sesi.

Claudia não se contenta em estar somente no palco, também atua nos bastidores. Descobrir e promover talentos são funções realizadas por ela nessas três décadas. “Assumo um papel de incitadora e de formadora de profissionais, busco informações sobre este gênero, é como se eu tivesse uma escola de musicais. Formei tanta gente que trabalhou comigo e fomos descobrindo coisas juntos, pois no Brasil não há cultura de musicais, apenas de teatro de revista”, explica. Foi assim que Claudia conheceu o gaúcho Jarbas Homem de Mello, seu atual namorado. Depois de dois espetáculos trabalhando juntos – Pernas pro ar e Cabaret – eles repetem a dobradinha em Crazy for you.

Montar o espetáculo no Brasil era uma vontade antiga da atriz. Desde que assistiu à versão original da Broadway, nos anos 1990, Claudia ficou completamente envolvida por Crazy for you. Naquela época, não havia uma pessoa qualificada para fazer o personagem de Bobby Child. É aí que entra Jarbas Homem de Mello. “Imediatamente pensei: encontrei o Bobby: ele fez todo o caminho dos sapateios, começou na dança gaúcha, depois foi para o balé flamenco até chegar ao sapateado norte-americano”, explica a atriz, orgulhosa do parceiro.

No musical, Mello interpreta um playboy de Nova Iorque que não tem o menor interesse pelos negócios da família e só quer saber de cantar e dançar. A contragosto, é enviado à pequena cidade de Pedra Morta, no oeste norte-americano, para cobrar uma dívida e fechar o teatro local. Mas, ao chegar lá, se apaixona pela durona Polly, interpretada por Claudia, filha do proprietário do estabelecimento.

Crazy for you é inspirado no clássico musical Girl crazy, de 1930, com melodias de George Gershwin e letras de seu irmão Ira Gershwin. O musical foi adaptado três vezes para o cinema. A versão mais famosa nas telas é a de 1943, protagonizada por Judy Garland e Mickey Rooney. Em 1992, Crazy for you estreou na Broadway e fez tanto sucesso que, no ano seguinte, foi indicado a nove categorias do prêmio Tony (o Oscar dos musicais) e venceu em três delas, incluindo a de melhor musical. “Utilizo o conteúdo norte-americano com a minha brasilidade, afinal, o humor brasileiro não é o mesmo deles. A cidade de Pedra Nova poderia ser o interior de São Paulo, por exemplo, já que faço uma caipira praticamente da família Buscapé”, explica Claudia.

Cena de ‘Crazy for you’ que passa por Porto Alegre

Crazy for you foi considerado um divisor de águas na história dos musicais da Broadway quando estreou, pois identificava-se, ali, um ícone do musical verdadeiramente norte-americano, ou seja, não mais uma criação nos moldes ingleses. “Com Crazy, o Brasil abre uma porta que não tínhamos ainda: de musicais que tenham ou sejam de sapateado. Agora, então, temos a possibilidade de trazermos Black and blue, por exemplo”, comemora Claudia, citando uma das referências do musical com sons de sapato.

A montagem que os gaúchos assistirão tem as mesmas músicas criadas por George e Ira Gershwin, com versões de Miguel Falabella, coreografias de Susan Stroman, direção de cena de José Possi Neto e direção musical de Marconi Araújo. Conta com uma grande orquestra, composta por 14 músicos, regida em cena pela maestrina Beatriz de Luca e com um elenco de 26 atores, bailarinos e sapateadores. A equipe tem ao todo cerca de 120 pessoas.

Apesar dos musicais serem um sucesso de público, a bilheteria não paga nem metade da folha de pagamento, segundo Claudia. “Temos a meia-entrada, sistema que destrói o produtor, pois você não tem meio salário, metade da luz, meio som”, lamenta. Além disso, Claudia aponta que o preço dos ingressos é compatível com o investimento necessário – sempre é preciso buscar patrocínio. “É uma luta diária. Faço musical por paixão e com uma missão de formar equipe, profissionais e fazer o que eu gosto em cena. Como negócio, para mim, não funciona ainda”, finaliza, esperançosa.

.:. Publicado originalmente no Jornal do Comércio, caderno Panorama, p. 1, em 30/6/2014.

Serviço:
Onde: Teatro do Sesi (Avenida Assis Brasil, 8.787, Porto Alegre, tel. 51 3347-8787).
Quando: Quinta-feira a sábado, às 21h (sábado também às 17h). De 3/7 a 5/7.
Quanto: R$ 50,00 a R$ 150,00.

Ficha técnica:
Texto: Ken Ludwin
Músicas: George Gershwin
Letras: Ira Gershwin
Versão brasileira: Miguel Falabella
Direção: José Possi Neto
Direção musical e vocal: Marconi Araújo
Com: Claudia Raia, Jarbas Homem de Mello, Marcos Tumura, Liane Maya, Rodrigo Miallaret Hellen de Castro, Rodrigo Negrini, Alessandra Peixoto, Andrezza Meddeiros, Carla Vazquez, Daniel Cabral, Eduardo Martinz, Elcio Bonazzi, Jefferson Ferreira, João Sá, Mariana Barros, Mariana Gallindo, Mariana Matavelli, Marilice Cosenza, Mateus Ribeiro, Matheus Paiva, Nina Sato, Patrick Amstalden, Paulo Benevides, Raquel Quarterone e Rogerio Guedes
Coreografias originais: Susan Stroman
Cenografia: Duda Arruk
Supervisor de coreografia: Jeff Whiting
Direção de coreografia: Angelique Ilo
Figurino: Fabio Namatame
Design de luz: Wagner Freire
Design de som: Tocko Michelazzo
Visagismo: Feliciano San Roman e Henique Mello
Supervisora de sapateado: Chris Matallo
Diretora residente: Vanessa Guillén
Produtores associados: Claudia Raia e Sandro Chaim
Produção geral: Sandro Chaim
Realização: Ministério da Cultura, Coarte, Raia Produções e Chaim XYZ Produções

Jornalista e mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Desenvolve pesquisa em torno do tema curadoria em festivais de artes cênicas. É a repórter responsável pelo setor de artes cênicas do Jornal do Comércio, em Porto Alegre (desde 2010). Participou dos júris do Prêmio Açorianos de Teatro, do Troféu Tibicuera de Teatro Infantil (ambos da Prefeitura de Porto Alegre) e do Prêmio Braskem em Cena no festival internacional Porto Alegre Em Cena. É crítica e coeditora do site nacional Agora Crítica Teatral e membro da Associação Internacional de Críticos de Teatro, AICT-IACT (www.aict-iatc.org), filiada à Unesco). Por seu trabalho profissional e sua atuação jornalística, foi agraciada com o Prêmio Açorianos de Dança (2015), categoria mídia, da Secretaria de Cultura da Prefeitura de Porto Alegre (2014), e Prêmio Ari de Jornalismo, categoria reportagem cultural, da Associação Rio Grandense de Imprensa (2010, 2011, 2014).

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