Menu

Reportagem

Bruce Gomlevsky persegue texto de qualidade

22.9.2014  |  por Daniel Schenker

Foto de capa: Thiago Ristow

Bruce Gomlevsky vem se destacando em meio ao panorama teatral brasileiro através da realização de espetáculos concebidos a partir de dramaturgia consistente, seja clássica ou contemporânea. Ator, Bruce também abraçou a função de diretor há alguns anos, tarefa que tem exercido dentro e fora de sua companhia, a Teatro Esplendor, fundada em 2008. Com o grupo conduziu encenações de Volta ao Lar, de Harold Pinter, O Homem Travesseiro, de Martin McDonagh, Festa de Família, de Thomas Vinterberg, Mogens Rukov e Bo Hr. Hansen, e O Funeral, de Vinterberg e Rukov.

“Busco peças que vão fundo na condição humana. A questão não é caminhar na contramão, mas falar sobre o que sinto necessidade. Acho que a dramaturgia ainda é um bom ponto de partida, mesmo se o objetivo for desconstruí-la”, observa Bruce, que, agora, apresenta, através de montagem feita fora da companhia, mais um texto cultuado: BlackBird, do conceituado dramaturgo escocês David Harrower. A estreia está marcada para hoje, no Teatro Glaucio Gill, no Rio de Janeiro.

A peça chegou às mãos de Bruce em 2009, durante a temporada de Festa de Família em São Paulo. “Recebi o texto de uma amiga, a atriz Teresa Fournier. Li e adorei. Tentei comprar os direitos. Mas, naquela época, BlackBird já estava sendo montada em São Paulo. O tempo passou e pensei em retomar a peça. Percebia conexões com os demais textos do repertório da companhia. Tentei novamente comprar os direitos e descobri que estavam com Viviani Rayes. Entrei em contato há cerca de cinco meses e ela me disse que tinha diretor para a montagem. Tempos depois, me ligou avisando que o diretor havia saído do projeto e me convidando para assumi-lo”, relata Bruce.

BlackBird coloca o público diante do acerto de contas entre um homem e uma mulher. Eles viveram uma história de amor polêmica quando ela tinha 12 anos e ele, 40 e se reencontram 15 anos depois. “A relação pode ser considerada, de certa maneira, como um caso de abuso. Mas se apaixonaram sinceramente”, sublinha Bruce. Harrower se inspirou num acontecimento real de pedofilia ocorrido em 2003 entre um ex-fuzileiro naval norte-americano e uma britânica. “O autor leu essa história no jornal. Entretanto, não firmou compromisso de fidelidade com o fato”, pondera Bruce, acerca da peça que vem rendendo elogiados espetáculos mundo afora e atraindo encenadores renomados como Peter Stein.

Produzida pelos atores Viviani Rayes e Yashar Zambuzzi, essa nova montagem de BlackBird evidencia a determinação em evitar qualquer excesso. Bruce Gomlevsky investe na dramaturgia e no trabalho do elenco (além de Viviani e Zambuzzi, Lorena Comparato interpreta a enteada do personagem de Zambuzzi). O vínculo de Bruce com uma dramaturgia de peso é confirmado por seus próximos projetos. No dia 9 de outubro, estreará, no Teatro Maison de France, sua montagem de Timon de Atenas, de William Shakespeare, que traz na equipe a crítica de teatro Barbara Heliodora como orientadora teórica e dramatúrgica. Em 13 de novembro, Bruce dará continuidade às temporadas de Festa de Família e O Funeral, que voltarão a ser mostradas conjuntamente – dessa vez, no Teatro Poeirinha. Como ator, planeja fazer o monólogo Uma Ilíada, de Denis O’Hare (baseado em Ilíada, de Homero), sob a direção de Stephane Brodt, e Hamlet, de Shakespeare, em encenação de Mauro Mendonça Filho.

Serviço:
Onde: Teatro Glaucio Gill (Rua Barata Ribeiro, 204, Rio, tel. 21 2332-7904.
Quando: Sábado a segunda-feira, às 20h. Até 13/10.
Quanto: R$ 30.

.:. Texto escrito originalmente em O Estado de S.Paulo, Caderno 2, p. C5, em 7/9/2014. O blog do Daniel Schenker pode ser acompanhado aqui.

Ficha técnica:
Texto: David Harrower
Tradução: Alexandre J. Negreiros
Direção: Bruce Gomlevsky
Com: Viviani Rayes, Yashar Zambuzzi e Lorena Comparato
Direção de produção: Viviani Rayes
Produção executiva: Yashar Zambuzzi
Coordenação de produção: Rafael Fleury
Cenário: Pati Faedo
Figurinos: Ticiana Passos
Iluminação: Elisa Tandeta
Trilha original: Marcelo Alonso Neves
Assistência de direção: Francisco Hashiguchi
Assistente de produção: Antônio Barboza

Bacharel em Comunicação Social pela Faculdade da Cidade. É doutor em artes cênicas pelo Programa de Pós Graduação em Artes Cênicas da UniRio. Trabalha como colaborador dos jornais O Globo e O Estado de S.Paulo e das revistas Preview e Revista de Cinema. Escreve para os sites Questão de Crítica (questaodecritica.com.br), Críticos (criticos.com.br) e para o blog danielschenker.wordpress.com. Membro do júri dos prêmios da Associação de Produtores de Teatro do Rio de Janeiro (APTR), Cesgranrio e Questão de Crítica.

Relacionados

‘De mãos dadas com minha irmã’, direção de Aysha Nascimento e direção artística e dramaturgia de Lucelia Sergio [em cena, Lucelia Sergio ao lado de dançarinas Jazu Weda e Brenda Regio]