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Reportagem

Visualidade e tensão política movem 2ª MITsp

19.12.2014  |  por Valmir Santos

Foto de capa: Gadi Dagon

Visualidade manifesta, sobretudo na interseção com vídeo e cinema. Zonas de conflitos étnico ou político nos conteúdos, sintomas israelenses e palestinos, russos e ucranianos. E releituras de clássicos, leia-se desconstrução. Esses elementos agrupam alguns dos dez espetáculos (oito inéditos no país) confirmados até agora para a segunda edição da Mostra Internacional de Teatro, a MITsp. Ausentes na programação de 2014, Rússia e Alemanha, de tradição secular nas artes cênicas, terão três obras no evento que acontece de 6 a 15 de março em São Paulo.

Relacionamos as criações a serem detalhadas mais adiante, vindas então da Rússia, Ucrânia, Alemanha, Holanda, Inglaterra, Itália e Israel, além do Brasil.

Opus nº 7 (Rússia), texto e direção de Dmitry Krymov, com Laboratory at Moscow Theatre School of Dramatic Art;

Senhorita Julia (Alemanha), peça de August Strindberg dirigida pelos ingleses Katie Mitchell e Leo Warner, uma produção da companhia alemã Schaubühne;

Canção de muito longe (Holanda), dramaturgia do inglês Simon Stephens e direção do holandês Ivo van Hove, com o Toneelgroep Amsterdam (TA) em coprodução com a MITsp na estreia mundial;

A gaivota (Rússia), de Anton Tchekhov e direção de Yury Butusov, com o Theatre ‘Satiricon’ named after A.Raykin;

As irmãs Macaluso (Itália), dramaturgia e direção de Emma Dante, com a Compagnia Sud Costa Occidentale;

Stifters dinge (Suíça), inspirado na obra do austríaco Adalbert Stifter, dirigido pelo alemão Heiner Goebbels, com o Theatre de Vidy-Lausanne;

Arquivo (Israel), com autoria, direção e atuação do coreógrafo Arkadi Zaides, de origem russa e radicado em Israel.

Woyzeck (Ucrânia), de Georg Büchner, direção do ucraniano Andriy Zholdak, com a sua companhia Svoboda Zholdak Theatre, trabalho dos mais cotados para a abertura da mostra;

E se elas fossem para Moscou? (Brasil), baseado em As três irmãs, de Anton Tchekhov, direção de Christiane Jatahy, com Cia. Vértice (RJ)

Julia (Brasil), de August Strindberg, direção de Christiane Jatahy, com Cia. Vértice (RJ)

Sob a perspectiva do público, a principal mudança é que os ingressos não serão mais gratuitos (exceto apresentações da obra israelense). A organização decidiu praticar preços definidos como populares: inteira R$ 20 e meia-entrada, R$ 10.

De acordo com o diretor geral de produção e coidealizador da MITsp, Guilherme Marques, a intenção é equalizar a demanda que a gratuidade gerou durante os nove dias de março de 2014 (no ano que vem serão dez), transformando as longas filas, paradoxalmente, no principal alvo de reclamações. A organização diz ter atraído 14 mil espectadores ante a projeção otimista de 25 mil em 2015, somando-se espetáculos e atividades formativas e reflexivas.

Marques anunciou ainda a implantação da venda on-line de ingressos, assegurando ao público de outras cidades e estados a chance de conferir a programação. Planeja-se reservar cota de 20% para aquisição somente poucas horas antes da sessão.

Ainda no quesito números, cada obra terá de três a seis apresentações. Por enquanto, estão definidos oito espaços, inclusive alinhavando teatros distritais das zonas leste (Flávio Império, no Cangaíba) e zona norte (Adolfo Mesquita, Santana). Além do avanço geográfico e do aumento de récitas, espera-se agregar, até janeiro, duas ou três obras latino-americanas. Se o teto chegar a 13 peças, ultrapassaria as 11 da primeira edição. Isso vai depender de recursos. O orçamento ronda R$ 4 milhões e a captação está na casa dos R$ 3,3 milhões.

Curadoria

Em conversa com a imprensa na noite de quarta-feira (17/12), num auditório do Itaú Cultural, ao lado de Marques e do responsável pelas relações institucionais, Rafael Steinhauser, o diretor artístico da MITsp, Antônio Araújo, reafirmou a convicção de trazer obras afeitas ao teatro de pesquisa e radicais em suas proposições expansivas da arte. Preza a escala menor da mostra, se comparada a festivais internacionais como os de Bogotá, bienal, e o de Santiago, anual, que arregimentam dezenas de trabalhos e valorizam a representatividade geopolítica. Como contraponto a tais modelos, lembra o “tamanho mais humano” do festival alemão Theatertreffen (encontro de teatro), que concentra o melhor da produção do país em poucos dias.

Araújo espera “permitir que o público perpasse todos os espetáculos da programação”, notando como determinada obra pode ressoar noutra. Para tanto, os eixos pedagógico e reflexivo são tão fundamentais quanto a cena, instaurando trocas efetivas entre espectadores, criadores brasileiros e estrangeiros. O contato vivo na confrontação de praticas e linguagens.

Premido pelos poucos meses que antecederam a confirmação de recursos para a curadoria inaugural, dessa vez o coidealizador da MITsp desfrutou de tempo hábil para compor uma linha curatorial menos condicionada à disponibilidade de agenda dos convidados, principalmente os europeus, prospectados com antecedência – alguns já eram dados como confirmados antes da abertura passada.

O encenador do Teatro da Vertigem diz que define os espetáculos em consequência do encontro ao vivo com os mesmos. Afirmação elementar, mas contrasta a realidade da maioria dos programadores pautada pelos registros em vídeo. Não teria assistido presencialmente somente ao Woyzeck ucraniano de Zholdak. E estará no festival Santiago a Mil em janeiro para apresentar Patronato com seu grupo, versão local de Bom Retiro 958 metros (2012), ocasião em que poderá ver espetáculos do continente latino. Foi assim que pinçou Escuela, do chileno Guillermo Calderón, e Bem-vindo a casa, do uruguaio Roberto Suárez, confirmados a cerca de dois meses do início da primeira edição.

Perguntado se cogitou alguma criação para o espaço público, Araújo diz que sim, mas não teria encontrado obras relevantes que dialogassem com os conceitos articulados para 2015. Argumenta, portanto, que a ausência de apresentações ao ar livre não se trata de posição deliberada, bem como a preponderância de encenadores em detrimento do teatro de grupo, motivo pelo qual afirma ter sido “atacado” pelos pares e pela crítica. “Não é um festival com cota”, diz.

O curador destaca a primeira coprodução da mostra, o que implica riscos: a estreia mundial de Canção de muito longe, direção do holandês Ivo van Hove, do Toneelgroep Amsterdam (TA). Estagiários brasileiros acompanharão a finalização do processo na capital paulista. No palco, um ator acompanhado por um músico é um jovem banqueiro de volta à cidade onde nasceu para enterrar o irmão que não conheceu e a quem escreveu cartas na tentativa de estabelecer contato. Palavras que agora reaviva nostálgico e destemido.

A Rússia exerce forte ascendência sobre a edição que virá, quer pelas mãos de Anton Tchekhov (1860-1904), com as releituras de A gaivota e As três irmãs, por criadores de Moscou e do Rio de Janeiro, quer pela introdução de encenadores expoentes das últimas gerações no país.

Filho do diretor teatral Anatoly Efros (1925-1987) e da crítica e historiadora Natalya Krymova (1930-2003), o diretor e cenógrafo Dmitry Krymov traz Opus nº 7, misto de show, peça e performance visual dividida em duas parte apresentadas na mesma noite. Numa, a tragédia envolvendo judeus durante a 2ª Guerra Mundial. Noutro, o destino do célebre compositor Dmitri Shostakovich (1906-1975), constantemente envolvido em polêmicas junto às autoridades da era stalinista.

'Opus nº 7', do diretor russo  Dmitry KrymovNatalia Cheban

‘Opus nº 7’, do diretor russo Dmitry Krymov

Yury Butusov traz uma visão iconoclasta de A gaivota, colocando-a de “pernas pro ar”, na percepção de Araújo. O próprio diretor está inserido na cena. Algumas sequências são intencionalmente repetidas para borrar temporalidades e espacialidades. De qualquer modo é um clássico, com texto e muitas rupturas que exigem redobrada atenção do espectador brasileiro, na visão do curador, para a travessia de quase cinco horas. Trechos em vídeo remetem à inventiva apropriação que Enrique Diaz e Cia. dos Atores fizeram em 2006, na esteira de Ensaio.Hamlet, do Tchekhov que coloca o teatro e os artistas na berlinda.

Araújo antevê, em tom de brincadeira, “ser massacrado pela classe teatral paulistana” por causa de uma das duas obras da Alemanha. Em Stifters dinge, o diretor e compositor de peças radiofônicas Heiner Goebbel abdica de atores e de enredo para montar sua instalação cênica e sonora fundada nos desenhos de luz, de imagens, de sonoridades extraídas de pianos (que ninguém toca), vozes, vento, água e gelo. A mostra pretende que esse trabalho de difícil classificação possa ser visitado inclusive fora dos horários de apresentação.

O sistema visual é imperativo também em Senhorita Julia, de Strindberg, segunda produção alemã. Sob chancela da prestigiada companhia e teatro Schaubühne, de Berlim, tem direção dos britânicos Katie Mitchell e Leo Warner. Mitchell é conhecida por manejar imagens em cena, superpondo ou saturando conteúdos gravados ou ao vivo, tendo passagens significativas pelo National Theatre e pela Royal Court Theatre. Warner é um ás da edição de cinema. É sob essa ótica que ambos visitam Strindberg, projeto a ser cotejado com Julia, versão do mesmo texto pela encenadora carioca Christiane Jatahy, da Cia. Vértice. Ou seja, duas mulheres, Katie Mitchell e Christiane Jatahy, debruçadas sobre dramaturgia em que a questão do feminino está em jogo. Jatahy também concebe As três irmãs de modo peculiar em E se elas fossem para Moscou?, completando a dobradinha da Vértice, única representante brasileira na programação.

A contundência política tem lugar em Arquivo, autoria, direção e atuação do coreógrafo Arkadi Zaides, de origem russa e radicado em Israel. Ele dança com as imagens projetadas num telão ao fundo. Controle-remoto em mãos, pausa, mimetiza e descodifica corporeidades avançando em ações e movimentos, “hipertextos” dialógicos com material documentado por voluntários palestinos do Projeto Câmera de B’Tselem, o Centro de Informações Israelense pelos Direitos Humanos nos Territórios Ocupados. Artista independente, Zaides já trabalhou em colaboração com o colega brasileiro Cristian Duarte (SP).

Não menos signatário da arte visual é o Woyzeck do ucraniano Andriy Zholdak, com mais de 30 integrantes. Os personagens e situações do drama de Büchner são evocados com os atuadores numa caixa de vidro, espécie de aquário que transparece as vicissitudes do protagonista-título e de sua mulher, miseráveis em um ambiente militar e hospitalar que não ficam atrás em suas amoralidades. A criação opera anarquicamente as dicotomias pobre/rico, servo/senhor, animais/deuses, entre outras perversões.

A conjunção de peças russas e ucranianas é propícia a pensar a tensão entre os dois países pela disputa do território da Crimeia, o que deixou em polvorosa os respectivos povos e a segurança mundial em meados deste ano. Em visita técnica a São Paulo, semanas atrás, Zholdak já topou participar de debate afins com seus pares russos, inclusive acenou com uma performance do próprio, no interior de uma caixa, a partir dos seus “escritos sobre o futuro”, tangenciando a arte do teatro.

Por fim, a representante italiana desenvolve estética oposta à do compatriota Romeo Castellucci que abriu a primeira edição com uma subversão litúrgica de rigorosa síntese formal, Sobre o conceito de rosto no filho de Deus. Em As irmãs Macaluso, a atriz, dramaturga, romancista e encenadora Emma Dante revolve a memória familiar de sete irmãs, expondo lados solares e macabros com o elenco da Compagnia Sud Costa Occidentale.

Os organizadores da MITsp prevêem disponibilizar a partir de sexta-feira (19/12) a atualização do site com a programação consolidada até agora – acesse aqui. As informações completas, com as obras latino-americanas remanescentes, ou não, inclusive com as atividades pedagógicas conduzidas pelo holandês Ivo van Hove e pelo alemão Heiner Goebbels, entre outros, tudo isso deve vir a público em 15 de janeiro. A venda on-line de ingressos acontece a partir de 5 de fevereiro.

Relações institucionais da mostra, Rafael Steinhauser observa a “reincidência dos parceiros”, alinhamento raro de realizadores privados e públicos, independente das cores partidárias. A 2ª MITsp é apresentada pelo Itaú Unibanco e feita em parceria com o Itaú Cultural. São correalizadores o Sesc São Paulo, a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo e o Centro Internacional de Teatro Ecum – CIT Ecum, por meio de financiamento de leis estadual e federal de cultura e do Fundo Nacional de Cultura.

As dez obras confirmadas

A gaivota (Rússia)Ekaterina Tsvetkova

A gaivota, direção de Yury Butusov (Rússia)

A obra de Tchekhov, mostra os conflitos de um grupo numa propriedade rural da Rússia no fim do século 19. Numa tarde de verão, o jovem artista Treplev apresenta uma peça protagonizada por Nina, atriz por quem está apaixonado. As opiniões dos convidados sobre a obra divergem e a mãe de Treplev, atriz renomada, desencoraja-o a criar novas formas artísticas. Logo, Nina decide ir à Moscou atrás de fama e de um célebre romancista, Trigorin.

Arquivo (Israel)Gadi Dagon

Arquivo, concepção, coreografia e atuação de Arkadi Zaides (Israel)

O olhar de um palestino. Que tipo de corpo produz uma sociedade repleta de violência na vida cotidiana? Para abordar essa questão, o coreógrafo israelense Arkadi Zaides empresta o olhar que os palestinos lançam sobre os colonos nos territórios ocupados e transforma seu próprio corpo em arquivo.A coreografia baseia-seem imagens filmadas por voluntários palestinos do Projeto Câmera de B’Tselem (o Centro de Informações Israelense pelos Direitos Humanos nos Territórios Ocupados), que documentaram suas vidas em áreas de conflito.

As irmãs Macaluso (Itália)Carmine Marigola

As irmãs Macaluso, direção de Emma Dante (Itália)

História de uma família formada por sete irmãs, Gina, Cetty, Maria, Katia, Lia, Pinuccia e Antonella, e encenada como uma espécie de cortejo macabro, que reevoca acontecimentos passados no núcleo familiar, recorrendo a memórias, sonhos, choros, risos, sacrifícios e revelações do que impedem uns e outros de avançar. Vida e morte mescladas inextricavelmente.

Canção de muito longe (Holanda)Jan Versweyveld

Canção de muito longe, direção de Ivo van Hove (Holanda)

Um jovem banqueiro (Eelco Smits) retorna de Nova York para sua cidade natal, Amsterdã, para assistir ao funeral do irmão mais novo. Ele lê uma série de cartas em vários tons – nostálgico, desafiante e desinibido – que havia escrito na tentativa de reconquistar o contato com o irmão que nunca realmente conheceu. O monólogo acompanhado por um músico é um processo de luto pelo qual o jovem banqueiro mergulha na sua angústia para redescobrir a esperança e o otimismo.

E se elas fossem para moscou? (Brasil)Marcelo Lipiani

E se elas fossem para Moscou?, direção e roteiro de Christiane Jatahy (Brasil)

E se Moscou pudesse ser o que quiséssemos imaginar? Se Moscou fosse o passo em direção à mudança? Fosse o salto no abismo que nos leva ao novo? Fosse de alguma forma nascer de novo?A partir do texto As três irmãs, de Anton Tchekhov, a obra faz essas perguntas e as leva para o teatro, para o cinema e para as cidades, desdobrando-as em múltiplos olhares e pontos de vista. Camadas e mais camadas para falar sobre a utopia. É uma peça, mas também um filme. Dois espaços diferentes entrelaçados. Um é a utopia do outro, mas cada um é completo em si. No teatro, filmamos, editamos e mixamos ao vivo o que se vê no cinema no mesmo instante. Simultaneamente as duas artes coexistem. E o público escolhe de qual ponto de vista quer ver essa história sobre três mulheres de hoje, três irmãs em diferentes fases da vida desejando a mudança.

Julia (Brasil)Marcelo Lipiani

Julia, direção de Christiane Jatahy (Brasil)

Adaptação da peça Senhorita Julia, de August Strindberg, dá seguimento à pesquisa da diretora. O teatro se faz cinema e as estruturas cinematográficas são expostas. Com cenas pré-gravadas e outras filmadas ao vivo, o filme será construído na presença do público a cada dia. Uma fricção permanente entre o clássico e o contemporâneo. Entre o que pode ser visto e o que só pode ser entrevisto na presença real do ator em cena e no enquadramento dos detalhes do cinema. O texto de Strindberg se mantém presente, atualizado pelo olhar da câmera e pela adaptação da trama criada no século 19, trazendo à cena questões sociais e políticas sobre o Brasil de hoje.

Opus nº 7 (Rússia)Natalia Cheban

Opus nº 7, direção de Dmitry Krymov (Rússia)

Numa encenação de proporções operísticas, com bonecos imensos, pianos em duelo e rápidas transformações de cenário, mas usando materiais simples, o espetáculo revisita o legado de perseguição aos judeus soviéticos no século 20 e a opressão sob o regime de Stálin. A primeira parte, Genealogia, traça um retrato do Holocausto; a segunda, Shostakovich, trata da censura sofrida pelo compositor russo Dmitri Shostakovich.

Senhorita Julia (Alemanha/Inglaterra)Thomas Aurin

Senhorita Julia, direção de Katie Mitchell e Leo Warner (Alemanha/Inglaterra)

Na peça de August Strindberg, a aristocrática Julia envolve-se com o servo Jean na cozinha do solar, apesar da presença de Cristina, a noiva dele. Após consumarem o ato sexual, os papéis entre Julia e Jean invertem-se e ele, o mais forte, convence-a a roubar dinheiro do pai. Na perspectiva cinematográfica forjada pela diretora Katie Mitchell com o teatro Schaubühne para o clássico de 1887, o ponto de vista narrativo altera-se, dando voz a Cristina. Mitchell e o codiretor Leo Warner, seu colaborador regular, reinventam o drama clássico com uma encenação multimídia, na qual convergem performance teatral, efeitos sonoros e filmagem ao vivo.

Stifters dinge (Alemanha)Mario del Curto

Stifters dinge, de Heiner Goebbels (Alemanha)

O espetáculo é uma instalação sonora e imagética que experimenta o cruzamento das artes visuais com a música erudita contemporânea. Uma composição para cinco pianos sem pianista, uma peça sem atores, uma performance sem performers. Inspirado na obra do artista austríaco Adalbert Stifter (1805-1868).

Woyzeck (Ucrânia)Vladmir Lupovskoy

Woyzeck, direção de Andriy Zholdak (Ucrânia)

Woyzeck e Maria em um aquário ou escapando para o espaço sideral? De qualquer forma, isso requer consideravelmente capacetes de proteção. Quem pode nos livrar desse corredor de espelhos narcisista? Quem pode cortar os tubos aos quais estamos presos? Woyzeck, de Zholdak, expõe a humanidade como se fosse uma exibição em uma caixa de vidro cinematoscópica e então lança um olhar totalmente teatral e onírico à condição do ser, apanhado entre homem e mulher, pobres e ricos, servo e senhor, conduta e moral, animais e deuses: uma enciclopédia surreal, anarquista e perversamente divertida da vida e da arte, da qual ninguém pode escapar. Naturalmente, há um coiote também.

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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