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Reportagem

Espaços de Porto Alegre recebem ‘site-specific’

5.4.2015  |  por Michele Rolim

Foto de capa: Gabriel Dienstemann e Natália Utz

Com uma programação voltada a espetáculos que são fortemente afetados pelo espaço, começa o Festival de Teatro de Rua de Porto Alegre a partir deste domingo (5/4) e se estende até o dia 15 de abril. Em sua sétima edição, o coordenador e diretor artístico do evento, Alexandre Vargas, compartilha a curadoria com Marcelo Bones. “Montamos a programação em cima das produções que foram desenvolvidas em sítios específicos”, comenta Vargas.

O termo sítio específico ou site-specific se refere às obras criadas de acordo com o ambiente, transformando ou incorporando o espaço à obra. Para o coordenador, trata-se de uma tendência da produção contemporânea esta volta para o espaço. É o caso do espetáculo de abertura, o festival Lombay – uma fábula urbana, do Coletivo Das Flor. A montagem se inspira no bairro da Capital Lomba do Pinheiro, local onde acontece a peça. Na encenação, o espectador presenciará a inauguração do município e vivenciará um cortejo, repleto de memórias e do cotidiano das pessoas que habitam o local.

Outros grupos gaúchos que acompanham essa tendência também integram a mostra, caso de O mapa, do Teatro Geográfico, que ocorre no complexo Vila Flores, e do Projeto Ecopoética, dos performers Marina Mendo e Rossendo Rodrigues, com apresentações no Arroio Dilúvio.

“A produção do teatro de rua no Rio Grande do Sul cresce 20% a cada ano e, atualmente, circula nos maiores festivais do Brasil, eles foram efetivamente afetados pelo festival”, diz Vargas, que também se refere aos grupos que saíram exclusivamente das salas e foram às ruas. É o caso da Cia. Rústica, que já apresentou no evento Desvio em trânsito e a intervenção urbana Cidade proibida. Este ano, o grupo realiza a única estreia do festival, Feito criança, com coreografias desenvolvidas a partir da observação e reinvenção dos movimentos de dança infantil.

Para o curador, no Brasil, ainda se tem uma ideia de teatro de rua convencional, ao mesmo tempo que grupos desenvolvem outros tipos de trabalho. “O teatro de rua não é filantropia, é uma opção. Uma produção na rua pode ser mais cara que uma na sala. As manifestações cênicas de rua vêm crescendo muito no País, elas chegam a mais lugares, já que, no Brasil, temos apenas 4% dos municípios com salas de teatro”, relata Vargas.

Nesta edição, são 17 espetáculos gaúchos, três de outros estados (Santa Catarina, Minas Gerais e São Paulo) e dois internacionais. Ao total, serão 76 apresentações de 22 grupos, em 17 regiões da cidade, atingindo 27 bairros. O custo do festival, projetado em R$ 1,7 milhão, ficou em R$ 800 mil. Os destaques ficam por conta dos grupos franceses Cie. L’Homme Debout, com Vénus, e Cie. Kumulus, com Silêncio ensurdecedor.

Peça do catarinense De Pernas Pro Ar, 27 anos e homenageadoFlávia Correia

Peça do grupo catarinense De Pernas Pro Ar, 27 anos

O homenageado desta edição é De Pernas Pro Ar, grupo de teatro de Canoas, com 27 anos de trajetória. Para Vargas, o espetáculo Automákina – universo deslizante – que volta a esta edição – representa um marco no teatro de rua brasileiro. “É um grupo que soube se atualizar. Ele consegue produzir, circular e não se aprisionar por uma baixa produção”, afirma Vargas.

Além dos espetáculos, há atividades formativas com nomes como Matteo Bonfitto e André Carreira. Também ocorre a “Rodada de Negócios”, que permite aos grupos apresentarem seus projetos a curadores de outros lugares. O festival, nesta edição, inicia o processo de planejamento de uma coprodução Brasil/França.

Para o próximo ano, as atrações internacionais devem ser La Fura com o espetáculo M.U.R.S. (Espanha); Theater Tol com À vélo vers le ciel (Bélgica); e Teatro Del Silêncio com a peça Doctor Depertutto (Chile). A programação completa está no site, aqui.

.:. Publicado originalmente no Jornal do Comercio, caderno Viver, capa, em 2/4/2015.

Jornalista e mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Desenvolve pesquisa em torno do tema curadoria em festivais de artes cênicas. É a repórter responsável pelo setor de artes cênicas do Jornal do Comércio, em Porto Alegre (desde 2010). Participou dos júris do Prêmio Açorianos de Teatro, do Troféu Tibicuera de Teatro Infantil (ambos da Prefeitura de Porto Alegre) e do Prêmio Braskem em Cena no festival internacional Porto Alegre Em Cena. É crítica e coeditora do site nacional Agora Crítica Teatral e membro da Associação Internacional de Críticos de Teatro, AICT-IACT (www.aict-iatc.org), filiada à Unesco). Por seu trabalho profissional e sua atuação jornalística, foi agraciada com o Prêmio Açorianos de Dança (2015), categoria mídia, da Secretaria de Cultura da Prefeitura de Porto Alegre (2014), e Prêmio Ari de Jornalismo, categoria reportagem cultural, da Associação Rio Grandense de Imprensa (2010, 2011, 2014).

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