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Reportagem

Umberto Magnani e Ana Rosa, ‘Elza e Fred’

28.8.2015  |  por Michele Rolim

Foto de capa: Leonardo Pergaminho

As relações amorosas na terceira idade ainda são um tema pouco recorrente no cinema e no teatro, mas, aos poucos, vêm ganhando espaço. O filme argentino Elsa & Fred (2005) – que inclusive ganhou uma versão hollywoodiana – caiu nas graças do público. Baseada no filme argentino, chega a Porto Alegre a peça Elza e Fred – o amor não tem idade, com direção do versátil Elias Andreato. As apresentações ocorrem neste fim de semana, até domingo, 30/8, no Theatro São Pedro.

A dramaturgia é assinada pelos roteiristas do filme argentino, Marcos Carnevale, Lily Ann Martín e Marcela Geraghty, com tradução de Rodrigo Paz. Foram feitas algumas adaptações para o teatro, como o fato de a peça terminar antes da morte de Elza e personagens não serem octogenários. “Vivemos em uma sociedade em que, na maior parte das vezes, idosos não são valorizados. Quando se fala em terceira idade, não pensamos na sexualidade, neste aspecto amoroso”, pontua o diretor, observando que a população de pessoas acima de 60 anos tem aumentado no Brasil.

No processo de ensaio para ajudar na construção dos personagens, Andreato falava muito para os atores sobre sua mãe, que frequentava bailes da terceira idade. “Ela sempre arrumava namorados, eu achava fascinante. Tinha outro irmão que não gostava disso, mas eu dizia que ela estava certa”, comenta o diretor. Na peça, assim como no filme, há dois irmãos que divergem sobre o relacionamento da mãe. “Atualmente, minha mãe tem 89 anos, e ela diz que aproveitou a vida. Não podemos nos privar de nada pelo julgamento do outro, e essa é a mensagem da história”, relata ele.

é uma geração que se dedicou ao teatro, a televisão era uma consequência. Hoje, os atores querem ir direto para a televisão pela lógica do sucesso

Andreato, 60 anos, também é conhecido por atuar e dirigir ícones do teatro brasileiro como Paulo Autran, Cassio Scapin, Celso Frateschi e Ilana Kaplan. Nesta montagem não é diferente: ele dirige Ana Rosa, 73 anos, como Elza (que substituiu Suely Franco) e Umberto Magnani, 74 anos, no papel de Fred. “Essa geração de atores está acabando, é uma geração que se dedicou ao teatro, a televisão era uma consequência. Hoje, os atores querem ir direto para a televisão pela lógica do sucesso imediato e pelo dinheiro”, afirma ele, que esteve em Porto Alegre em 2013 assinando a direção da peça Camille e Rodin – que contava a conturbada relação do casal de escultores protagonizados pelos atores Melissa Vettore e Leopoldo Pacheco.

Em Elza e Fred, após perder sua esposa, com quem foi casado por 48 anos, Alfredo se muda para um prédio onde mora a extrovertida Elza, que decide mostrar a ele que ainda há muitas coisas a serem vividas. Os dois são opostos um do outro. Enquanto ela sonha em encontrar um amor para refazer a cena clássica entre Anita Ekberg e Marcello Mastroianni na Fontana di Trevi, em Roma, de A doce vida, de Federico Felinni, ele quer sossego.

Umberto Magnani e um dos atores da peçaLeonardo Pergaminho

Umberto Magnani e um dos atores da peça

“Elza e eu temos muita coisa em comum: estamos na terceira idade, temos vivacidade, somos ativas, moramos sozinhas e temos uma certa inquietação”, conta Ana Rosa, oriunda de uma família circense e conhecida por ser uma grande intérprete. Ela estreou aos 22 anos na televisão interpretando a cigana Esmeralda na TV Tupi e, em 1997, entrou para o Guinness Book como a atriz que mais fez novelas no mundo. No teatro, viajou pelo Brasil afora com a peça espírita Violetas na janela – que pretende voltar em breve em cartaz.

O diretor garante que a peça, apesar de atrair um público mais velho, também agrada os jovens. “O público jovem se diverte muito, como a Elza é uma personagem transgressora, ela propõe que se quebrem muitas regras nessas relações, o público jovem se identifica muito”. E completa: “Se fizéssemos uma peça apenas sobre a condição da velhice teríamos muita pouca gente interessada, então fizemos algo mais leve com bastante humor”, comenta. Depois da estreia em Porto Alegre, a peça segue para Novo Hamburgo (1 e 2 de setembro), Camaquã (dia 3), Sapiranga (dia 4), Caxias do Sul (dia 5) e Bento Gonçalves (dia 6).

.:. Publicado originalmente no Jornal do Comércio, caderno Panorama, p. 1, em 27/8/2015.

Serviço:
Onde: Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/n°, Centro, Porto Alegre, tel. 51 3227-5100)
Quando: Sexta, às 21h; sábado, às 20h; e domingo, às 18h. De 27 a 30/8.
Quanto: R$ 30 a R$ 100.

Texto: Marcos Carnevale e Marcela Guerty
Tradução: Rodrigo Paz
Direção: Elias Andreato
Composição e Execução ao Vivo da Trilha Sonora: Jonatan Harold
Com: Ana Rosa, Umberto Magnani, Isadora Ferrite, Igor Dib, Luciano Schwab, Fernando Petelinkar, David Geraldi, David Leroy e Ando Camargo
Cenários e adereços: Fábio Namatame
Figurinos: Fábio Namatame
Iluminação: Wagner Freire
Diretor de Produção: Charles José Belini Geraldi

Jornalista e mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Desenvolve pesquisa em torno do tema curadoria em festivais de artes cênicas. É a repórter responsável pelo setor de artes cênicas do Jornal do Comércio, em Porto Alegre (desde 2010). Participou dos júris do Prêmio Açorianos de Teatro, do Troféu Tibicuera de Teatro Infantil (ambos da Prefeitura de Porto Alegre) e do Prêmio Braskem em Cena no festival internacional Porto Alegre Em Cena. É crítica e coeditora do site nacional Agora Crítica Teatral e membro da Associação Internacional de Críticos de Teatro, AICT-IACT (www.aict-iatc.org), filiada à Unesco). Por seu trabalho profissional e sua atuação jornalística, foi agraciada com o Prêmio Açorianos de Dança (2015), categoria mídia, da Secretaria de Cultura da Prefeitura de Porto Alegre (2014), e Prêmio Ari de Jornalismo, categoria reportagem cultural, da Associação Rio Grandense de Imprensa (2010, 2011, 2014).

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