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Reportagem

Guaíra retoma ópera

19.11.2015  |  por Helena Carnieri

Foto de capa: Humberto Araujo

Mesmo sem recursos, o Teatro Guaíra timidamente volta à produção de ópera, gênero em que já foi um expoente. O Guairinha sedia de 20 a 22 de novembro um minifestival com quatro produções, sendo uma da casa (La serva padrona).

A idealização do evento é da Guairacá Cultural, de Gehad Hajar, e traz duas obras paranaenses.

A abertura será feita pela maior das produções nesta sexta-feira (20). Marumby estreou na Capela Santa Maria em agosto após a recuperação das partituras originais do compositor curitibano Benedicto Nicolau dos Santos. Datada de 1928, trazia inúmeros símbolos paranistas, como o pinheiro, o morro Marumbi e a neve.

Desde que estreou, Gehad Hajar, que dirigiu a montagem, percebeu interesse crescente por parte da comunidade acadêmica pela obra. “Já teve artigo científico e grupo de estudo formado sobre a ópera Marumby na [Escola de] Belas Artes”, conta.

Entre o público geral, o espetáculo também causou algum impacto. Um “flashmob” com cantores à paisana levou trechos da obra para a rodoviária em pleno embarque do último feriado. Hajar considerou o resultado empolgante. “Os motoristas paravam os ônibus para ouvir. Ópera é para todo mundo.”

Em ‘La bohème’, Giacomo Puccini inovou ao rejeitar os enredos sobre a nobreza, optando por trabalhadores intelectuais como personagens

Neste festival, Marumby terá algumas mudanças, como a ampliação do coro, uso de cabos de aço para trazer uma “fada” dos “céus” e colocação da orquestra na ribalta.

Completando as obras paranaenses, Sidéria será apresentada no domingo (22).

A ópera foi composta pelo curitibano Augusto Stresser em 1912, ou seja, representa a primeira produção operística local.

Assim como La bohème, trata-se de uma tragédia. Apresenta um triângulo amoroso situado durante a Revolução Federalista, quando Curitiba e Lapa foram tomadas por tropas.

'Sidéria' é tragédia do curitibano Stresser criada em 1912Divulgação

‘Sidéria’ é tragédia do curitibano Stresser criada em 1912

No sábado (21), duas óperas de clima bem diferente serão apresentadas. La Bohème retrata jovens artistas famintos no inverno de Paris, em meio ao qual surge o amor entre Mimi e Rodolfo.

A obra de Giacomo Puccini inovou ao rejeitar os enredos sobre a nobreza, optando por trabalhadores intelectuais como personagens.

A montagem, com direção artística de Alex Wolf e musical de Priscila Malanski, foi realizada anteriormente pelo grupo Grutun!, da Unibrasil.

Na sequência, entra a comédia de Giovanni Battista Pergolesi La serva padrona. No enredo, uma empregada de seios fartos seduz o patrão, avançado em idade, e aos poucos se apodera da casa.

A montagem, tocada pelo Guaíra, foi realizada anteriormente no projeto Comboio Cultural, que levava arte ao interior do estado, e em outra remontagem, voltando agora para a direção cênica de Edson Bueno (de Capitu). Cenários, figurinos e disposição do palco estão todas diferentes: como num pequeno teatro de gabinete, o elenco sai do cenário e se dirige à frente do palco, onde um piano executa as composições.

Tudo se passa numa cozinha, enquanto os figurinos fazem uma releitura do clássico. Além da presença dos dois cantores, o ator Robson Souza interage com as cenas utilizando mímica.

Livro

Depois de lançar um guia do ouvinte para O anel do Nibelungo, a paranaense Lúcia Schiffer Durães apresenta agora seu manual para a apreciação de Parsifal.

A autora e musicista inicia as obras destacando as particularidades das composições do alemão Richard Wagner (1813-1883), como a repetição de temas condutores e a não interrupção do canto.

Para destacar o trabalho dos cantores, Wagner colocava sua orquestra em frente ao palco, no fosso, e não incluía trechos de fala que pudessem atrapalhar a fruição do drama.

Em Parsifal, o compositor recuperou uma lenda sobre um cavaleiro que busca o santo Graal.

Última ópera de Wagner, é considerada de difícil compreensão – motivo que levou a autora a se interessar por sua análise.

Além do livro, um CD-ROM traz informações visuais, textos e áudio para os temas da ópera, com explicações do maestro Osvaldo Colarusso.

Assim como faltam cursos de formação de plateia, seria interessante que mais obras como essa auxiliassem o ouvinte a desfrutar da música clássica.

O livro de DurãesReprodução

Capa

Dez passos

Apaixonado por ópera, Gehad Hajar sugere como desfrutar adequadamente de um espetáculo:

1. DISPOSIÇÃO. Esteja disposto e disponível a dedicar momentos à audição de uma peça operística;

2. CABEÇA ABERTA. Despeça-se de preconceitos e suposições acerca do gênero operístico;

3. EMOÇÃO. Uma das mais fortes características do gênero é
sensibilizar. Fique aberto;

4. ARTE COMPLETA. A ópera tem em sua estrutura dramática três elementos primordiais: paixão, razão e imaginário. E para manifestar esses elementos, faz uso de todas as linguagens artísticas: canto, música, dança, artes plásticas e, atualmente, até o audiovisual;

5. ENTENDA. Saiba do que trata o libreto, quem é o compositor, a época, os fatores políticos, sociais e ambientais do período de composição;

6. AO VIVO. Prefira espetáculos presenciais aos gravados;

7. VOCABULÁRIO. Saber os principais termos da ópera – a maior parte em italiano – facilita a compreensão;

8. IDIOMA. Hoje os DVDs e récitas são acompanhadas por subtítulos;

9. AMIZADES. Aproxime-se de aficionados por ópera para troca de experiência, impressões e materiais;

10. ESTILO. Faça da ópera parte de seu cotidiano. Quanto mais se viver com a ópera, mais ela se faz compreendida.

.:. Publicado originalmente no jornal Gazeta do Povo, Caderno G, p. 1, em 16/11/2015.

Serviço:
1º Festival de Ópera do Paraná
Onde: Teatro Guairinha (Rua XV de Novembro, 71, Centro, Curitiba, tel. 41 3304-7982)
Quando:
sexta, 20/11, às 20h, Marumby. Grátis
sábado, 21/11, às 18h, La bohème, R$ 20
sábado, 21/11, às 20h, La serva padrona, R$ 20
domingo, 22/11, às 18h, Sidéria, R$ 20

Jornalista formada pela Universidade Federal do Paraná, instituição onde cursa o mestrado em estudos literários, com uma pesquisa sobre A dama do mar de Robert Wilson. Cobre as artes cênicas para a Gazeta do Povo, de Curitiba, há três anos. No mesmo jornal, já atuou nas editorias de economia e internacional.

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