BiocríticaQuarta Parede conta...
2.2.2021 | por Márcio Andrade e João Guilherme de Paula
Foto de capa: Roberto Fernandes
+ Bruno Siqueira, Lorenna Rocha, Liana Gesteira, Elilson, Arthur Carvalho, Adson Alves e Rodrigo Sarmento
Tomando de assalto o conhecido jargão teatral que define a parede imaginária situada entre o universo concebido no palco e as pessoas que o assistem da plateia, o Quarta Parede nasceu querendo justamente rompê-la, alimentado pelo desejo de tecer conexões mais intensivas entre artistas e público. Fundado em 2015, por Márcio Andrade e João Guilherme de Paula, ambos editores e produtores, o Quarta Parede foi criado como um portal informativo sobre teatro, compartilhando notícias, realizando entrevistas e produzindo críticas, podcasts e videocasts relacionados ao fazer teatral em Pernambuco.
Enquanto João Guilherme contribuiria com sua experiência no teatro, Márcio Andrade, por sua vez, traria a bagagem de sua formação em comunicação e vivências com produção de conteúdo multimídia, construindo um projeto com produtos nos formatos de texto, áudio e vídeo, fortalecendo a formação crítica e criativa do público de teatro. “O embrião do projeto surgiu em 2012, enquanto eu ainda estudava na UFPE. Fui convidado pelo curso de Rádio, TV e Internet a compor a programação da Rádio Universitária Web (PE), com algum programa relacionado ao teatro. Nessa época, eu já conhecia Márcio e lhe perguntei sobre o que ele achava da ideia de fazermos um programa de crítica teatral. Ele aceitou a proposta e convidamos alguns amigos para criar blocos, nomes, roteiros… Nesse brainstorming, surgiu o nome do programa, mas, em poucos meses, precisamos engavetar o projeto por não ter incentivo financeiro nenhum. Dois anos depois, Márcio sugeriu que enviássemos o projeto para algum edital de fomento à cultura e fomos aprovados. Então, ao invés de ocupar as rádios, ocupamos as redes”, comenta João Guilherme.
Para nós, talvez um dos maiores desafios seja traçar um diálogo mais estreito com o público que entra em contato com nossas produções e manter a continuidade de nossos trabalhos, devido à instabilidade em relação aos editais públicos estadual e nacional. O interesse coletivo de todos e todas integrantes do Quarta Parede é continuar mobilizando o pensamento de vários contextos geográficos, criar redes de troca e documentação em torno do campo artístico, tanto na pesquisa como na produção, criação e fruição
Desde esse momento, em 2015, o Quarta Parede teve projetos selecionados para receber o fomento de incentivo à cultura, no âmbito estadual, em linguagens de teatro e dança, o que possibilitou a continuidade de nossas atividades e o desenvolvimento do site. Naquele momento, foi muito importante o financiamento para que estruturássemos melhor o nosso projeto e planejássemos sua continuidade.
Existente desde 2003, o Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura) vem sendo responsável pela maior parte dos incentivos para projetos culturais no estado. Na linha de artes cênicas (teatro, dança, circo e ópera), vem designando recursos para projetos de montagem, circulação e temporadas de espetáculos, formação, pesquisa, intercâmbios etc.. Desde o início de sua implementação, o edital fomentou projetos voltados a publicações de revistas e manutenção de páginas eletrônicas, com incentivos para sites ou blogs como os extintos Bonecos de Pernambuco, Revista Scaena, Portal Teatro Pernambuco e Bastidores PE, além de outros ainda em atividade, como Satisfeita, Yolanda?, Na Ponta do Pé e Acervo Recordança.
Desde 2014, o Quarta Parede vem enviando projetos para a linha de manutenção de sites na linguagem de teatro e sendo contemplado com recursos para dar continuidade às suas atividades. Em duas oportunidades (em 2016 e 2017), também foi contemplado na linha de ação em manutenção de sites, mas na linguagem de dança, o que permitiu contratar profissionais da área para contribuírem para a curadoria nessa linguagem. Nesse sentido, acreditamos que o incentivo financeiro foi essencial para essa estruturação e a continuidade dos trabalhos do Quarta Parede e também torcemos para que mais plataformas de produção de pensamento em torno das artes cênicas surjam e conquistem incentivos semelhantes.
Com o apoio da política pública cultural do estado de Pernambuco, integramos à nossa plataforma colaboradores para a produção de áudio (Pedro Santos), vídeo (Roberto Fernandes) e manutenção de sites (Luis Camargo). Além disso, pudemos incluir outro membro fundador, Bruno Siqueira, que integra a curadoria editorial de teatro e atua como crítico: “Naquela época, andávamos muito carentes de críticas teatrais. A ideia inicial era acompanhar a produção teatral da cidade, divulgando a programação, fazendo uma cobertura crítica dos espetáculos, entrevistas, podcasts e videocasts com artistas, pesquisadores e produtores locais. Como crítico, sempre senti a necessidade de fomentar uma discussão teórica sobre a cena teatral e sobre o que essa cena proporciona ao público local. O fato de ser professor atravessa minha escrita crítica, não para ensinar nada a ninguém, mas para questionar, provocar, problematizar a experiência estética que vivenciamos no teatro”, nos conta Siqueira.
A busca por outras formas de diálogo
Com o passar dos anos, começou a nos interessar que o site se deslocasse de um caráter informativo e investisse mais no seu caráter reflexivo e, a partir de 2017, o transformamos em uma revista digital (ISSN 2594-8547), direcionada à intensificação de debates políticos e estéticos em torno do teatro, da dança e da performance. Decidimos integrar os conteúdos que já produzíamos (textos, áudios e vídeos) a dossiês temáticos com formato multimídia, que acompanhassem e propusessem diversas questões em torno do pensamento cênico no Brasil e no mundo.
Essa transição do Quarta Parede aconteceu a partir da segunda metade de 2017, quando começaram alguns protestos em torno da performance La bête, de Wagner Schwartz (SP), do fechamento da exposição Queermuseu, no Santander Cultural (RS), e da censura ao espetáculo ZOE, de Francini Barros (PE). Entre 2018 e 2019, esses episódios se tornaram cada vez mais recorrentes, incluindo filmes e espetáculos cênicos como Res publica 2023, Abrazo, Caranguejo overdrive e O evangelho segundo Jesus, rainha do céu.
‘Desde 2017, os conteúdos da revista buscam desenvolver reflexões que colaborem para uma compreensão maior do público em torno do ofício e do modo de vida dos artistas. Um desejo de contrapor-se aos movimentos de desinformação por meio de bolhas sociais e fake news que, desde então, vêm marginalizando e criminalizando a figura do artista diante da sociedade”, comenta Márcio Andrade. Desta forma, procuramos alinhar o pensamento curatorial da revista à intensificação dos debates estéticos e políticos no Brasil, abordando temas como censura, acessibilidade, tecnologias, memórias, direitos humanos, racialidades, gênero, representações, representatividades, empreendedorismo, entre outros, a partir de perspectivas transversais sobre espetacularidades contemporâneas.
Nesse período, a produção de textos se intensificou com a ideia de convidar artistas, professores e pesquisadores para elaborarem ensaios e participarem de entrevistas relacionadas a suas pesquisas acadêmicas e/ou artísticas, bem como aos temas dos dossiês publicados. Entre ensaios, críticas e entrevistas, foram produzidos em torno de duzentos textos, com artistas e pesquisadores como Roberta Ramos (PE), Flávia Pinheiro (PE), Elisabete Finger (SP), Luciana Lyra (PE/RJ), Elis Costa (PE), Dodi Leal (BA), Isaura Tupiniquim (PB), Janaína Leite (SP), Agrippina Manhattan (RJ), Diogo Liberano (RJ), Bruna Kury (SP), Evani Tavares Lima (BA), Tertuliana Lustosa (BA), Marcelo Soler (SP), Yhuri Cruz (RJ), Eleonora Fabião (RJ), Asier Zabaleta (Espanha), Cynthia Henderson (EUA), Daito Manabe (Japão), entre outres, conectando Pernambuco a diversos territórios criativos pelo mundo.
Nessa mesma época, houve transformações significativas na equipe e em seus modos de criação e produção, incluindo profissionais como Marcelo Sena (curadoria de dança), Adson Alves (gravação e edição de podcasts), Rodrigo Sarmento (design gráfico) e Arthur Carvalho (filmagem, edição de vídeo e motion design).
Para nós, um dos elementos primordiais para essa transformação foi um investimento maior na identidade visual, aprimorando a marca da revista e as artes de divulgação dos conteúdos: “A minha jornada com o Quarta Parede começou em um período em que eu estava absorvido pelo mercado publicitário e trabalhando em agências. Então, participar desse projeto se tornou um momento símbolo de uma virada de chave na minha carreira. Na revista, pude aprofundar meu processo criativo, buscando referências incomuns para o mercado em que atuava e refinando meu senso crítico para questões estéticas e político-sociais que permeiam a produção artística em nosso país”, afirma Sarmento.
Paralelamente, a produção de podcasts se tornou ainda mais assídua, contando com a participação de Bruno Siqueira, Marcelo Sena e Márcio Andrade na apresentação e com Adson Alves na gravação e edição de mesas-redondas com artistas, pesquisadores e arte educadores, colaborando na proposição de debates sobre acessibilidade, tecnologia, memória, representatividades etc.: “De início, o podcast tinha um formato de mesa-redonda mais tradicional, com apresentadores que conduziam o debate com os convidados. Porém, esse formato foi se transformando e, hoje, optamos por construir uma espécie de reportagem ensaística que combina os formatos de entrevista e debate. Depois de colher depoimentos de artistas e pesquisadores, a equipe de produção decupa esses materiais e produz uma conversa entre os locutores a partir dos temas do dossiê. Desde então, seguimos transformando e experimentando formatos”, comenta Adson Alves.
Dentre os conteúdos produzidos no Quarta Parede, certamente o formato que atravessou mais transformações foram os videocasts. Na primeira temporada, focamos em reportagens que acompanhavam estreias de espetáculos e lançamentos de projetos e eventos. Na segunda, essas reportagens ganharam outro tom ao abordar a trajetória histórica de artistas, coletivos e grupos cênicos pernambucanos como O Poste, Acervo RecorDança, Magiluth, Totem, Teatro de Fronteira, Coletivo Lugar Comum etc.. Na terceira, que acontece desde 2019, a equipe formada por Arthur Carvalho, João Guilherme e Márcio Andrade vem investindo cada vez mais na produção de documentários com uma linguagem mais ensaística. Alguns desses trabalhos mais recentes vêm sendo selecionados para festivais de cinema como Lift-Off Sessions e A Confined Urban Vision.
“Durante a pandemia, encontramos novos formatos e perspectivas de criação com a linguagem audiovisual. Nossas entrevistas vêm sendo feitas remotamente e, a partir delas, pesquisamos materiais de arquivo para compor o produto final. Hoje, diante de um desejo de criar com mais liberdade e arriscar outras estéticas e narrativas, estamos desenvolvendo uma linguagem mais experimental. Nesse movimento, criamos novas pontes e reencontramos outros sentidos para aquilo que nos define como Quarta Parede. E assim vamos amadurecendo essa nova forma de comunicar os conflitos que nos interessam”, afirma Arthur Carvalho.
Moveres em direção a um coletivo
Em 2019, a revista Quarta Parede inaugurou novamente outros moveres, ao possibilitar a integração de novos participantes: Liana Gesteira (curadoria de dança), Lorenna Rocha (curadoria de teatro) e Elilson (curadoria de performance).
Com o desligamento de Marcelo Sena para dar continuidade a seus trabalhos na Cia Etc., Liana Gesteira foi indicada para substituí-lo. Ela já havia colaborado com o Quarta Parede: como entrevistada dos videocasts sobre o Acervo Recordança e o Coletivo Lugar Comum e como escritora de um ensaio para o dossiê Cena e Censura. Desta vez, Liana passaria a integrar a equipe de podcasts, colaborando na seleção de convidados, produção de roteiro e locução.
“Estar na equipe de podcast me trouxe o desafio de me reencontrar com essa construção de narrativas pela oralidade, pois, em minha trajetória de pesquisadora e jornalista, meu investimento sempre foi maior na escrita. Também estamos trilhando a experiência desafiadora nesse momento de pandemia, de ter um programa semanal na Rádio Frei Caneca FM, de Recife. O ponto positivo de assumir esse distanciamento foi poder entrevistar artistas de várias localidades de Pernambuco, investindo na escuta de vozes fora da capital e seus ‘centros’, para compor nossos programas. Para mim, o Quarta Parede é um projeto de movimento, e em movimento, que se arrisca em formatos, conteúdos, maneiras de trabalhar e de se organizar. Tem experimentação e também construção contínua. Então, a construção não para, tampouco os desafios”, reflete Gesteira.
Além de Liana, Lorenna Rocha é outra integrante que vem trazendo contribuições para a revista, sobretudo nas produções textuais. Depois de colaborar em algumas ocasiões conosco, em 2018, após sua participação em uma oficina ministrada por Beth Néspoli (Teatrojornal) no Usina Teatral (PE), Bruno Siqueira sugeriu a João Guilherme e Márcio a integração de Lorenna à equipe. Desde então, Bruno e Lorenna compõem a curadoria editorial de teatro, indicando escritores para ensaios, revisando textos e atuando na escrita de críticas.
“Justamente por não ter uma linha editorial mais restrita em relação às formas, autores e conteúdos, nossa seção de críticas investe na pluralidade, acolhendo profissionais, artistas, estudantes, pesquisadoras e demais públicos para o exercício da produção de pensamento sobre as artes da cena. Na busca por acolher as mais diversas vozes, é também na parceria com outros projetos, como a Oficina de Crítica Teatral, idealizada por mim e Rodrigo Dourado, e também no constante diálogo com alguns professores do Departamento de Teatro da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que o Quarta Parede vem se alimentando, ao publicar os resultados das escritas críticas dessas ações formativas, mobilizando outros olhares para a cena e dando espaço para que mais pessoas possam se colocar em diálogo com as cenas contemporâneas”, comenta Rocha.
Além de Liana e Lorenna, o Quarta Parede conquistou outra adição bastante relevante para a equipe, com a presença do artista e pesquisador Elilson, que iniciou seus vínculos com o Quarta Parede em 2015, publicando uma crítica sobre um espetáculo teatral, e, em 2017, um ensaio para o dossiê Ocupa Tudo. Em 2019, ele passou a integrar a equipe de entrevistas junto a João Guilherme e Márcio Andrade, selecionando os convidados e elaborando entrevistas com artistas do campo da performance e das artes visuais, atravessados por questões em torno do(s) corpo(s), suas políticas, representações e visualidades.
“Antes desse convite, já me interessava bastante, como leitor do periódico, a perspectiva de cena expandida que norteia seus processos editoriais, com ensaios, entrevistas, podcasts e videocasts que agregam artistas e pesquisadores das mais variadas linguagens artísticas. Ao integrar a equipe como colaborador editorial no setor de entrevistas, é mobilizador poder contribuir com a elaboração de materiais sobre performance, visto que a quantidade de publicações no Brasil e em língua portuguesa ainda não é tão espraiada”, afirma Elilson.
A produção desses e outros conteúdos vem mobilizando, por sua vez, parcerias, debates e coberturas com diversos festivais e mostras de artes da cena reconhecidos nacionalmente, tais como MITsp (SP), Mirada (SP), Cenas do Nordeste (RN), TREMA! Festival (PE), Janeiro de Grandes Espetáculos (PE), Janeiro Sem Censura (PE), Usina Teatral (PE), Palco Preto (PE), Luz Negra (PE), Semana Afro Daruê Malungo (PE), PretAção – Mostra de Mulheres Pretas (PE), Transborda – As linguagens da cena (PE), dentre outros. “Criar conexões com (e entre) esses festivais e mostras por meio da revista vem fortalecendo ainda mais o senso de comunidade que nos atravessa. Esses eventos têm sido oportunidades de descobrir novos parceiros e colaboradores por meio da escrita de críticas, de entrevistas e depoimentos e, nesse movimento, alimentar o contato da revista com seu público”, comenta Márcio Andrade.
Tecendo encontros e outras redes
Na busca pelo alcance e para a contribuição da formação de novos públicos, uma das estratégias do Quarta Parede é intensificar a publicização de seus conteúdos através de mídias sociais como Instagram e Facebook. Investimos em postagens regulares, onde divulgamos conteúdos recém-publicados, assim como relembramos ensaios, críticas, videocasts e podcasts de dossiês anteriores. Além disso, passamos um período colhendo depoimentos de artistas, pesquisadores, críticos e curadores, como Jé Oliveira (SP), Guilherme Diniz (MG), Vulcânica Pokaropa (SP) e Francis Wilker (CE/DF), no intuito de aproximar o pensamento desses colaboradores aos públicos mais diversos, por meio da linguagem mais compacta e direta das redes sociais.
Gerenciado por Márcio Andrade, João Guilherme, Adson Alves e Lorenna Rocha, esse contato através das mídias tornou-se ainda maior durante a pandemia da COVID-19. Além de continuar, no Instagram, com a sessão #4Panorama, onde divulgamos espetáculos, performances e atividades relacionadas ao campo das artes da cena semanalmente. Criamos também um projeto de lives no formato de entrevista, o QuartaNaTerça, no qual recebemos diversos pesquisadores, artistas e críticos, como Rodrigo Dourado (PE), Lau Santos (BA), Iara Sales (PE), Diego Araúja (BA) e Orun Santana (PE).
“Foi muito divertido fazer o QuartaNaTerça. A gente conseguiu criar algum tipo de encontro entre pessoas queridas para nós, que acompanhavam, interagiam, que se sentiam quase numa fila de teatro trocando algumas ideias, num período de muita incerteza em relação ao retorno das atividades presenciais. Além disso, foi uma grande oportunidade de estreitarmos os laços com alguns artistas, pessoas que ainda nem conhecíamos tanto o trabalho, mas que víamos como uma aposta, como alguém que queríamos trazer para perto. Então, a partir disso, pesquisávamos, trocávamos figurinhas entre os integrantes da revista e elaborávamos um roteiro de entrevista que norteava nossas conversas”, relembra Rocha.
Em 2020, além da permanente produção dos dossiês multimídia, produzimos uma edição especial de quatro podcasts dentro do projeto #CulturaEmRedeSescPE (Sesc Pernambuco), com convidadas como Daniele Avila Small (RJ), Heloísa Souza (SP/RN), Janaína Leite (SP) e Jhanaína Gomes (PE), e veicularmos semanalmente um programa de rádio na Frei Caneca FM (PE), projeto que também terá continuidade até março de 2021.
Cultivar agoras e semear modos futuros
“Ao longo dessa trajetória de cinco anos, a gente percebe que o Quarta Parede se fundamenta em um desejo de alimentar reflexões e construir memórias em torno dos modos de fazer artístico, não somente aqui em Pernambuco. Pelo contrário, a partir dessa multiplicidade de linguagens e de relações possíveis no ciberespaço, a equipe da revista investe muita energia nessa busca por se conectar com outros territórios e, nesse movimento, alimentar outros modos de pensar e fazer arte”, comenta Márcio Andrade.
Para nós, talvez um dos maiores desafios seja traçar um diálogo mais estreito com o público que entra em contato com nossas produções e manter a continuidade de nossos trabalhos, devido à instabilidade em relação aos editais públicos estadual e nacional. O interesse coletivo de todos e todas integrantes do Quarta Parede é continuar mobilizando o pensamento de vários contextos geográficos, criar redes de troca e documentação em torno do campo artístico, tanto na pesquisa como na produção, criação e fruição.
“De certa forma, estar aberto aos objetos, referências e métodos que se descobre em cada campo da nossa revista é essencial para o crescimento do Quarta Parede. A cada encontro, descobrimos (e nos redescobrimos em) novos modos de construir coletivamente. Esse movimento é primordial para entender que o Quarta é um organismo que reflete nosso desejo de nos sentir vivos a partir daquilo que criamos”, reflete João Guilherme.
O que também tem nos movido é a constante pergunta: como difundir essas elaborações criadas dentro de um corpo editorial feito por muitas mãos, mentes e vozes? Nosso desejo tem sido fortalecer a nossa experiência enquanto coletivo, ao mesmo tempo em que precisamos fomentar as singularidades de nossos integrantes, incentivando o registro das formas de pensar de cada integrante dentro desse corpo vivo que é o Quarta Parede. Com essa multiplicidade de formatos, acabamos por criar uma perspectiva plurivocal e plurisensorial na revista, possibilitando o aprofundamento de questões atuais e relevantes para as artes da cena. Essa ideia de sermos um projeto em movimento, como nos disse Liana Gesteira, marca bastante nossa trajetória.
Esse desejo influencia, inclusive, os conceitos e as perspectivas em torno da crítica, que acabam ganhando outros contornos. Afinal, por meio dos ensaios, entrevistas, podcasts e videocasts, também elaboramos formas de um pensamento crítico acerca do campo da arte sem necessariamente nos atermos à crítica como gênero literário. Acreditamos que o pensamento crítico pode se fortalecer no movimento de, para além de tecer reflexões em torno das estéticas que compõem uma obra artística, se aventurar também por outras facetas que atravessam o processo criativo – como sustentabilidade, política, ritualidades, representatividades, acessibilidades, identidades etc..
Diante do evidente desinteresse de parte do público leitor, do distanciamento do pensamento crítico e da descrença no âmbito acadêmico, acreditamos que a pluralidade dessas reflexões pode ir além de um formato canônico da crítica. Pelo contrário, investimos no desejo que a crítica explore ainda mais suas potências simbólicas, poéticas, autoficcionais, ensaísticas, decoloniais, dramatúrgicas etc.. O Quarta Parede acredita que esse movimento se constrói de forma coletiva, a partir da combinação entre vozes, formações, experiências e desejos distintos, que se atravessam para mobilizar um objetivo único. Desta forma, cremos que seja possível explorar outros modos de fazer ver e perceber, tornando a espectatorialidade um espaço de experimentação que nos permita construir outros cânones que sustentem nossas sensibilidades e entendimentos sobre as artes.
.:. Leia mais sobre o dossiê Biocrítica e o site Quarta Parede
Márcio Andrade (Recife, 1985). Doutor em Comunicação (UERJ) e mestre em educação tecnológica (UFPE). Coordena a produtora Combo Multimídia, responsável por projetos de curtas como Preces fora do armário, dos podcasts Aventurama e Anônimos (em desenvolvimento) e das oficinas F(r)icções e Ponto de Virada – Laboratório de Social Vídeo. Cofundador da revista Quarta Parede, atua como editor e produtor de conteúdo digital.
João Guilherme de Paula (Recife, 1991). Ator e iluminador, além de trabalhar como coordenador e técnico em iluminação e designer de luz para grupos de teatro de Pernambuco. Graduado em teatro/licenciatura (UFPE), atuando pelo grupo Galpão das Artes (Limoeiro – PE), no Coletivo Âmbar de Teatro, no Teatro Popular de Camaragibe e Cia. Máscaras de Teatro. Em 2016, lecionou no curso de iniciação teatral do Teatro Joaquim Cardozo (Centro Cultural Benfica). Cofundador da revista Quarta Parede, atua como editor e produtor de conteúdo digital.
Bruno Siqueira (Recife, 1975). Doutor em teoria da literatura (UFPE). Professor da Licenciatura em Teatro (UFPE), atuando nas áreas de teatro-educação, dramaturgia, estética e crítica do teatro, com foco nas questões étnico-raciais e de gênero e sexualidade. Como crítico, participou do portal TeatroPE (2007-2008) e, atualmente, compõe o corpo crítico e é revisor textual do Quarta Parede.
Lorenna Rocha (Recife, 1996). Licencianda em história (UFPE). Pesquisa sobre dramaturgias negras brasileiras. É crítica de teatro e revisora textual (Quarta Parede) e crítica de cinema (Sessão Aberta). Realiza cobertura de festivais em diversos estados do país. Possui textos publicados no Questão de Crítica (RJ), Contemporary&AL (BRA) e Buala (POR). Idealizadora e ministrante no projeto Oficina de Crítica Teatral com Rodrigo Dourado (UFPE).
Elilson (Recife, 1991). Mestre em artes da cena pela UFRJ e graduado em letras pela UFPE. Publicou dois livros pelo programa Rumos Itaú Cultural: Por uma mobilidade performativa (Editora Temporária, 2017) e Mobilidade [inter]urbana-performativa (2019). Também recebeu o Prêmio EDP nas Artes do Instituto Tomie Ohtake (2018). Na revista Quarta Parede, integra a equipe de curadoria, elaborando e realizando entrevistas com artistas da performance.
Liana Gesteira (Recife, 1979). Doutoranda em dança (UFBA) e bacharel em jornalismo (Unicap). É pesquisadora no Acervo RecorDança (desde 2003) e jornalista integrante do Quarta Parede (desde 2019), participando da equipe de curadoria, elaboração e produção dos podcasts e como colaboradora crítica. Atuou como colunista da revista Outros Críticos (2016), e colaborou com críticas para a Revista Continente (2009 a 2012) e para a revista eletrônica Idança (2004 a 2007).
Adson Alves (Cabo Frio – RJ, 1990). Mestre em educação matemática e tecnológica (PPGEDUMATEC-UFPE) e graduado em rádio, TV e internet – comunicação social (UFPE). Produtor audiovisual, de podcast e conteúdo digital e é sócio na Almagesto Produtora. No Quarta Parede desempenha a função de locutor e editor de áudio na equipe de podcast, e também auxilia na gestão das redes sociais do site.
Arthur Carvalho (Recife, 1989). Graduando em artes visuais (UFPE), com trabalhos em produção, motion design, filmagem e edição audiovisual para webséries e vídeos publicitários. Cofundador do Coletivo Galileia e do Canal Tapacurá (voltados à produção cultural independente) e membro do coletivo político Se Vitória Fosse Nossa e do Cineclube Avalovara. No Quarta Parede, integra a equipe de produção de videocasts (filmagem, edição e motion design).
Rodrigo Sarmento (Recife, 1981). Publicitário, designer e diretor de arte. Graduado em publicidade e propaganda (UFPE) e especialista em marketing e mídias sociais (Universidade Estácio). Trabalhou em agências de publicidade em Pernambuco e Rio de Janeiro, atuando na criação de campanhas para empresas diversas. Na revista Quarta Parede, integra a equipe de produção, responsável pela elaboração e produção de peças gráficas.