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Folha de S.Paulo

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São Paulo, quinta-feira, 29 de março de 2007

TEATRO
Protagonista de “O Céu de Suely” participa de “As Três Viúvas de Arthur” e de “Angu de Sangue” no Festival de Teatro de Curitiba

Autodidata, atriz começou nos palcos aos 16; na mostra, está em adaptação de contos de Marcelino Freire e em história de Arthur de Azevedo

VALMIR SANTOS
Enviado especial a Curitiba

Entre as flores recebidas pela estréia da noite anterior e as luzinhas do espelho no camarim do teatro, Hermila Guedes diz à fotógrafa: “De uns tempos para cá, todos me pedem uma postura glamourosa”. É um papel (ou pose) a que a atriz de 26 anos não se submete -pelo menos ainda não, apesar do cenário propício a afetações. 

A antiestrela pernambucana, de longas como “O Céu de Suely” e “Cinema, Aspirinas e Urubus”, sobe ao palco em duas montagens no Festival de Curitiba. Hoje e amanhã, na programação da mostra paralela, no teatro José Maria Santos, ela integra o Coletivo Angu de Teatro com “Angu de Sangue”, adaptação de contos do livro de mesmo nome do conterrâneo Marcelino Freire. 

No início da semana, interpretou no teatro Guairinha uma das protagonistas de “As Três Viúvas de Arthur”, com textos do maranhense Arthur Azevedo (1855-1908), atração da mostra oficial e fruto do projeto O Aprendiz em Cena, do Centro de Formação e Pesquisa das Artes Cênicas Apolo-Hermilo, de Recife. 

Autodidata
Entre o drama contemporâneo que estreou em 2003 e a comédia clássica de 2005, Guedes diz que vai “aprendendo a fazer teatro”. A formação, autodidata, começou aos 16 anos, quando ela e vizinhos foram incentivados pelo ator veterano João Ferreira a participar de um espetáculo. 

“Tudo o que fiz foi na prática, meio a pulso”, afirma a atriz. “Para crescer como artista, o ideal é trabalhar com gente grande, porque você se esforça para ficar no nível dessas pessoas”, avalia. 

Na roda de “pais e mães amigos”, como diz, estão o próprio Ferreira, a atriz e produtora Lúcia Machado, os diretores Kleber Lourenço (com quem trabalhou em “O Amor por Anexins”, uma das três histórias das “Viúvas” de Azevedo), Marcondes Lima (de “Angu de Sangue”) e os cineastas Karim Aïnouz e Marcelo Gomes. “Sorte não faltou.” 

Em Curitiba, na peça de Azevedo, Hermila Guedes -no papel de uma costureira viúva assediada por um sujeito viciado em provérbios- contracenou com Alfredo Borba, filho do teatrólogo Hermilo Borba Filho (1917-1976), fundador do seminal Teatro do Estudante de Pernambuco (1946-1953). 

O cruzamento de gerações culmina em bom momento para o teatro local, na percepção da atriz. “O movimento de teatro está se renovando em Pernambuco, como aconteceu com a música e o cinema.” 
Num dos contos de “Angu de Sangue” (a escrita de Freire é urgente e atropela vírgulas e pontos para tocar em feridas de miséria e violência), uma criança de seis anos é estuprada e assassinada. Na cena, Guedes entoa um canto dolente “de chorar”. As outras nove narrativas não ficam atrás. 
Sobre futuros textos para teatro, ela ainda não se considera uma pessoa “muito estudiosa e conhecedora de dramaturgia”, mas promete, entre risos, começar a ser. Desvia do “eu” profundo. “Não dá para criar uma personagem de mim mesma. Fiz isso uma fez, no “Céu de Suely”, e está bom, não foi fácil”, afirma. E “viaja”: “Ainda não sou uma pessoa que cria coisas; sou uma criatura dos criadores.” 

Intolerância
O Coletivo Angu também traz para o Fringe “Ópera”, sábado e domingo, no mesmo José Maria Santos, reunião de quatro peças curtas de Newton Moreno (“Assombrações do Recife Velho”), dramaturgo pernambucano radicado em São Paulo. 

Na encenação de Lima, sete atores, entre eles a transexual Maite Schneider, vivem personagens que ora enfrentam a intolerância do outro, ora tentam se afirmar na vida amorosa. 

“O Cão”, por exemplo, narra as desventuras de um cachorro gay e os reflexos sobre a família de seu dono quando a condição vem a público. Não demora e tanto o pastor alemão como o vira-lata morrem por envenenamento.


O
jornalista VALMIR SANTOS e a repórter-fotográfica LENISE PINHEIRO viajaram a convite da organização do Festival de Teatro de Curitiba.

16º Festival de Teatro de Curitiba
Quando: de 22/3 a 1/4 
Quanto: R$ 26 (na mostra paralela Fringe, de entrada franca a R$ 24); mais informações: tel. 0/xx/41/ 4063-6290 e www.festivaldeteatro.com.br 

Folha de S.Paulo

São Paulo, segunda- feira, 04 de maio de 2009

TEATRO
Grupo Yuyachkani abre hoje evento que acontece até domingo no CCSP

Coletivo dá sua versão a passagens históricas no Peru do século 20, em peça de tom documental; o Galpão mostra obra em progresso

VALMIR SANTOS
Colaboração para Folha, em Lima

Alberto Fujimori e o grupo guerrilheiro Sendero Luminoso viraram sinônimos de violência e autoritarismo no Peru contemporâneo. A condenação do ex-presidente a 25 anos de cadeia, no mês passado, e a vitória do filme “La Teta Asustada” (sobre filhas de mulheres estupradas durante o conflito com a guerrilha) no Festival de Berlim deste ano põem a revisão histórica na ordem do dia.
Quem dá a sua versão teatral para essas e outras passagens do século 20 peruano é o Grupo Cultural Yuyachkani, coletivo surgido há 38 anos e batizado com a expressão do idioma quéchua, que significa “estou pensando, estou recordando”.
O Yuyachkani abre hoje a 4ª Mostra Latino-Americana de Teatro de Grupo com seu espetáculo mais recente, “El Último Ensayo” (2008). Durante uma semana, o evento gratuito da Cooperativa Paulista de Teatro reúne, no Centro Cultural São Paulo, 12 produções de seis países, sete nacionais e cinco estrangeiras (veja destaques em quadro nesta página).
No enredo, sete artistas preparam homenagem a uma diva legendária do canto lírico. São cantores, instrumentistas e dançarinos sob a batuta de uma maestrina. Enquanto aguardam, partitura à parte, desfilam idiossincrasias pessoais ou profissionais que terminam por dizer mais a respeito do país onde vivem: a bandeira peruana ziguezagueia o tempo todo em busca de um lugar.
Arte e vida
A ação transcorre num velho teatro, outrora uma sala de cinema. “El Último Ensayo” deseja colocar em xeque noções de representação e de presença. A criação colaborativa dirigida por Miguel Rubio Zapata e escrita por Peter Elmore é alinhada ao teatro documento, que ganha corpo no repertório do grupo nesta década.
Segundo Zapata, a ideia é diluir fronteiras entre arte/vida, ficção/realidade em peças, instalações, performances ou intervenções. Conhecido pelo ativismo na celebração da cultura popular andina, o Yuyachkani desenvolveu ações em várias cidades durante audiências públicas de uma comissão que rastreou 69 mil crimes e violações aos direitos humanos entre 1980 e 2000.
O tom documental é emoldurado em alguns momentos com a projeção de imagens em preto e branco de figuras representativas do poder político. Desfilam Fujimori, George W. Bush, Fidel Castro, Lula etc.
Sob o tema “Tradição e Atualidade”, a mostra traz ainda o uruguaio El Galpón, que completa 60 anos em setembro e monta “Un Hombre Es un Hombre” (2008), texto de Bertolt Brecht, com direção de María Azambuya.
O xará brasileiro Galpão, de Belo Horizonte, que também já montou “Um Homem É Um Homem” (2006), agora compartilha um espetáculo em progresso, previsto para junho, “Till Eulenspiegel” -com texto de Luis Alberto de Abreu e direção de Júlio Maciel.

Alberto Fujimori e o grupo guerrilheiro Sendero Luminoso viraram sinônimos de violência e autoritarismo no Peru contemporâneo. A condenação do ex-presidente a 25 anos de cadeia, no mês passado, e a vitória do filme “La Teta Asustada” (sobre filhas de mulheres estupradas durante o conflito com a guerrilha) no Festival de Berlim deste ano põem a revisão histórica na ordem do dia.

Quem dá a sua versão teatral para essas e outras passagens do século 20 peruano é o Grupo Cultural Yuyachkani, coletivo surgido há 38 anos e batizado com a expressão do idioma quéchua, que significa “estou pensando, estou recordando”.O Yuyachkani abre hoje a 4ª Mostra Latino-Americana de Teatro de Grupo com seu espetáculo mais recente, “El Último Ensayo” (2008). Durante uma semana, o evento gratuito da Cooperativa Paulista de Teatro reúne, no Centro Cultural São Paulo, 12 produções de seis países, sete nacionais e cinco estrangeiras (veja destaques em quadro nesta página).No enredo, sete artistas preparam homenagem a uma diva legendária do canto lírico. São cantores, instrumentistas e dançarinos sob a batuta de uma maestrina. Enquanto aguardam, partitura à parte, desfilam idiossincrasias pessoais ou profissionais que terminam por dizer mais a respeito do país onde vivem: a bandeira peruana ziguezagueia o tempo todo em busca de um lugar.

Arte e vida
A ação transcorre num velho teatro, outrora uma sala de cinema. “El Último Ensayo” deseja colocar em xeque noções de representação e de presença. A criação colaborativa dirigida por Miguel Rubio Zapata e escrita por Peter Elmore é alinhada ao teatro documento, que ganha corpo no repertório do grupo nesta década.

Segundo Zapata, a ideia é diluir fronteiras entre arte/vida, ficção/realidade em peças, instalações, performances ou intervenções. Conhecido pelo ativismo na celebração da cultura popular andina, o Yuyachkani desenvolveu ações em várias cidades durante audiências públicas de uma comissão que rastreou 69 mil crimes e violações aos direitos humanos entre 1980 e 2000.

O tom documental é emoldurado em alguns momentos com a projeção de imagens em preto e branco de figuras representativas do poder político. Desfilam Fujimori, George W. Bush, Fidel Castro, Lula etc.

Sob o tema “Tradição e Atualidade”, a mostra traz ainda o uruguaio El Galpón, que completa 60 anos em setembro e monta “Un Hombre Es un Hombre” (2008), texto de Bertolt Brecht, com direção de María Azambuya.

O xará brasileiro Galpão, de Belo Horizonte, que também já montou “Um Homem É Um Homem” (2006), agora compartilha um espetáculo em progresso, previsto para junho, “Till Eulenspiegel” -com texto de Luis Alberto de Abreu e direção de Júlio Maciel. 

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São Paulo, terça- feira, 20 de maio de 2008

TEATRO
Cantora luso-brasileira e Kazuo Ohno inspiram espetáculo de teatro-dança que o diretor remonta em SP

Emilie Sugai é dançarina convidada a contracenar com elenco do CPT; no palco, o samba mistura-se à expressão corporal do butô, nô e kabuki 

VALMIR SANTOS 
da reportagem local 

“Você não é do tempo em que todo mundo era obcecado por Carmen Miranda?”, questiona à reportagem Antunes Filho, 78. “Não estou discutindo politicamente se ela foi usada pelo [presidente norte-americano Franklin] Roosevelt ou não, mas apenas usando o mito para compor um poema teatral.”
Antunes guarda, ele mesmo, certa obsessão com a primeira experiência radical de teatro-dança de sua carreira, “Foi Carmen” (2005). O espetáculo teve poucas sessões naquele ano (Japão, Festival de Teatro de Curitiba) e é remontado a partir de hoje no Sesc Anchieta, em São Paulo. “Virou uma obra cult. Isso me assusta um pouco”, diz Antunes. Ele convida o público a transitar por uma profusão de citações entre os mundos ocidental e oriental.
A alusão explícita à atriz e cantora luso-brasileira Carmen Miranda (1909-55), com canções, gestos, figurinos e adereços (samba, em suma), surge junto com referências ao butô, ao nô e ao kabuki, variações de gêneros dramáticos milenares e contemporâneos da dança e do teatro japoneses -luvas para o centenário da imigração.
“Faço uma reflexão sobre o tempo, o espaço, o movimento e as pulsações ocidental e oriental desses elementos em cena”, diz Antunes. A palavra sucumbe à expressão do corpo.
Na origem desse projeto híbrido, repousa uma homenagem ao dançarino japonês Kazuo Ohno, 101, que o diretor conheceu em 1980. A parte final do espetáculo faz um paralelo entre os mitos de Carmen e da bailarina argentina Antonia Mercé y Luque (1890-1936), a quem Ohno dedicou o solo “Admirando la Argentina” (1977), o primeiro que Antunes viu.
Um enredo mínimo dá conta de uma menina (Paula Arruda) que sonha em ser Carmen Miranda. Em outros tempo e espaço, um malandro (Lee Thalor) percorre ruas do Rio e tem uma visão da própria (a dançarina convidada Emilie Sugai), um vulto sempre de costas, “porque ela foi, está morta”, diz Antunes. Há ainda uma passista (por Patrícia Carvalho).
Cinco vezes Antunes
Com “Foi Carmen”, o diretor atinge nesta semana cinco produções em cartaz em São Paulo com elencos mistos do Centro de Pesquisa Teatral (CPT) e do Grupo de Teatro Macunaíma.
Da série “Prêt-à-Porter”, que faz dez anos, é possível assistir à “Coletânea 1” (ter., às 20h, no Sesc Avenida Paulista, até 24/ 6) e ao “Prêt-à-Porter 9” (sáb., às 18h30, no Sesc Consolação, até 30/8). Seguem ainda “Senhora dos Afogados” (sex. e sáb., às 21h, e dom., às 19h, no Sesc Anchieta, até 27/7) e “O Céu Cinco Minutos Antes da Tempestade”, do círculo de dramaturgia do CPT, coordenado por Antunes (sex., às 21h, no Sesc Consolação, até 25/7). “Falo aos atores: “O CPT é de vocês, não sou eu”. Tenho de descentralizar esse troço. Agora temos base para isso.”
FOI CARMEN
Quando: estréia hoje, às 21h; ter., às 21h; até 29/7
Onde: Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 0/xx/11/3234-3000; classificação: 14 anos)
Quanto: R$ 2,50 a R$ 10

“Você não é do tempo em que todo mundo era obcecado por Carmen Miranda?”, questiona à reportagem Antunes Filho, 78. “Não estou discutindo politicamente se ela foi usada pelo [presidente norte-americano Franklin] Roosevelt ou não, mas apenas usando o mito para compor um poema teatral.” Antunes guarda, ele mesmo, certa obsessão com a primeira experiência radical de teatro-dança de sua carreira, “Foi Carmen” (2005). O espetáculo teve poucas sessões naquele ano (Japão, Festival de Teatro de Curitiba) e é remontado a partir de hoje no Sesc Anchieta, em São Paulo. “Virou uma obra cult. Isso me assusta um pouco”, diz Antunes. Ele convida o público a transitar por uma profusão de citações entre os mundos ocidental e oriental. 

A alusão explícita à atriz e cantora luso-brasileira Carmen Miranda (1909-55), com canções, gestos, figurinos e adereços (samba, em suma), surge junto com referências ao butô, ao nô e ao kabuki, variações de gêneros dramáticos milenares e contemporâneos da dança e do teatro japoneses -luvas para o centenário da imigração. 

“Faço uma reflexão sobre o tempo, o espaço, o movimento e as pulsações ocidental e oriental desses elementos em cena”, diz Antunes. A palavra sucumbe à expressão do corpo. 

Na origem desse projeto híbrido, repousa uma homenagem ao dançarino japonês Kazuo Ohno, 101, que o diretor conheceu em 1980. A parte final do espetáculo faz um paralelo entre os mitos de Carmen e da bailarina argentina Antonia Mercé y Luque (1890-1936), a quem Ohno dedicou o solo “Admirando la Argentina” (1977), o primeiro que Antunes viu. 

Um enredo mínimo dá conta de uma menina (Paula Arruda) que sonha em ser Carmen Miranda. Em outros tempo e espaço, um malandro (Lee Thalor) percorre ruas do Rio e tem uma visão da própria (a dançarina convidada Emilie Sugai), um vulto sempre de costas, “porque ela foi, está morta”, diz Antunes. Há ainda uma passista (por Patrícia Carvalho). 

Cinco vezes Antunes
Com “Foi Carmen”, o diretor atinge nesta semana cinco produções em cartaz em São Paulo com elencos mistos do Centro de Pesquisa Teatral (CPT) e do Grupo de Teatro Macunaíma. 

Da série “Prêt-à-Porter”, que faz dez anos, é possível assistir à “Coletânea 1” (ter., às 20h, no Sesc Avenida Paulista, até 24/ 6) e ao “Prêt-à-Porter 9” (sáb., às 18h30, no Sesc Consolação, até 30/8). Seguem ainda “Senhora dos Afogados” (sex. e sáb., às 21h, e dom., às 19h, no Sesc Anchieta, até 27/7) e “O Céu Cinco Minutos Antes da Tempestade”, do círculo de dramaturgia do CPT, coordenado por Antunes (sex., às 21h, no Sesc Consolação, até 25/7). “Falo aos atores: “O CPT é de vocês, não sou eu”. Tenho de descentralizar esse troço. Agora temos base para isso.” 


Peça: Foi Carmen
Quando: estréia hoje, às 21h; ter., às 21h; até 29/7 
Onde: Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 0/xx/11/3234-3000; classificação: 14 anos) 
Quanto: R$ 2,50 a R$ 10 

 

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São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 2008

TEATRO

“Amaro”, drama do ator e autor Luciano Schwab, que contracenou com Paulo Autran em “O Avarento”, estréia hoje em SP
Espetáculo mostra nuanças da vida amorosa em sete cenas curtas sobre queixas, despedidas e vazios de um relacionamento

“Amaro”, drama do ator e autor Luciano Schwab, que contracenou com Paulo Autran em “O Avarento”, estréia hoje em SP

Espetáculo mostra nuanças da vida amorosa em sete cenas curtas sobre queixas, despedidas e vazios de um relacionamento 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

“Amaro” é um termo para representar uma variação de estado -amoroso para o amargo- a que pode sucumbir uma relação. Pelo menos é assim segundo a peça que estréia hoje no Viga Espaço Cênico. Ator que contracenou com Paulo Autran (1922-2007) em sua derradeira produção, “O Avarento”, Luciano Schwab, 34, produziu e escreveu o drama que, segundo ele, tem lá sua pitada de humor. 
 
“Amaro” expõe nuanças da vida a dois em sete tempos, sete cenas de diálogos curtos sobre queixumes, despedidas e vazios. “É uma pequena coletânea de imagens e situações cotidianas que evocam um lado mais amargo do universo amoroso”, diz Schwab, que assume os papéis masculinos, enquanto Ingrid Souza, 32, faz os femininos. Ambos vêm da Escola de Arte Dramática da USP. 
 
“A dramaturgia é feita de uma costura de imagens muitas vezes simbólicas. Na verdade, é um espetáculo bastante sensorial. Existe uma forte linguagem corporal, quase um teatro-dança em alguns momentos”, diz o ator-autor. 
 
O texto cita fragmentos de “A Voz Humana”, de Jean Cocteau, quando a relação está por um fio, e de “A Raiz do Grito”, de Alcione Araújo. Einat Falbel assina preparação corporal e assistência de direção. 



Peça: Amaro
Quando: estréia hoje; sempre qua., às 21h; até 4/6 
Onde: Viga Espaço Cênico (r. Capote Valente, 1.323, Pinheiros, tel. 3801-1843; classificação: 14 anos) 

Quanto: R$ 20 

 

Folha de S.Paulo

São Paulo, quarta-feira, 07 de maio de 2008

TEATRO 

Sem arroubos de produção, nova peça de Hirsch liga as razões do coração à linguagem
Os atores Leonardo Medeiros e Arieta Corrêa dão vida à correspondência entre o autor russo Shklovsky e sua musa

Sem arroubos de produção, nova peça de Hirsch liga as razões do coração à linguagem

Os atores Leonardo Medeiros e Arieta Corrêa dão vida à correspondência entre o autor russo Shklovsky e sua musa 

VALMIR SANTOS
Enviado especial ao Rio 

O diretor Felipe Hirsch, 36, traz a São Paulo duas interpretações do discurso amoroso. “Não sobre o Amor” é o espetáculo mais recente da Sutil Companhia de Teatro, que encerrou temporada no domingo no Rio e estréia nesta sexta no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo (CCBB-SP). Dois dias depois, o Teatro Municipal abriga a primeira de quatro sessões de “O Castelo do Barba-Azul”, a incursão de Hirsch pela direção cênica de ópera. 
 
Ambos os trabalhos, um contemporâneo e outro clássico, tocam as vicissitudes de um homem e de uma mulher na tentativa de alinhar o outro ao um. “Não sobre o Amor” é um espetáculo de câmara, sem arroubos na produção, para dois atores. O ponto de partida para a dramaturgia são as cartas -reais e ficcionais- trocadas entre dois escritores, o russo Victor Shklovsky (1893-1984) e a franco-russa Elsa Triolet (1896-1970). 
 
Ópera composta pelo húngaro Béla Bartók, em 1911, “O Castelo do Barba-Azul” também é protagonizada por um casal, o duque e sua quarta mulher, Judith, que, encerrados em um palácio sombrio, tentam superar traumas do passado. “Na ópera, a força do amor fez com que o duque abrisse as portas, iluminasse o castelo, que no fundo é ele mesmo, e refletisse sobre sua condição”, diz Hirsch. “Em “Não sobre o Amor”, o sentimento também esteve presente entre figuras reais. Só que Victor, como formalista, envolveu esse amor na busca de um formato para uma obra literária.” Ou seja, “Zoo, or Letters Not about Love”, cuja primeira edição alemã é 1923. 
 
Elsa Triolet foi casada com o poeta surrealista Louis Aragon e alçada à condição de musa de Victor Shklovsky, especialista em Tolstói e um dos principais teóricos do formalismo russo. 

Estranhamento
Ao permitir-se sentimental na relação epistolar com Triolet, Shklovsky não dissocia as razões do coração da linguagem. Não à toa, faz citações a Cervantes, Andersen e Swift, entre outros. Alude à técnica de “desfamiliarização” que estruturou, na qual desloca um elemento de seu contexto para fazer com que seja percebido por meio da sua ausência. Isso remete ao efeito de “estranhamento” de Bertolt Brecht, em favor do ponto de vista crítico do espectador. 
 
É o que acontece na correspondência com Triolet, ou Alya, como a batiza no livro. Ela pede ao interlocutor que não deite mais palavras sobre amor. “Pare de escrever sobre o quanto, o quanto, o quanto, o quanto você me ama, porque, no terceiro “quanto”, eu começo a pensar em outra coisa.” 
 
“Essa condição apaixonada serviu a ele como metáfora para um livro que falaria de exílio, de distâncias”, afirma Hirsch. O diretor co-adaptou com o assistente Murilo Hauser a tradução do inglês pelas irmãs Erica e Ursula Migon. 
Na adaptação, são incluídos trechos de cartas entre os escritores Vladimir Maiakóvski e Lilia Brik, irmã de Triolet. Os personagens são vividos por Arieta Corrêa e Leonardo Medeiros. 
 
À narrativa verborrágica, pautada por conceitos e idéias densos em torno da nostalgia, da memória, a cenógrafa Daniela Thomas, parceira da Sutil desde 2001, esquadrinha uma caixa cênica em que o espaço é literalmente desarranjado. Cama, mesa, cadeira, chão, parede, tudo está fora de lugar. 
 
Tal assimetria dialoga com a luz desenhada por Beto Bruel, outro parceiro fixo da companhia. O raio solar que incide sobre a janela transforma-se, cenas adiante, numa clarabóia sob o luar de São Petersburgo ou de Berlim, por onde transitam os enamorados. 
 
Hirsch lança mão de um recurso característico da Sutil: a projeção, no próprio suporte do cenário, de imagens que ajudam a recriar tempos e espaços. Ou de frases introdutórias a cada uma das 28 cartas em jogo. A angústia de Shklovsky é partilhada desde a abertura do espetáculo, quando seu prefácio surge projetado. Um trecho: “Todas as palavras boas estão pálidas de exaustão. Flores, lua, olhos, lábios. Eu gostaria de escrever como se a literatura nunca tivesse existido. Eu não consigo; a ironia devora as palavras. É a maneira mais fácil de superar a dificuldade de se descrever as coisas”. 



Peça: Não sobre o Amor
Quando: estréia sex., às 19h30; qui. a sáb., às 19h30; dom., às 18h. Até 6/7 
Onde: CCBB-SP – teatro (r. Álvares Penteado, 112, centro, tel. 0/xx/11/ 3113-3651) 
Quanto: R$ 15 

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São Paulo, quarta-feira, 07 de maio de 2008

TEATRO 

Dionísio Neto recorre à metalinguagem em texto que esteve no Festival de Curitiba
Dramaturgo contracena com Simona Queiroz na montagem dirigida por Ivan Feijó, em cartaz a partir de hoje no Sesc Consolação

Dionísio Neto recorre à metalinguagem em texto que esteve no Festival de Curitiba

Dramaturgo contracena com Simona Queiroz na montagem dirigida por Ivan Feijó, em cartaz a partir de hoje no Sesc Consolação 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem local 

Há três anos, ao participar do ciclo “Leituras de Teatro”, na Folha, o autor Dionísio Neto anunciava “Desconhecidos” como o texto por meio do qual “se lavava” do passado e com o qual abriria caminhos para a segunda década como artista. 
 
“Começo a penetrar naquilo que sempre quis como artista e que antes, talvez por ser muito novo, apenas intuía”, diz Neto, 36, sobre sua peça mais realista. 
 
A montagem estréia hoje em São Paulo, no Sesc Consolação, após integrar a mais recente edição do Festival de Curitiba, em março. 
 
Atuante desde a metade da década passada, com textos como “Perpétua” e “Opus Profundum”, o maranhense Neto, que também atua em suas peças e está radicado em São Paulo desde os anos 80, recorre ao metateatro para contar a história com a Companhia Satélite. 
 
No prólogo, uma cena naturalista à la “Prêt-à-Porter”, a série coordenada por Antunes Filho no CPT. Flor de Lótus e Francisco Carlos formam o casal de atores flagrado no cotidiano do lar. O almoço por fazer, os queixumes, a cegueira passageira dele, a síndrome de pânico dela. E, sobretudo, as expectativas quanto ao espetáculo em que atuam à noite. 
 
Cerca de 12 minutos depois, vira o jogo. Os mesmos atores surgem na peça dentro da peça. “A partir daí, as cenas caminham para um realismo extremo e ao mesmo tempo onírico, de tintas surreais, em contraponto ao início”, diz o diretor Ivan Feijó, 37. 
Agora, os atores-personagens (sempre interpretados por Simona Queiroz e Neto) vivem, respectivamente, a aeromoça Catirina, que acaba de ser demitida, e o dono de um restaurante, Cristino dos Anjos Neto. Eles se conhecem por acaso, no banco de uma praça deserta. E deixam aflorar a intimidade entre um homossexual e uma mãe de família. 
 
Súbito, o roteiro corta para a ação violenta do serial killer que mata mulheres de uniforme e lhes devora o coração. 
 
“Estou aproximando ao máximo meus personagens do ultra-realismo na busca de uma identificação direta com o público, um trampolim para a catarse coletiva”, diz Neto. 
 
A sexualidade também é uma das chaves. “Na primeiro parte, o ator que desempenhará o papel do homossexual Cristino é profundamente homofóbico. 
 
Ele acaba por espelhar grande parcela da sociedade, e seu maior desafio será interpretar o gay sem cair em estereótipos, deixando-o humano, demasiadamente humano”, diz Neto sobre seus papéis.



Peça: Desconhecidos
Quando: estréia hoje; qua. a sex, às 21h; até 27/6 
Onde: Sesc Consolação – 3º andar (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 0/xx/11/3234-3000) 
Quanto: R$ 10 

Folha de S.Paulo

São Paulo, segunda-feira, 05 de maio de 2008

TEATRO 

Gratuita, 3ª Mostra de Teatro de Grupo acontece de hoje a domingo, no CCSP
La Candelaria, criada há 42 anos em Bogotá, procura interpretar a realidade sociopolítica por meio de caminhos poéticos

Gratuita, 3ª Mostra de Teatro de Grupo acontece de hoje a domingo, no CCSP

La Candelaria, criada há 42 anos em Bogotá, procura interpretar a realidade sociopolítica por meio de caminhos poéticos 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local

“Toda arte é envolvida pela política, assim como a vida”, diz o diretor Santiago García, 79. Elementar, vindo do co-fundador do grupo Teatro La Candelaria, surgido há 42 anos no bairro homônimo de Bogotá.
 
La Candelaria é exemplo de companhias da América Latina convictas em revelar a realidade sociopolítica por meio de caminhos poéticos da cena. Daí sua presença-chave na abertura da 3ª Mostra Latino-Americana de Teatro de Grupo, que a Cooperativa Paulista de Teatro realiza de hoje a domingo no Centro Cultural São Paulo, com entrada franca.
 
Os grupos apresentam uma peça e, no dia seguinte, demonstram seus modos de criação. São seis estrangeiros (entre eles o equatoriano Teatro Malayerba e o português A Barraca, como convidado especial) e cinco do Brasil (como a mineira Cia. de Teatro Ícaros do Vale, do Vale do Jequitinhonha, dirigida por João das Neves, ligado ao Centro Popular de Cultura e ao Teatro Opinião nos anos 60).
 
O espetáculo que o La Candelaria traz, “El Paso (Parabola del Camino)”, nasceu há 20 anos. Foi movido, em parte, por crítica ao “poder imperialista” dos EUA na região, caso do controle sobre o canal do Panamá (1914-1999). Em duas décadas, porém, os colombianos adensaram a dramaturgia para o seu próprio contexto de violência gerada pelo narcotráfico.
 
A ação se passa numa taberna nos confins; local ermo, cruzamento de quem ali vive (a dona, a prostituta, o gigolô, o garçom, uns músicos) com os que estão de passagem. A chegada de dois estranhos instaura tensão percebida por gestos e silêncios, costurando drama, comédia, farsa e melodrama.
 
“Ocorre uma série de estranhos acontecimentos. Pouco a pouco, eles se apoderam e corrompem a todos”, diz García. O diretor também divide o palco com 12 atores. Para ele, a criação coletiva “não é um método, mas uma atitude” que herdou de artistas e pensadores como o conterrâneo Enrique Buenaventura (1925-2003) e o uruguaio Atahualpa del Cioppo (1904-1993).
 
Entre os encontros paralelos da mostra, acontece hoje, às 17h, debate com gestores culturais representantes de Brasil, Argentina, Cuba, Colômbia, Equador e Venezuela sobre políticas públicas para o setor.
 

Amanhã, das 9h30 às 13h, está programado o Encontro Latino-Americano da Organização Internacional de Cenógrafos, Técnicos e Arquitetos Teatrais do Brasil e da Associação Brasileira de Iluminação Cênica. Uma mesa formada por profissionais de cada grupo trata do tema “Transnacionalidade: Causas e Efeitos em Intercâmbios Culturais”. O objetivo é refletir sobre as relações de trabalho entre os países e as influências de outras culturas.

 

Folha de S.Paulo

São Paulo, sábado, 03 de maio de 2008

TEATRO 

Em “Loucos por Amor”, Francisco Medeiros tenta fugir dos estereótipos do caubói
Em cartaz no Coletivo Fábrica, montagem de texto de Sam Shepard tem no elenco Umberto Magnani, que completa 40 anos de palco

Em “Loucos por Amor”, Francisco Medeiros tenta fugir dos estereótipos do caubói

Em cartaz no Coletivo Fábrica, montagem de texto de Sam Shepard tem no elenco Umberto Magnani, que completa 40 anos de palco 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

O Oeste que conforma a base da dramaturgia do americano Sam Shepard, 64, surge de forma mais interiorizada que explícita na montagem de “Loucos por Amor” que Francisco Medeiros, 59, estreou ontem no Coletivo Fábrica, como diretor convidado do Grupo Já. 
 
A figura do caubói quarentão, machista, esmerado em pôr a espora na bota, em exibir o revólver, a habilidade com o laço e o trato com os cavalos -afetos freqüentemente inversos ao que destina à mulher pela qual é apaixonado- aparece sem essas convenções. Ele se aproxima mais do ser urbano. “Não dava para trazer o tipo caubói para cá. O country no Brasil é uma coisa maquiada, “fake”. Não teria sentido veicular essa imagem arquetípica”, diz Medeiros. Ainda assim, os personagens Eddie (interpretado por Charles Geraldi), caminhoneiro que transporta cavalos, e Velho (por Umberto Magnani), o ser espectral que pontua a história, não deixam de refletir a sociedade patriarcal, individualista e autoritária. 
 
Com tradução e adaptação de Alexandre Tenório, despontam os conflitos de Eddie e Mae (Rennata Airoldi), namorados que vão e vêm numa paixão de 15 anos. Em um quarto de hotel à beira de um deserto (mas poderia ser em um apartamento paulistano, sugere o diretor), a chegada de Martin (Paulo Almeida), aguardado por ela, precipita lembranças e revelações. 
 
No plano da fantasia, que dialoga o tempo todo com essa realidade do triângulo esboçado, a figura do Velho também constitui peça-chave no quebra-cabeça à disposição do espectador. “A atmosfera é de suspense hitchcockiano”, diz Medeiros. Com “Loucos por Amor”, Magnani completa 40 anos de palco. Ele estreou profissionalmente em “Esse Ovo É um Galo” (1968), de Lauro César Muniz, quando ainda estudava na Escola de Artes Dramáticas. 



Peça: Loucos por Amor 
Onde: teatro Coletivo Fábrica (r. da Consolação, 1.623, tel. 3255-5922) 
Quando: sex. e sáb., 21h30; dom., 20h 

Quanto: R$ 5 (promoção até 11/5) e R$ 20 (ao longo da temporada) 

 

Folha de S.Paulo

São Paulo, sexta-feira, 02 de maio de 2008

TEATRO 
Atriz fez pesquisa de campo para “Eu Quero Ver a Rainha” 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

A atriz Fabiana Fonseca, 29, passou parte de 2005 convivendo com prostitutas do Jardim Itatinga, em Campinas. A pesquisa de campo sobre a sexualidade e o erotismo femininos é retratada no espetáculo solo “Eu Quero Ver a Rainha”, que veio à luz naquele mesmo bairro, em 2006, e estréia hoje no Espaço dos Satyros 2.
O título é homônimo da letra de Jorge Ben Jor e, também, citação à figura da pombajira na umbanda. Fonseca diz ter consciência do quão complexo é focar o corpo da mulher no âmbito das profissionais do sexo, aferir desejos, medos, dores e prazeres.
“Foi um mergulho intenso, pesado, pleno em contradições que mexem com o íntimo. Sei que a criação artística reflete apenas parte daquele universo, em que também encontrei muito de mim.”
A “rainha” surge inicialmente como caricatura da garota dona de si, desbocada e na defensiva. Aos poucos, expõe histórias, feridas físicas e emocionais, até dar lugar à mulher comum, como tantas em que Fonseca viu refletir a si mesma na fala, no jeito de se vestir, na ilusão do grande amor.
Ela é acostumada a traduzir realidades marginalizadas por meio de técnicas como “mimese corpórea” (imitação) e Teatro do Oprimido (Augusto Boal). Atuou nos grupos Matula e Boa Cia. O solo a enredou por iniciativas sociais junto a associações de prostitutas.
No final do mês, organizará debate nos Satyros e, em junho, desfile da grife carioca Daspu na praça Roosevelt.
EU QUERO VER A RAINHA
Onde: Espaço dos Satyros 2 (pça. Franklin Roosevelt, 134, tel. 0/xx/11/ 3258-6345)
Quando: sex. e sáb., à 0h. Até 28/6
Quanto: R$ 5 a R$ 20

A atriz Fabiana Fonseca, 29, passou parte de 2005 convivendo com prostitutas do Jardim Itatinga, em Campinas. A pesquisa de campo sobre a sexualidade e o erotismo femininos é retratada no espetáculo solo “Eu Quero Ver a Rainha”, que veio à luz naquele mesmo bairro, em 2006, e estréia hoje no Espaço dos Satyros 2.

O título é homônimo da letra de Jorge Ben Jor e, também, citação à figura da pombajira na umbanda. Fonseca diz ter consciência do quão complexo é focar o corpo da mulher no âmbito das profissionais do sexo, aferir desejos, medos, dores e prazeres.

“Foi um mergulho intenso, pesado, pleno em contradições que mexem com o íntimo. Sei que a criação artística reflete apenas parte daquele universo, em que também encontrei muito de mim.

“A “rainha” surge inicialmente como caricatura da garota dona de si, desbocada e na defensiva. Aos poucos, expõe histórias, feridas físicas e emocionais, até dar lugar à mulher comum, como tantas em que Fonseca viu refletir a si mesma na fala, no jeito de se vestir, na ilusão do grande amor. 

Ela é acostumada a traduzir realidades marginalizadas por meio de técnicas como “mimese corpórea” (imitação) e Teatro do Oprimido (Augusto Boal). Atuou nos grupos Matula e Boa Cia. O solo a enredou por iniciativas sociais junto a associações de prostitutas. 

No final do mês, organizará debate nos Satyros e, em junho, desfile da grife carioca Daspu na praça Roosevelt. 


Peça: Eu quero ver a Rainha
Onde: Espaço dos Satyros 2 (pça. Franklin Roosevelt, 134, tel. 0/xx/11/ 3258-6345) 
Quando: sex. e sáb., à 0h. Até 28/6 
Quanto: R$ 5 a R$ 20

Folha de S.Paulo

São Paulo, quinta-feira, 01 de maio de 2008

TEATRO 

Reencontro de triângulo amoroso é tema de “Tape”, de Belber, que estréia amanhã
Espetáculo que entra em cartaz no teatro Sérgio Cardoso põe três amigos de colégio num quarto de hotel passando histórias a limpo

Reencontro de triângulo amoroso é tema de “Tape”, de Belber, que estréia amanhã

Espetáculo que entra em cartaz no teatro Sérgio Cardoso põe três amigos de colégio num quarto de hotel passando histórias a limpo 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Um mal-ajambrado triângulo amoroso de dez anos atrás implode de vez no reencontro de dois rapazes e uma garota que se conheceram no colegial. 
 
Encerrados no quarto de um hotel, eles passam a limpo as mágoas juvenis que, sobretudo nos homens, deixaram um travo na garganta. 
 
“A peça fala de amigos magoados”, diz o diretor Mário Bortolotto, 45. Magoados porque Vince namorou com a moça, mas foi Jon quem transou com ela, como está amarrado em “Tape”, do americano Stephen Belber, produção independente (leia-se sem patrocínio ou prêmios) que a Cia. Provisório-Definitivo estréia amanhã, no teatro Sérgio Cardoso. Jon virou cineasta. Vince, traficante. E Amy, o vértice amoroso, advogada. Ela surge da metade em diante, quando Vince já “pegou pesado” com a cocaína e com o ardil que arma para o “muy amigo”, convencendo Jon de que aquele sexo “selvagem” com Amy na verdade foi um “estupro”. Às agressões física e verbal, misturam-se culpas e hipocrisias nem sempre sinceras. 
 
Até que Amy bate à porta do quarto, conforme a bem bolada articulação de Vince, que tomou o cuidado ainda de gravar toda a lábia confessional de Jon sobre remorsos do passado. A fita cassete, convertida a “prova do crime”, expõe ainda mais o ridículo a que os homens estão se submetendo. 
 
“Quando a mina entra na parada, ela arrebenta com os dois. Eu entendo o sentimento egoísta deles”, diz Bortolotto. 

Identificação com Belber
Diretor convidado, ele identificou-se com a dramaturgia de Belber, de frases curtas, de não-julgamento dos personagens. A tônica é do seu grupo, o Cemitério de Automóveis, já que também adaptou o texto e assina desenho de luz e trilha. 
“A inversão de papéis nos chamou a atenção: o mocinho que tem lá o seu lado obscuro e o sujeito aparentemente obscuro que mostra seu lado ingênuo”, diz o ator Pedro Guilherme, 27, que contracena com Marcelo Selingardi (Vince) e Carolina Fauquemont (Amy). 
 
Quem sugeriu a montagem de “Tape” foi o ator Henrique Stroeter, dos Parlapatões, que assistiu à versão para o cinema da peça de Belber (de 1964), sob roteiro do próprio, pelo diretor Richard Linklater, em 2001, com Ethan Hawke e Uma Thurman no elenco. 
 
A Cia. Provisório-Definitivo foi criada em 2001 e costuma trabalhar com textos realistas nas produções para o público adulto. Entre os espetáculos, estão “Verdades, Canalhas”, de Mário Viana, “O Colecionador”, de John Fowles, “Bulgóia, Repenique & Tropeço”, de Hugo Possolo e Arnaldo Soveral, e “Todo Bicho Tudo Pode Sendo o Bicho que se É”, de Pedro Guilherme. 



Peça: Tape
Onde: teatro Sérgio Cardoso -sala Paschoal Carlos Magno (r. Rui Barbosa, 153, tel. 3288-0136) 
Quando: estréia amanhã; sex. e sáb., às 21h30, e dom., às 20h; até 29/6 
Quanto: R$ 10 a R$ 20