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Reportagem

Musicômicos

10.8.2012  |  por admin

Foto de capa: Foto divulgação

Em sua experiência com teatro para criança, a banda Dona Zefinha, de Fortaleza, une a vocação performática que lhe deu reconhecimento no palco à máscara universal do palhaço. A música rouba a cena, naturalmente, e libera os atores/cantores/tocadores para conciliar instrumento e voz com o espírito mambembe do artista popular centrado na expressão física – mínima que seja, no caso. O título enuncia uma imagem tão improvável quanto atraente: O circo sem teto da lona furada dos bufões. Piada pronta ao quadrado quando a sessão do espetáculo é agendada para uma casa de 150 anos, de feições neoclássicas, caso do Teatro de Santa Isabel. E o quinteto, no entanto, supera a distância do palco frontal, encolhe a vastidão das frisas nas alturas e ganha sua plateia para uma relação mais entrosada do que a arquitetura supunha.

Dona Zefinha desfia um roteiro tão fuleiro quanto a rima pobre que emenda ou a comicidade que defende. Isso tem a ver com a crítica às condições do artista de circo no Nordeste, não é de hoje. Falam do lugar que conhecem. A aparente despretensão dá unidade ao projeto concebido e dirigido por Orlângelo Leal, também intérprete. Ele faz às vezes de um mestre de cerimônia que sampleia os chavões dos números e discursos tradicionais do circo. Esta arte é homenageada sem idealizações estilísticas. Antes, destaca a reverência e a irreverência ao remendo da lona e a coragem do palhaço em fazer rir independente das circunstâncias adversas da atividade escolhida ou muitas vezes hereditária.

Leal, Ângelo Márcio, Paulo Orlando, Joélia Braga e Samuel Furtado interagem com adultos acompanhantes com a mesma capacidade com que conquistam as crianças. Há alguns aspectos, porém, que merecem lapidar. Como exercitar a fundo a bufonaria que evoca no título. Ela ainda soa correta. Ou estruturar uma dramaturgia, um norte narrativo em que a musicalidade inerente ao gênero desenhasse espaços e tempos com mais autonomia. Alguns momentos acenam para isso, como o da bailarina travestida em seu vestido rosa, nariz de palhaço e sapatos agigantados na ponta dos pés, um tipo cômico daqueles que podem levar o braço teatral da Zefinha a evoluir para uma linguagem de traços cênicos mais sólidos e conversar com a música no mesmo nível. Música que, inclusive, abafa parte dos diálogos e causa ruídos, apesar (ou por causa) dos microfones individuais. Pela canja que deu nas cordas, sopros e gags, o núcleo cearense mostra potencialidades para aprimorar sua pesquisa no campo dos musicais para crianças de todas as idades e seguir fazendo da convergência a sua diferença.

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