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Crítica

Em Cabo enrolado, da Cia Graxa (SP), a vinheta instrumental de Imunização racional faz um sobrevoo-relâmpago na paisagem sonora e desperta da memória os versos da canção mais conhecida pelo título informal Que beleza, primeira faixa do disco Tim Maia racional vol. 1 (1975): “Que beleza é saber seu nome/ Sua origem, seu passado/ E seu futuro/ Que beleza é conhecer/ O desencanto/ E ver tudo bem mais claro/ No escuro”. Poderia ser uma boa súmula ante a experiência de presenciar o que é narrado e proporcionado no espetáculo que tem na musicalidade uma das suas vigas mestras. O que pode ser ilustrado pelo acompanhamento espontâneo da batida de pé, em diferentes momentos, por quem está posicionado na plateia, uma arquibancada da Sala Multiuso do Espaço Cultural Renato Russo, na programação do Cena Contemporânea – Festival Internacional de Teatro de Brasília.

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O teatro anda afeiçoado aos romances de Maria Valéria Rezende. Carta à rainha louca (Alfaguara, 2019), por exemplo, ganha uma segunda adaptação em menos de dois anos. Em São Paulo, o musical de mesmo nome, produção inédita do Núcleo Toada, faz temporada no Sesc Bom Retiro entre 12 de setembro e 12 de outubro. Um projeto idealizado pela atriz, cantora e preparadora vocal Lilian de Lima, com dramaturgia de Bárbara Esmenia, direção de Patricia Gifford, direção musical de Fernanda Maia, também responsável por composições e arranjos, e um coro de 17 vozes em cena.

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Achados sobre as ilusões

15.8.2025  |  por Teatrojornal

No marco dos seus 25 anos de trabalho, a Cia. Elevador de Teatro Panorâmico, da cidade de São Paulo, elegeu montar uma peça do ator e dramaturgo italiano Eduardo De Filippo (1900-1984) escrita há 77 anos e jamais apresentada profissionalmente no Brasil. A grande magia (1948) chega como estímulo atemporal de um dos comediógrafos expoentes do século XX para refletir sobre as formas de violência geradas pela manipulação da verdade, em temporada de 30 de agosto a 21 de setembro no Teatro Raul Cortez do Sesc 14 Bis. O desafio em distinguir a condição humana da produção artificial das coisas, fatos e sensações imprime níveis de tragicidade ainda mais flagrantes nos dias de hoje, tanto no plano das relações interpessoais como de governos tirânicos, cínicos, devotados a ruir a democracia por dentro.

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O novo e 14º espetáculo da Companhia de Teatro Heliópolis, A boca que tudo come tem fome (Do cárcere às ruas), que cumpre temporada de quinta (10) a 3 de agosto no Sesc 14 Bis – Teatro Raul Cortez, em São Paulo, traz à lembrança, por contraste, duas peças do santista Plínio Marcos (1935-1999): Barrela (1958), uma noite na cela em que seis presos estão sujeitos a regras próprias tão violentas quanto o sistema prisional do Estado, até que a chegada de um sétimo personagem irrompe descontrole; e, trinta anos depois, A mancha roxa (1988), que também se passa em uma cela, dessa vez em presídio feminino, mostrando seis personagens às voltas com perturbação física e psíquica ou doença que, à época, costumava ser associada à Aids, jamais mencionada no texto, tampouco qualquer outra enfermidade é nomeada.

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No prefácio à mais recente tradução de As veias abertas da América Latina no Brasil, de 2010, o jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano (1940-2015) admitiu: “Sei que pode parecer sacrílego que este manual de divulgação fale de economia política no estilo de um romance de amor ou de piratas”. Por manual de divulgação entenda-se “um inventário da dependência e da vassalagem de que a América Latina tem sido vítima, desde que aqui aportaram os europeus no final do século XV”, como informa a L&PM Editores na contracapa.

O livro mais conhecido do ensaísta e ficconista inspira a pesquisa e criação do 14º espetáculo da Aquela Cia, Veias abertas 60 30 15 seg, no marco dos 20 anos de trabalho continuado na cidade do Rio de Janeiro, manejando memória coletiva, fabulação e imaginário social no campo das artes da cena, como se viu em Caranguejo overdrive (2015) Guanabara canibal (2017). A temporada de estreia nacional acontece no Sesc Pompeia, em São Paulo, entre 11 de junho e 4 de julho.

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São múltiplas as afinidades entre os campos da advocacia e do teatro. Dramaturgias de diferentes regiões do planeta abordam noções de moralidade, ética e justiça em processos envolvendo defensores que despontam ao lado de seus clientes e em meio a juízes, promotores e júri. Já a técnica de interpretação costuma ser veiculada em cursos livres como ferramenta para o desempenho profissional em tribunais. No caso do espetáculo Lady Tempestade, a filosofia de vida, a militância e a coragem do trabalho da advogada Mércia Albuquerque Ferreira (1934-2003) estruturaram o ofício de defensora de pessoas presas, torturadas e muitas assassinadas por fazerem oposição à ditadura civil-militar (1964-1985) em Pernambuco e outros estados vizinhos na esteira do golpe que depôs o presidente democraticamente eleito João Goulart (1919-1976).

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Nelson Rodrigues tinha 43 anos quando Bertolt Brecht morreu, em 14 de agosto de 1956, aos 58 anos. O brasileiro escreveu 17 peças em 37 anos, de 1941 a 1978. Viveu 68 anos. Consta que o alemão concebeu pelo menos 48 textos para teatro ao longo de 41 anos, de 1913 a 1954, inclusive quando passou 15 anos no exílio. As obras de Rodrigues (1912-1980) e Brecht (1898-1956), portanto, são filhas do século XX e seguem permeando a cena brasileira, a despeito das temáticas e linguagens diametralmente opostas.

Ambos os dramaturgos estão presentes na temporada de abril na cidade de São Paulo com as estreias de Gente é gente, no Sesc Vila Mariana, espetáculo livremente inspirado na peça Um homem é um homem, de Brecht, escrita entre 1926 e 1956, com direção de Marco Antonio Rodrigues, atuações de Aílton Graça, Dagoberto Feliz, Nábia Villela e demais artistas, sob direção musical de Zeca Baleiro, e de Senhora dos afogados, no Sesc Pompeia, a partir de 25/4, segundo abraço da atual Companhia Teatro Oficina Uzyna Uzona a Nelson Rodrigues em 66 anos de trajetória, desta vez sem a presença de José Celso Martinez Corrêa (1937-2023), que encenou Boca de ouro em 1999. A responsabilidade agora cabe à diretora convidada Monique Gardenberg. O elenco soma Marcelo Drummond, Sylvia Prado, Leona Cavalli, Giulia Gam, Regina Braga, Cristina Mutarelli, Michele Matalon, Muriel Matalon e Roderick Himeros, dentre 23 atuantes e três músicos.

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A zona leste de São Paulo são muitas, e atualmente abrange doze subprefeituras. Os territórios da Penha e de São Miguel Paulista, por exemplo, são ao mesmo tempo bairro e distrito. A Penha fica mais próxima do centro expandido da cidade. São Miguel, no limite da periferia urbana. Uma visita à memória da sociedade na década de 1970 permitiria constatar facilmente que essa noção de tempo e espaço era mais dilatada considerando-se a perspectiva do marco zero na Praça da Sé. Ao longo dos anos, o transbordamento geográfico avançou glebas adiante em direção a áreas rurais que viriam a conformar no mapa o também bairro e distrito Cidade Tiradentes.

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Vãos e vens

20.3.2025  |  por Valmir Santos

Nos últimos dias, a memória reacendeu imagens dilacerantes geradas pela pandemia de coronavírus que causou mais de 7 milhões de óbitos no planeta, desde março de 2020. O distanciamento social foi uma das medidas mais adotadas por governos não negacionistas, ao contrário da criminosa gestão do Ministério da Saúde no Brasil, sob governo civil-militar. Como se sabe, nos períodos mais críticos, antes da chegada das vacinas, a medida visava a restringir a interação entre pessoas para diminuir a velocidade de transmissão. Pois reminiscências daquele olho de furacão sanitário podem ser percebidas em outras chaves segundo o corpo sócio-histórico de diferentes formas de lonjuras e proximidades, os vãos e vens que cruzaram espetáculos e ações de Rondônia e Rio Grande do Sul durante a segunda e última semana do Projeto Conexões Norte-Sul, organizado por Sesc RS e Itaú Cultural, de 6 a 16 de março, na sede da instituição paulista, em simultaneidade aos cinco anos do princípio da COVID-19.

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Novos velhos corpos 50+, direção geral Suzi Weber, com Coletivo 50+ (Eva Schul, Monica Dantas, Weber, Eduardo Severino, Rossana Scorza e Robson Lima Duarte)

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“A gente é feito roda, sanfoneiro, só se equilibra em movimento”. Quando o dono da trupe e cafetão Lorde Cigano fala ao sanfoneiro Ciço, na parte final do filme Bye bye, Brasil (1979), de Cacá Diegues, a Caravana Rolidei já tinha trocado de caminhão e adotado a grafia Rolidey, agora em letreiro luminoso. No roteiro, seus artistas ambulantes rumam de Brasília para Rondônia, na tentativa de desviar da modernidade da televisão que tomava de assalto os lares urbanos do país. Levemente adaptada, a frase é citada no espetáculo teatral Meu amigo inglês (2022), do diretor e dramaturgo Mário Zumba, uma produção do Grupo O Imaginário, em atividade desde 2005 em Porto Velho.

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