Reportagem
17.2.2014 | por Helena Carnieri
Foto de capa: Marcia Ribeiro
As curadorias especiais dentro da mostra paralela do Festival de Teatro, o Fringe, receberam um incentivo maior neste ano e já chegam a 11 programações. Entre elas, há seleções feitas por grupos curitibanos para atrair público a suas sedes, mostras de espetáculos afins e de visitantes de outros estados que obtiveram apoio para trazer seus espetáculos a Curitiba.
O destaque é a ampliação desse interesse de fora do Paraná no festival. Em anos anteriores, o curitibano ficou íntimo do teatro mineiro, que já criou vínculos com nossos grupos. Em 2013, foi a vez de a Bahia aproveitar a oportunidade para mostrar o trabalho de seus artistas. Neste ano, a Fundação Cultural baiana repete a dose, com seis espetáculos selecionados pelo ator Lázaro Ramos, oficinas e bate-papos.
O Espírito Santo inaugura sua presença, trazendo cinco espetáculos que enfocam grandes autores da literatura e da dramaturgia, como García Lorca, Guimarães Rosa e Goethe.
O interior e litoral de São Paulo também serão representados na mostra Ademar Guerra, projeto da Secretaria de Cultura paulista que incentiva o desenvolvimento das artes cênicas fora da capital. Um dos destaques promete ser a peça Quadrado, de São José do Rio Preto, que discute a arte feita hoje.
Prata da casa
Os grupos de Curitiba também perceberam a oportunidade de atrair público para suas sedes. A Mostra Internacional de Solos apresentará trabalhos de atores experientes como Fabiana Ferreira (vencedora do último Gralha Azul de melhor atriz), Regina Vogue e Edson Bueno na Cia. do Abração (que anteriormente enfocava uma seleção infantil). “Estamos investindo nessa linguagem e o festival será um período de teste”, acredita a diretora Letícia Guimarães.
A Cia. Ave Lola inaugura sua participação trazendo de volta peças do repertório e uma oficina de máscaras balinesas, enquanto a mostra da Cia. dos Palhaços (Mostra Seu Nariz) continua em cartaz, com número recorde de 16 espetáculos e destaque para a produção humorística de Campinas (SP).
As mostras que inauguraram o conceito de curadoria dentro do Fringe continuam marcando presença e apresentando ao público do festival a produção recente do teatro contemporâneo da cidade. A tradicional Mostra de Novos Repertórios traz seis espetáculos que percorreram os espaços alternativos de Curitiba e uma estreia: Do cão fez-se o dia, produção da Inominável Cia. originada a partir de um círculo de leituras das obras do angolano-português Valter Hugo Mãe, com destaque para o livro O filho de mil homens. “Mostramos um universo nada realista de uma família em situação de guerra, mas sem dar muita certeza se ela existe ou se são conflitos interiores”, conta a diretora Lilyan De Souza.
A Súbita Cia. está presente com duas peças estreadas no ano passado: Amores difíceis, apresentada em novembro passado no Festival de Manaus, e Extraordinário cotidiano, baseada em obras da gaúcha pop Verônica Stieger, mas com uma alteração: saem dois atores da mineira Casca e entram Pablito Kucarz e Cleydson Nascimento.
“Fazemos uma organização de artistas e aproveitamos o público uns dos outros”, explica a diretora da Súbita, Maíra Lour.
O Coletivo de Pequenos Conteúdos traz dez peças, todas curtas e experimentais, como Carnequeimada – meu campo de extermínio favorito, de Manolo Kottwitz. “Por mais incrível que pareça, ela é baseada em Shakespeare”, brinca o diretor, que passou três semanas convivendo com sem-tetos da região do Terminal do Guadalupe e identificou as vicissitudes que os mantêm nas ruas às bruxas-agourentas de Macbeth. O resultado é um show de jazz criado a partir da canção Strange fruit, de Billie Holiday.
Curitiba também está com mostras novas, como o Ateliê de Histórias, para a arte da “contação” infantil, e Sonora Cena, que enfatiza a ligação do festival com outras linguagens – no caso, a música autoral.
.:. Publicado originalmente na Gazeta do Povo, Caderno G, p. 5, em 16/2/2014.
Conheça as mostras especiais do Fringe
• ES em Cena
Onde: Sala Londrina (Memorial de Curitiba)
O que é: Espetáculos selecionados pela Secretaria da Cultura do Espírito Santo para trazer um panorama da produção do estado.
• Mostra Baiana
Onde: Teatro José Maria Santos
O que é: Seleção realizada pelo ator Lázaro Ramos (o que não quer dizer que ele venha junto com as peças…) para a Fundação Cultural da Bahia e que reflete a produção atual do estado.
• Mostra Ademar Guerra
Onde: Teatro Experimental da UFPR (Teuni) e rua
O que é: Espetáculos selecionados por um projeto da Secretaria da Cultura de São Paulo que investe no teatro do interior e do litoral do estado vizinho.
• Mostra Novos Repertórios
Onde: Teatro Novelas Curitibanas
O que é: A sétima edição da mostra mais antiga do Fringe permite rever atrações do teatro curitibano contemporâneo realizadas ao longo de 2013 e 2014 e mais a estreia de Do cão fez-se o dia.
• Mostra Coletivo de Pequenos Conteúdos
Onde: Teatro Universitário de Curitiba (TUC)
O que é: Já em sua sexta edição, apresenta os espetáculos mais experimentais entre as mostras, com destaque para performances.
• Mostra Sesi Dramaturgia
Onde: Teatro José Maria Santos
O que é: Reapresentação de montagens criadas a partir de textos contemporâneos escritos ao longo da oficina de dramaturgia do núcleo Sesi-Teatro Guaíra.
• Mostra Ave Lola
Onde: Sede da companhia Ave Lola
O que é: Reapresentação dos espetáculos O malefício da mariposa e Tchékhov, além de bate-papos e uma oficina de máscaras balinesas.
• Mostra Seu Nariz
Onde: Sede da Cia dos Palhaços
O que é: Espetáculos de humor selecionados entre Curitiba, São Paulo e Santa Catarina.
• Mostra Internacional de Solos (MIS)
Onde: Sede da Cia. do Abração
O que é: Peças com foco no trabalho de ator, em sua maioria, performances com elenco experiente da cidade.
• Mostra Ateliê de Histórias
Onde: Livraria Navegadores
O que é: Contação de histórias, incluindo fanzines literários ilustrados para o palco.
• Mostra Sonora Cena
Onde: Capela Santa Maria
O que é: Espaço para a canção autoral, com músicos como o rapper Cabes MC.
.:. O Festival de Curitiba acontece de 26/3 a 6/4. Ingressos à venda pelo site, aqui.
Jornalista formada pela Universidade Federal do Paraná, instituição onde cursa o mestrado em estudos literários, com uma pesquisa sobre A dama do mar de Robert Wilson. Cobre as artes cênicas para a Gazeta do Povo, de Curitiba, há três anos. No mesmo jornal, já atuou nas editorias de economia e internacional.