Crítica
Esta 23ª edição do Festival de Curitiba pertenceu a Shakespeare. As montagens estrangeiras de Otelo e A violação de Lucrécia apresentaram o melhor que o teatro pode dar, que é o encantamento pela voz e corpo dos atores em meio a outros elementos cênicos. Foi gratificante ver o preparo do grupo chileno Viajeinmóvil, que manipula manequins para recontar a tragédia do Mouro de Veneza, e da dupla Camille O´Sullivan (vocal/narração) e Feargal Murray (piano), que acrescentou sua poesia ao poema erótico do bardo.
Da mesma forma, a equipe argentina de Daniel Veronese acrescentou maestria de atuação e latinidade à versão de Sonata de otoño, texto do cineasta Ingmar Bergman filmado por ele em 1974. Grupos nacionais também revelaram grande empenho dos atores, como Cais ou da indiferença das embarcações.
Já no Fringe, com tantas mostras especiais (eram 11) o tempo foi curto para obter um panorama mais geral. Uma boa surpresa foi conhecer o trabalho do grupo amador Os Bárbaros, de Presidente Prudente (SP), que prometia entregar “Ibsen como você nunca viu” dentro da mostra Ademar Guerra, pela qual o governo paulista apoia o desenvolvimento do teatro no interior de São Paulo. A Casa de bonecas proposta por eles brinca com as fartas e realistas rubricas do texto de Ibsen, com o uso de um narrador e uma protagonista Nora devidamente abonecada – até o momento em que se revolta contra as ordens do autor e passa a ter vontade própria, numa releitura da transformação por que passa a personagem norueguesa.
.:. Publicado originalmente na Gazeta do Povo, Caderno G, em 8/4/2014.
Jornalista formada pela Universidade Federal do Paraná, instituição onde cursa o mestrado em estudos literários, com uma pesquisa sobre A dama do mar de Robert Wilson. Cobre as artes cênicas para a Gazeta do Povo, de Curitiba, há três anos. No mesmo jornal, já atuou nas editorias de economia e internacional.