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Reportagem

Adaptações, vozes e jogos

11.1.2015  |  por Helena Carnieri

Foto de capa: Divulgação

A julgar pelas estreias teatrais já anunciadas para o ano, 2015 se dividirá entre adaptações de grandes textos nacionais e criações a partir da voz das ruas e de jogos artísticos.

Entre os clássicos locais, teremos Machado de Assis, Dalton Trevisan e Paulo Leminski, com montagens experimentais no Teatro Novelas Curitibanas a partir de junho.

Já em fevereiro, para esquentar as turbinas, haverá duas brincadeiras teatrais: Gilda Convida Maria Bueno, pela qual a CiaSenhas promoverá criações coletivas entre pessoas que nunca trabalharam juntas a partir da vida dessas duas personagens curitibanas; e Stand up and down #tentativa nº4, pocket-show transformado em peça sobre a passagem do tempo para as mulheres, com direção de Pagu Leal.

Após a efervescência do Festival de Curitiba (24 de março a 5 de abril), estreia em maio a muito anunciada peça infantil da companhia Vigor Mortis – uma opção surpreendente para os especialistas em sangue e artérias. Lobos nas paredes parte de um livro de Neil Gaiman, mais conhecido como criador do personagem de quadrinhos Sandman – eis o ponto de ligação com o pop-mórbido do diretor Paulo Biscaia Filho.

No elenco está a atriz e cantora Uyara Torrente (da Banda Mais Bonita da Cidade) como a protagonista Lucy. O grupo estreia ainda neste ano a adolescente Nautilus, a partir da obra de Júlio Verne.

Entre as peças mais interativas, Rafael Camargo traz em maio Perca o ponto, mas não perca a história!, em que 20 atores farão trajetos de ônibus durante os quais contarão histórias para alguns passageiros.

Já o projeto Humanismo selvagem, da companhia Bife Seco, parte de relatos tomados da população durante intervenções urbanas, que depois integrarão a dramaturgia.

A pesquisa inicial incluiu pensadores como Hobbes e Rousseau e o que a trupe chama “escritores de conflitos familiares”, como Dostoiévski e o teledramaturgo Manoel Carlos.

Por fim, sangue novo na área. Urubu comum, de Michelle Ferreira e com Carolina Meinerz na direção, trará um thriller de obsessões passado num apartamento no centro da cidade de São Paulo [foto do elenco no alto].

Experimental

O Teatro Novelas Curitibanas sedia quatro montagens das seis selecionadas por seu edital. As outras duas estarão em teatros particulares:Catatau

O espetáculo com dramaturgia e composições originais de Octávio Camargo homenageia o romance experimental repleto de neologismos de Paulo Leminski. Com Claudete Pereira Jorge, Helena Portela e Chiris Gomes.

Curitiba mescla

A diretora Nena Inoue estreia no edital do Novelas com uma grande homenagem à literatura paranaense. Seu espetáculo é um tripé que adapta contos e romances de Dalton Trevisan (Firififi, O grande circo de cavalinhos e O fim da Fifi), Wilson Bueno (Mar paraguayo) e Domingos Pellegrini (O encalhe dos 300). “A literatura daqui é muito poderosa, é nossa arte maior”, disse Nena à reportagem.

Novelas nada exemplares do vampiro de Curitiba

Autoproclamado representante cênico de Dalton Trevisan, o diretor João Luiz Fiani traz uma montagem baseada nas Novelas nada exemplares, que o vampiro publicou em 1959. É interessante notar que este é o retorno de Fiani ao teatro em que ele estrelou, nos anos 90, O vampiro e a polaquinha, que abriu o espaço.

Quincas

Cleide Piasecki ama Machado de Assis, mas lamenta que sua linguagem hoje seja rejeitada por boa parte da população. Seu espetáculo conta a trama de Rubião, mas pela ótica do cachorro Quincas Borba.

Teatros particulares

Os pálidos

Já era hora de alguém montar algo baseado no filme O anjo exterminador, de Luis Buñuel, cuja tensão é absolutamente teatral. De quebra, a CiaSenhas traz elementos de O discreto charme da burguesia, do mesmo cineasta, nesse espetáculo calcado na polarização política por que passa o Brasil. “Vamos além do surrealismo, para falar da deterioração das relações”, contou à Gazeta do Povo a diretora Sueli Araújo.

No dia seguinte (nome provisório)

O grupo cômico Antropofocus estreia no edital do Novelas com um resgate histórico dos primórdios da televisão brasileira contado a partir do improviso, especialidade da trupe. A própria criação para tevê, conta o diretor Andrei Moscheto, era extremamente improvisada nos anos 50.

.:. Publicado originalmente na Gazeta do Povo, Caderno G, p. 6, em 11/1/2015.

Jornalista formada pela Universidade Federal do Paraná, instituição onde cursa o mestrado em estudos literários, com uma pesquisa sobre A dama do mar de Robert Wilson. Cobre as artes cênicas para a Gazeta do Povo, de Curitiba, há três anos. No mesmo jornal, já atuou nas editorias de economia e internacional.

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