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Reportagem

Espanhóis operam sob forte teor político

26.3.2015  |  por Helena Carnieri

Foto de capa: Nacho Mez

Os dois espetáculos da Espanha que serão apresentados durante o Festival de Teatro carregam um forte teor político, tanto no conteúdo quanto na forma de trabalhar.

O Agrupación Señor Serrano, grupo de Alex Serrano Tarragó, poucas vezes se apresenta em seu próprio país devido às restrições impostas à arte contemporânea pelo governo de Mariano Rajoy.

E Roger Bernat faz em Numax Fagor plus uma simulação de reunião sindical, como se o público fosse uma plateia de trabalhadores.

Os casos ficcionalizados pelas duas companhias são inspirados em fatos reais, e ambas criam situações que lembram mais o jogo que a representação de papéis.

A house in Asia, de Serrano, parte da caçada a Osama Bin Laden em seu show midiático, que ele gosta de chamar de “cinema ao vivo”.

Usando várias câmeras, telões, maquetes, bonecos e os próprios corpos, os atores criam projeções a que o espectador assiste ao mesmo tempo em que vê todo o processo de manipulação.

O viés escolhido para tratar da captura e morte do líder terrorista, por si só extremamente cinematográfica, foi um “jogo de espelhos” identificado pelo grupo em todo o caso.

“Tudo começou quando vi uma notícia de jornal sobre o descobrimento de uma casa na Carolina do Norte idêntica à de Bin Laden. Depois surgiu outra na Jordânia onde foi rodado o filme A hora mais escura , e mais e mais cópias daquilo que não era sequer um monumento”, diz Serrano à Gazeta do Povo.

Outros elementos reais ligados ao pós-11 de Setembro foram considerados bizarros e entraram na dramaturgia do espetáculo: um codinome usado pela CIA (“Gerônimo”, citando o líder dos apaches que guerrearam contra a ocupação do oeste norte-americano) e o pseudônimo “Mark Owen” (citando o vocalista da band Take That), usado pelo fuzileiro naval que escreveu o livro Não há dia fácil, narrando a operação. “Virou um exercício de suplantação”, diz Serrano.

Público interage na obra do espanhol Roger BernatBlenda

Público interage na assembleia cênica de Bernat

Com poucos ingressos disponíveis, Numax Fagor plus acontecerá numa tenda no terreno do Teatro do Paiol, onde o público será promovido a personagem.

Por meio de sistemas de projeção, o grupo faz ressurgir palavras realmente usadas durante assembleias de funcionários de duas fábricas de eletrodomésticos, Numax e Fagor, fechadas no processo de desindustrialização espanhol.

Em ambas, os trabalhadores precisaram decidir se assumiam o controle após a falência ou não – processos ocorridos em 1978 e 2014.

“Fazemos um jogo em que nem todos veem ou ouvem o mesmo”, diz o diretor Roger Bernat. “Cada um toma a decisão de encarnar ou não um personagem. As pessoas podem só assistir, mas também têm a possibilidade de ser um dos personagens históricos da luta trabalhista. E isso divide o público em dois. O mais bonito é quando o público não profissional é quem faz o papel.”

Bernat conta ter se inspirado nos jogos de representação da história que se tornaram famosos nos anos 90, pelo qual grupos reencenam, por exemplo, batalhas famosas como a de Waterloo.

“Só que nesse caso não é uma batalha militar, e sim uma assembleia sindical”, diz o diretor da peça.

.:. Publicado originalmente no jornal Gazeta do Povo, Caderno G, em 21/3/2015.

Serviço:
A house in Asia
Onde: Teatro Positivo – Grande Auditório (Rua Professor Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300, Curitiba, tel. 41 3317-3283
Quando: 25 e 26/3, às 21h
Quanto: R$ 70

Numax Fagor plus
Onde: Teatro do Paiol (Largo Guido Viaro, s/nº, Curitiba, tel. 41 3213-1340)
Quando: 2 e 3/4, às 21h
Quanto: R$ 60

.:. Mais informações no site do Festival de Teatro de Curitiba, aqui.

Jornalista formada pela Universidade Federal do Paraná, instituição onde cursa o mestrado em estudos literários, com uma pesquisa sobre A dama do mar de Robert Wilson. Cobre as artes cênicas para a Gazeta do Povo, de Curitiba, há três anos. No mesmo jornal, já atuou nas editorias de economia e internacional.

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