22.1.2021 | por Ruy Filho e Pat Cividanes
O ano era 2011. Em retrospectiva, um ano marcado por ampla multiplicidade de acontecimentos. Fim do governo Lula e início do Dilma, por exemplo; hoje sabemos onde isso nos trouxe. Início da Primavera Árabe, expandida de maneira diversa por muitos cantos, até chegar ao Occupay Wall Street. Morrem de Bin Laden a Amy Winehouse, tornando impossível qualquer coerência sobre o assunto. Massacres, atentados e o crescimento de refugiados nas costas europeias se misturam a terremotos e o acidente nuclear em Fukushima, como se tudo pudesse ser naturalizado e definido como tragédias incontornáveis. Enquanto, entre nós, feito acontecimento comum, um menino de dez ano atira em sua professora, antes de se matar. Destrinchar 2011 é um movimento quase impossível, imagine, então, o que fora vivê-lo. Mas isso não era novo. Nos anos anteriores, crises econômicas e políticas redesenhavam a lógica geopolítica e biopolítica do globo. Seguíamos, então, o fluxo desse outro século, em que a aceleração de fatos e escolhas redesenham as lógicas praticamente em todos os aspectos.
Leia mais16.3.2014 | por admin
O que é, diante do real, esse trabalho intermediário da imaginação? – diz Robert Bresson. Para um cineasta inquieto com o seu tempo e com o seu fazer, suponho que seja o cotidiano o suporte de seus devaneios e a imaginação a engrenagem para a realidade. Mas encontra-se aí a potência e o revés da criação. Parto dessa suspeita para propor uma reflexão a partir de Cineastas, da Companhia Marea. Sendo a criação esse território da instabilidade e do desassossego, o criador busca ordenar as formas para delas subtrair instantes de arrebatamento. E cada instante desse capturado é enquadrado, o que retira dele uma possibilidade outra de existir, na medida em que se exclui do plano um universo para, quem sabe, libertar o plano dele mesmo; deslocado de sua realidade, do instante não permanece quase nada. Leia mais
14.3.2014 | por admin
Antes que o desejo surja, Prometeu o satisfaz. Ele subverte a lógica da bondade e desloca o sujeito para a gratidão. E todos nós o saudamos, afinal, sua teimosia é inspiradora e, como visionário, ele entrega a nós o fogo e a bem-aventurança. Dizem de Prometeu como o herói civilizador, e ele se afirma em seu gesto – é que o fogo iluminou a arte, a cultura e o pensamento e somos gratos, então. Mas é preciso atentar-se, não existe nenhum virtuosismo em roubar o fogo e entregar à humanidade. Desconfio dos que assim insistem. Nem existe humanidade, o que existem são homens. É preciso discorrer sobre essa lógica de um deus que entende a entrega do fogo como um ato de amor e duvidar desse ato como sacrifício, pois proponho que talvez resida ai uma cruel compaixão. E assim começo a dizer da força que me arrebata em Anti-Prometeu, do Studio Oyunculari. Leia mais