25.3.2006 | por Valmir Santos
São Paulo, sábado, 25 de março de 2006
TEATRO
Companhias usam espaços inusitados para montar suas peças
VALMIR SANTOS
Enviado especial a Curitiba
O ônibus estaciona ao lado de uma praça central de Curitiba. Os cerca de 40 passageiros descem, ganham um saquinho de pipoca doce, põem-se em fila, mãos nos ombros do outro, entoam “piui-piuá” e ficam em círculo sob uma araucária, a árvore-símbolo do Paraná.
Quem vê, pensa que se trata de uma excursão. Mas é teatro. A performance faz parte do espetáculo “Nessa Longa Estrada da Vida”, da curitibana Cia. dos Andarilhos, que acontece sob rodas, dentro de um ônibus em movimento.
É um exemplo dos lugares inusitados que são transformados em palco no Fringe, a mostra paralela do Festival de Teatro de Curitiba, que termina amanhã.
Às vezes, o próprio espaço não-convencional serve de chamariz em meio às 200 peças que compõem a grade do evento.
“E.s.t.a.c.i.o.n.a.d.o.s.” é outro espetáculo local que envolve carro, com o grupo de Risco. Acontece nos fundos de um estacionamento, a céu aberto, entre duas árvores, pneus e as tendas armadas para abrigar o público. Inspirados em suas trajetórias pessoais, quatro atores querem construir uma metáfora das pessoas “estacionadas” da vida urbana.
“A peça chamou a atenção por causa da sinopse e do lugar”, diz o arquiteto Diego Brambilla Martines, 23, que foi à sessão de meia-noite no estacionamento.
A Serafim Cia. decidiu ambientar seu espetáculo, “Febre”, numa piscina. Os idealizadores do projeto narram a história de dois irmãos que ritualizam o eterno enterro da mãe, morta há anos.
As cadeiras são colocadas dentro da piscina esvaziada. “No início, achei a idéia esquisita, mas depois fiquei emocionado com a história”, diz o gerente operacional do clube onde “Febre” é encenada, José de Ribamar Silva Menezes, 40.
Também há peças apresentadas em boate, “As Fervidas”, com a Cia. Curitibana de Comédia, e em hotéis: “Quarto de Hotel”, com a Ganesh Cia. Cênica.