19.1.2021 | por Macksen Luiz
A crítica em jornal, que exerci como titular por quase cinco décadas, traz em seu código de expressão, na forma da linguagem e no tempo de durabilidade, incontornável proposição editorial. É da sua origem, natureza ideológica e registro histórico, acompanhar as transformações e mudanças na editoração de seus preceitos a que se submete quando ao abrigo das páginas da imprensa. Por tão longa temporada, vivenciei a imposição de normas nas redações e redefinição dos parâmetros tecnológicos na publicação. Assisti a revoluções no palco e convivi com percepções evolutivas das plateias e reformulações teóricas nas artes cênicas. Em 2010, quando deixei o Jornal do Brasil, já tinha uma experiência, ainda que restrita e à distância, com o universo digital. As minhas críticas eram publicadas, simultaneamente, nas edições em papel e na versão eletrônica, sem que eu tivesse possibilidade de aferir o nível de leitura. Dez dias depois que sai do JB, iniciava o blog www.macksenluiz.blogspot.com [em 10 de janeiro de 2011], transferindo, mecanicamente, o que se lia na folha para a tela. Tanto que, na página inicial anunciava as rubricas: críticas, opinião, notícias e indicações teatrais, mantidas até hoje, ainda que desativadas por desuso. Por quatro anos, publicava análise crítica, retrospectivas anuais, cobertura de festivais e de espetáculos de fora do Rio e do exterior, resenha de livros, até que em 2014 assinei contrato com O Globo para publicação de duas críticas semanais, e eventuais matérias pautadas pela editoria. Por outros quatro anos, até o final do contrato, reproduzi no blog somente as críticas que eram publicadas no jornal, para evitar qualquer interpretação divisionista, estabelecendo convergência entre ética do pensamento, respeito às normas da redação e exclusividade contratual. A “liberação” que o final do vínculo com o jornal me permitiu, não modificou muito o formato adotado desde o início do blog. O tempo editorial continua marcando a frequência das publicações na procura de conciliar a “atualidade” da temporada com a sintonia fina da análise. O que se modifica é a relação voluntarista e amadora, determinada pela ausência de monetarização (profissionalização) da matéria produzida. Não há qualquer meio de financiamento ou patrocínio para blogs individuais, centrados em um nome e que têm como única credencial o acervo de credibilidade e o lastro jornalístico. Há que considerar que a crítica, pelo menos a publicada em jornal, tem a mesma vigência do período em que o espetáculo está em cena e recebe “respostas”, supostamente, através do perfil do leitor do veículo. O consumidor do digital, pela oferta e o imediatismo da busca, é mais fluído e difícil de ser capturado na sua voracidade pela próxima visualização. É, no entanto, a matéria da análise e da reflexão, menos acelerada e mais duradoura, que mais se ressente de acolhida nos canais temáticos. As avaliações dos que se propõem a investigar esse descompasso dispõem de poucos meios de aferição: os comentários e o número de visualizações. Se os comentários obedecem a tendência à ligeireza de leitura nessa mídia, a quantificação não revela e nem identifica quem lê. São apenas números. Nesses dez anos do blog, mantenho média considerada alta (numericamente) de acessos. Neste período tão atípico da pandemia, o volume de cliques continua, inexplicavelmente, alto, e em especial quando verifico que a última postagem foi a crítica de Lazarus, no dia 10 de fevereiro de 2020. O confinamento pode apontar, em parte, para alguma curiosidade volátil, ou eventual interesse de um público generalista e flutuante por entre as infindáveis postagens disponíveis nas redes sociais. Assim como a recepção é um aspecto ainda em equalização com a crítica em meios digitais, também questões da cena na atualidade (processos, dramaturgia, teorias, economia) se defrontam com a prática do teatro. Incertezas mútuas assaltam o tempo de pós-pandemia, alcançando tanto quem está no centro dos espaços cênicos, criando, quanto aqueles diante das telas dos notebooks, tablets e smartphones, consumindo.
Leia mais15.1.2021 | por Ivana Moura e Pollyanna Diniz
Queridos editores do Teatrojornal,
Foi com um livro de ética nas mãos que esbarramos pela primeira vez. Ivana e Valmir. André Comte-Sponville forneceu a chave de uma amizade, depois multiplicada por outros corpos. Pequeno tratado das grandes virtudes, uma análise das virtudes, de nossos valores. Esse curto farol nos iluminou. Da polidez, passando pela temperança, coragem, justiça, generosidade, compaixão, até chegar ao amor, tudo era possível de ser aprendido, como preparar um bolo ou exercitar uma crítica.
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