12.11.2005 | por Valmir Santos
São Paulo, sábado, 12 de novembro de 2005
TEATRO
Com direção de peça sobre passagem da adolescência à vida adulta, cineasta retoma arte na qual iniciou a carreira
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
A cineasta Laís Bodanzky (“Bicho de Sete Cabeças”, 2000) reata relações com o teatro, terreno onde justamente pisou 16 anos anos atrás, quando deu os primeiros passos rumo à arte da direção (inclusive de filmes) no centro de pesquisa coordenado por Antunes Filho em São Paulo.
“Foi lá no CPT que descobri o prazer da direção, exercitando pequenos contos de “Mil e Uma Noites'”, diz Bodanzky, 36. Ela volta ao prédio do Sesc Consolação, agora no palco do Sesc Anchieta, que recebe a partir de hoje “Essa Nossa Juventude”.
Curiosamente, é também o texto de primeira viagem do norte-americano Kenneth Lonergan, co-roteirista do longa-metragem “Gangues de Nova York” (2002), de Martin Scorsese.
Aqui, as linguagens cinematográfica e teatral se entrelaçam. “Sempre quis o teatro, mas tinha medo”, diz Bodanzky. Quando leu a peça de Lonergan, traduzida por Christiane Riera, intuiu que o universo lhe era próximo. Na linha texto certo, hora certa.
O autor sugere uma interpretação naturalista, afeita ao cinema, em contraste com uma encenação realista. Dito e feito.
Segundo a diretora, isso fica evidente na “levada” dos atores para trazer à tona as vicissitudes amorosas e existenciais de um triângulo juvenil. A ação transcorre em 48 horas.
Transição
“A sensação é de que ficamos com eles ali no apartamento ou bisbilhotando de outra janela. Quase um documentário na busca de uma verdade absoluta, da respiração e tempo verdadeiros, como se fosse só ligar a câmara e deixar”, diz Bodanzky.
Estamos no apartamento de Dennis (interpretado por Gustavo Machado, que atuava em “Bicho de Sete Cabeças”). Seu “melhor amigo” é Warren (Paulo Vilhena), que chega procurando abrigo, ou esconderijo: carrega uma mala de dinheiro roubada do próprio pai.
Dennis manipula Warren, que sofre de baixa estima. O primeiro lhe apresenta Jéssica (Silvia Lourenço, ex-CPT, projetada há pouco no filme “Contra Todos”). Não demora, ela é conquistada pelo segundo, que depois a “perde”, assim como crê ter perdido tudo de bom que a vida lhe deu até ali.
O espetáculo quer pintar esse retrato agridoce do momento de transição da adolescência inocente à descrença do mundo adulto.
“É uma passagem tão esperada quanto dolorida. Tenho certeza de que todo mundo vai terminar se identificando, não só os jovens, mas os pais, que estão presentes na boca dos personagens”, diz Bodanzky.
“É preciso sair da bolha, da proteção dos pais. Só assim aprendemos”, diz a diretora.
Esse tom sociológico também era notado no filme da Bodanzky. “No “Bicho”, a inconseqüência é mais extrema, mais trágica na falta de diálogo entre o filho e os pais”, explica a diretora. “Na peça, a tragédia passa longe, mas está no ar. Um conhecido deles morre de overdose e provoca reflexão de que a morte existe, de que algumas coisas têm limites.”
Essa Nossa Juventude
Onde: teatro Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 3234-3000)
Quando: estréia hoje, às 21h; de qui. a sáb., às 21h; dom., às 20h. Até 18/12
Quanto: R$ 10 (qui.) e R$ 20