São Paulo, segunda-feira, 29 de agosto de 2005
TEATRO
Eventos são ligados pelo trabalho de Luís Alberto de Abreu
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Nesta semana, dois eventos em São Paulo colocam em pauta a dramaturgia sob o ponto de vista da cultura popular. Eles estão umbilicados pela escrita e pela pesquisa de Luís Alberto de Abreu.
A partir de amanhã (dia 30), a Fraternal Cia. de Artes e Malas-Artes, à qual Abreu é ligado, mostra três peças no Centro Cultural São Paulo (CCSP).
Na quarta, é a vez do ciclo de leituras Dramaturgias no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), que dedica este segundo semestre ao projeto Cultura Popular Como Matriz, conforme sugestão de Abreu, consultor do evento.
“O raciocínio que contrapõe uma pretensa cultura de elite a uma cultura popular e, principalmente, estabelece juízos de valor comparativos entre elas, tem muito de artificial”, afirma Abreu. “Tanto os poetas gregos quanto Shakespeare, Rabelais e Molière, Bocaccio ou Dante produziram suas grandes obras a partir do manancial da cultura popular.”
No momento, Antunes Filho ensaia sua versão para “Romance da Pedra do Reino e o Príncipe de Sangue do Vai-e-Volta” (1971), de Ariano Suassuna, mantida em banho-maria há anos.
Recém-chegada de temporada no Rio, a Fraternal, 12 anos, leva ao CCSP os espetáculos “Borandá – Auto do Migrante” (2003, Prêmio Shell de melhor autor), “Eh, Turtuvia!” (2004) e “Auto da Paixão e da Alegria” (2002). As três comédias são de Abreu, encenadas por Ednaldo Freire, sempre com o mesmo elenco: Mirtes Nogueira, Aiman Hammoud, Edgar Campos e Luti Angelelli (leia quadro nesta página).
No CCBB, o ciclo de leituras é retomado com “Acordei Que Sonhava”, da dramaturga e diretora Cláudia Schapira, com o Núcleo Bartolomeu de Depoimentos.
Em registro de teatro-hip hop, colado à cultura das ruas, a peça é baseada no texto barroco “A Vida É Sonho”, do espanhol Pedro Calderón de La Barca (1600-81). A peça expõe o conflito entre destino e livre-arbítrio.
“Apontamos uma metáfora sobre a realidade brasileira. O que se pretende é desmistificar a relação entre uma obra que foi posta à prova pelo tempo e a licenciosidade, inerente ao teatro, de dialogar com seu tempo”, diz a autora.
Após a leitura, há um debate com a professora Neyde Veneziano (Unicamp), especialista em teatro popular.