São Paulo, terça-feira, 21 de março de 2006
TEATRO
Atores se adaptam às condições
VALMIR SANTOS
Enviado especial a Curitiba
Nos 11 dias desta edição do Fringe, mostra paralela do Festival de Teatro de Curitiba (FTC), as cerca de 200 produções levam em média duas horas para transformar cada um dos espaços conforme sua concepção. Mal termina a sessão, em minutos tudo é desmontado para o espetáculo seguinte.
A reportagem da Folha acompanhou essa rotatividade típica do evento. O local escolhido, entre os 48 oferecidos, foi o Solar do Barão, complexo de quatro edifícios históricos do centro de Curitiba, o mais antigo deles erguido em 1880. No sábado passado, cinco grupos passaram por ali.
Às 9h30, a atriz Evelyn Ligocki é a primeira a pedir a chave a um dos vigias. Ela é de Porto Alegre, mora há três meses em Campinas e traz o monólogo “Borboletas de Sol de Asas Magoadas”, sobre o cotidiano de um travesti.
Não demora, aparece o funcionário do festival que vai ajudá-la na montagem. É o terceiro dia de sessão no Fringe, e Ligocki, 26, está mais conformada com os problemas que diz enfrentar.
Pagou R$ 60 por cada uma das oito apresentações (R$ 480), sob a promessa da organização de que as cadeiras do público seriam colocadas sobre o palco, formando uma semiarena. Só não esperava que o tablado medisse apenas 7 m x 10 m, improvisado numa sala originalmente destinada a concertos (no fundo da platéia, nota-se um piano de calda). “Fiquei decepcionada. Depois daqui, supero confusões de produção em qualquer lugar”, afirma Ligocki.
A produtora Bianca Petersen, 28, coordena os trabalhos no Solar do Barão. Ao longo do evento, 13 grupos passarão pelo espaço, revezando os horários das 11h, 14h, 17h, 20h e 23h. Desde fevereiro, ela procura atender às necessidades dos artistas relacionadas à adaptação do espaço.
A apresentação de “Borboletas…” termina às 12h05 e é vista por 26 espectadores.
O grupo seguinte é o Teatro Fúria, de Cuiabá (MT). Seus oito integrantes viajaram 28 horas para fazer dez apresentações. Conseguiram passagens com a prefeitura de sua cidade e gastaram cerca de R$ 2.500 para trazer “Toma Lá, Dá Cá – A Justiça do Zero a Zero”, sobre seres que querem “dormir o sono dos justos”.
“Havia 116 peças em 2001, quando viemos pela primeira vez. Agora, é quase o dobro. O festival aumentou, mas o público do Fringe ficou mais disperso”, diz o diretor do Fúria, Giovanni Araújo.
Nove pessoas assistem à sessão, que termina às 14h10. No edifício vizinho, às 17h, acontece o solo “Isadora Duncan”, de SP, interpretado por Izabela Pimentel.
Plano B
Foi o vigia Pedro Witkovski quem indicou a sala alternativa a Levy. Ela levou um susto ao se deparar com a sala das demais produções, não apropriada à sua proposta cênica. O “plano B” encaixou-se plenamente.
De volta ao outro edifício, a quarta atração, “Estado de Sítio”, resulta de projeto do Galpão Cine Horto, de Belo Horizonte. A montagem é dirigida por Marcelo Bones. Os 11 atores e dois técnicos se hospedaram num hotel da esquina do solar. O elenco usa espelhos do quarto como camarim. Descem as escadas, passam pelo saguão, atravessam a rua e chegam ao espaço para a sessão das 20h. Com 62 espectadores.
Já passam seis minutos de domingo quando a Cia. Paulista de Artes, de Jundiaí, entra em cena com “Jogos na Hora da Sesta”, direção de Jorge Julião, com 29 pessoas na platéia. Cerca de 90 minutos depois, o vigia terá fechado o Solar do Barão até o reinicio da jornada na manhã seguinte.