24.5.2005 | por Valmir Santos
São Paulo, terça-feira, 24 de maio de 2005
TEATRO
Nova peça do autor aborda homoerotismo e a condição de artista
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Em sua nova peça, “Desconhecidos”, o maranhense-paulista Dionisio Neto, 33, põe o teatro dentro do teatro para depois tentar desvelá-lo em sumo.
No primeiro ato, atração do ciclo Leituras de Teatro, que acontece hoje na Folha, um casal de atores surge desmascarado em sua vida como ela é.
O almoço por fazer, as rusgas da relação, a cegueira passageira dele, a síndrome de pânico dela, as carreiras que patinam e o espetáculo que atuam logo mais à noite, justamente “Desconhecidos”, de um jovem autor.
“A realidade é o funeral das ilusões”, diz Joana. “O fracasso é uma ilusão”, diz Francisco.
Os atores Francisco e Joana reaparecem no segundo ato, nos papéis de Cristino, dono de restaurante mexicano, e Catirina, aeromoça desempregada. Eles se encontram por acaso, no banco de uma praça. Apesar dos mundos distantes, sairão modificados, ainda que suas naturezas se mantenham intactas.
No diálogo, a questão homoerótica aflora na maneira como o desejo é reafirmado tanto pelo gay quanto pela mãe de família. Um rito de “purificação” feito de sangue, suor, esperma, saliva, lágrimas. “Esta peça é uma lavagem em todos os sentidos. Estou me lavando do passado também. É como se começasse agora, e estou só começando. Teatro é uma arte que favorece os mais velhos”, diz Neto.
Ele completa a sua primeira década de dramaturgia. “Entro agora nos segundos dez anos da profissão, os mais difíceis, porque terei de mostrar que vim para ficar. Não montarei mais peças ao estilo xiita-kamikaze.”
Neto e Guta Ruiz farão a leitura, sob direção de Ivan Feijó.