2.3.2006 | por Valmir Santos
São Paulo, quinta-feira, 02 de março de 2006
TEATRO
Texto de Patrícia Melo é inspirado em notícia de jornal; Carolina Ferraz encabeça elenco da montagem que estréia hoje
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
A romancista Patrícia Melo leu num jornal brasileiro a história da moça que doou o rim para o noivo, e este, depois, a abandonou.
Em “O Rim”, sua terceira experiência autoral no teatro -ela já havia feito adaptações-, Melo resvala em questões da moral e da ética, inclusive a amorosa. Mas o tom que prevalece é o da comédia, como afirma a atriz Carolina Ferraz, também produtora da montagem que estreou no Rio em maio de 2005 e inicia temporada em São Paulo a partir de amanhã, no Teatro Folha.
“A gente trabalhou o tempo todo com a ambigüidade: se a minha personagem, Rosário, viveu realmente aquela história ou se tudo não passou de fantasia dela”, diz Ferraz, 36.
Enredo
Rosário é apresentada como uma mulher que lê o mundo com olhos românticos. Funcionária da Biblioteca Nacional, no Rio, trata os livros qual filho ou amante que não tem. Ao final do expediente, ela surrupia alguns volumes em nome da “caridade” (e da cleptomania). Alega limpar, encapar, levar para tomar sol. Quanto a ler os livros, aí são outros quinhentos.
O enredo se concentra na família de Rosário, no qüiproquó que se arma. Seu irmão, Carlos (Bruce Gomlevsky), é diretor teatral e sonha montar um espetáculo musical em grande estilo. Certo dia, ele é atropelado por um milionário, Augusto (Eduardo Reyes). O acidente não é grave. Carlos engessa as pernas. Tenta paquerar o motorista, milionário e boa pinta, mas é a irmã quem consegue o noivado. Não demora, e Augusto revela que precisa desesperadamente de um novo rim.
Carlos vê na doação do órgão a chance de levantar dinheiro para o musical dos sonhos. Rosário agradece ao irmão por salvar o futuro marido. E a mãe deles, Dora (Ivone Hoffman), dá a família por abençoada. Até a virada de jogo.
“A peça transita por esse universo absurdo e atinge uma comunicabilidade incrível com a platéia”, diz Carolina Ferraz. Segundo a atriz, o diretor Elias Andreato, com quem trabalha pela primeira vez, opta por “um caminho simples, baseado no ator e na palavra”.
Ferraz é amiga de Patrícia Melo desde a adolescência. Era cotada para fazer “Duas Mulheres e Um Cadáver”, a primeira peça da autora (de 2000, com Fernanda Torres e Débora Bloch), mas não conseguiu participar devido a outros compromissos. Feraz, que já foi dirigida por Denise Stoklos (“Selvagem como o Vento”, 2000) e agora flerta com a comédia, afirma que sua aventura teatral seguirá. Ela comprou os direitos autorais de “Velhos Tempos”, de Harold Pinter, e quer atuar em 2007 naquele drama que pede fígado.