23.7.2006 | por Valmir Santos
São Paulo, domingo, 23 de julho de 2006
TEATRO
O dramaturgo, que estava hospitalizado havia 49 dias, sofria de insuficiência renal; enterro será na tarde de hoje
Autor mudou a história do teatro brasileiro com “Eles Não Usam Black-Tie”; como ator, seu último papel foi na TV, na novela “Belíssima”
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
O ator e dramaturgo Gianfrancesco Guarnieri, 71, morreu ontem, às 16h30, “em função de complicações geradas por insuficiência renal crônica”, conforme nota do hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
Guarnieri estava internado havia 49 dias, mas tratava a doença desde 2001. Em períodos críticos, fazia até três sessões semanais de hemodiálise. Deixa cinco filhos e sete netos.
O velório, fechado ao público, aconteceria na noite de ontem no hospital. Às 15h de hoje, o corpo será levado para o cemitério Jardim da Serra, em Mairiporã, onde será enterrado.
Quando recebeu a Folha em sua casa, na serra da Cantareira (SP), em abril de 2005, o autor de “Eles Não Usam Black-Tie” falou sobre a doença: “Ainda bem que existe a hemodiálise, sempre agradeço. Após quatro anos, sinto-me mais animado. A doença dá uma depressão terrível, aquele cansaço. Não é moleza, não. Mas, ao mesmo tempo, não é dizer: “Que terrível, morreu”. Morreu o escambau. Está aí e vai em frente, rapaz, com todo o sorriso de felicidade que tem”.
Nos últimos anos, Guarnieri pontuou trabalhos aqui e ali, como sua recente atuação na novela “Belíssima”, da TV Globo, na qual interpretava Peppe. O personagem foi retirado da história por causa do agravamento do seu estado de saúde. Guarnieri atuou em outras novelas, como “O Meu Pé de Laranja Lima” (1970) e “Mulheres de Areia” (1973).
Filho de italianos, Guarnieri nasceu em Milão, em 1934. Seu teatro é conhecido pelo forte cunho político. Com “Eles Não Usam…” (1958), inscreveu seu nome na história da dramaturgia brasileira. Dirigida por José Renato no Teatro de Arena, a peça demarcou a presença do autor ao contar a história de um líder operário que tem no próprio filho um fura-greve. Foi adaptada para o cinema em 1981, por Leon Hirszman, que recebeu o Prêmio Especial do Júri no Festival de Veneza.
Seguiram-se outras peças de igual tom político, como “Arena Conta Zumbi” (1965) e em um dos seus últimos textos, “A Luta Secreta de Maria da Encarnação” (2001).
Guarnieri foi secretário municipal de Cultura de São Paulo de 1984 a 1986.