14.7.2006 | por Valmir Santos
São Paulo, sexta-feira, 14 de julho de 2006
TEATRO
Abertura do evento acontece hoje com “Um Molière Imaginário”, espetáculo encenado pelo Galpão
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
“O teatro, como a natureza, mais que nunca necessita atualmente de proteção, de consciência sobre a enorme devastação ambiental, sobretudo política, econômica e cultural.”
O alarme é do diretor peruano Carlos Cueva, 59, à frente do grupo LOT Teatro (Asociación para la Investigación Teatral La Otra Orilla), um dos destaques da sexta edição do FIT (Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto), de hoje até o dia 24.
A organização do encontro do interior paulista (orçado em R$ 1,9 milhão) acolhe as mais diversas linhagens dessa arte em palco, ao ar livre e em espaços não-convencionais. São sete atrações estrangeiras entre as 51 da programação. A abertura acontece hoje na Represa Municipal com o grupo mineiro Galpão, que apresenta o espetáculo de rua “Um Molière Imaginário”, direção de Eduardo Moreira, uma evocação ao comediógrafo francês de “O Doente Imaginário”.
Criado em 1998, o grupo LOT traz de Lima o projeto “Matéria Material” (2002), que pertence ao campo experimental das artes cênicas contemporâneas que o FIT Rio Preto atrai. Segundo Cueva, várias “matérias” confluem para um espetáculo que é teatro, mas corresponde mais a uma instalação, como se verá na antiga fábrica Swift, em meio a atores, espaço, texto, música e máquinas.
Melancolia
Fragmentos textuais do escritor alemão autista Birger Berlín (nascido em 1973) refletem uma melancolia desesperadora da época atual. Aquela que, sob a perspectiva do LOT, segue definindo os seres pelo acatamento ao poder da norma, “delimitando os que se exilam (marginais) dos que não fazem (normais)”. Paradoxos da incomunicabilidade. Também serviu de inspiração o quadro “A Lição de Anatomia do Dr.
Tulp”, de Rembrandt, uma sondagem do corpo como objeto. Um ano atrás, o LOT convidou o Teatro da Vertigem (“BR-3”) e outros grupos para o simpósio “Zona Fronteiriça”, que ocupou um prédio abandonado de Lima e resultou numa performance coletiva de “experiências que, em outras latitudes, e de maneira contundente, contribuem para a expansão da linguagem teatral”.
Este primeiro final de semana traz ainda o “teatro sonoro” que o compositor Livio Tragtemberg desenha em “Diário de Um Louco”, no Sesc Rio Preto. Não se trata da peça clássica do russo Gogol, mas uma novela do chinês Lu Hsun (1881-1936), um dos principais críticos de sua sociedade no período de pré-revolução maoísta (1973), e depois dela. Sua escrita é freqüentemente associada às de Jean Genet ou de Franz Kafka.
Teatro sonoro? “O público senta-se em volta da atriz Rita Martins, que procede a leitura do texto com alterações eletrônicas na voz. O espaço é envolvido por um círculo de alto falantes no chão, que emitem sons , ruídos, sussurros e que dialogam com a atriz. Ao longo da leitura, ela movimenta o conjunto de alto-falantes reconfigurando o som no espaço e estabelecendo novas situações dramático-sonoras”, afirma Tragtemberg.
A intenção é estabelecer uma relação mais direta com o espectador, de forma até contemplativa. “O foco é a geração de imagens na mente do espectador através da riqueza de estímulos sonoros.”