São Paulo, quarta-feira, 01 de junho de 2005
TEATRO
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Existe um grau zero de representação, e ele está na confissão. É para “lá” que caminham as três atrizes de “O Confessionário do Sultão”, a partir de hoje no Núcleo Experimental de Teatro.
A premissa é de Maurício Paroni de Castro, responsável por dramaturgia e supervisão-geral do espetáculo que lança o grupo Las Tres Telebanas, formado por Alessandra Calor, Helena Magon e Mariana Rubino. A direção é de Matheus Parizi Carvalho, assistente de Paroni de Castro no Atelier Teatral de Manufactura Suspeita (“Pornografia Barata”).
Num harém, três mulheres discorrem sobre os assuntos mais licenciosos possíveis, enquanto se arrumam à espera de um xeque, “um taciturno aspirante a lutador de luta livre mexicana”.
Quando o sujeito chega (interpretado por Rodrigo Martins), o harém vira a própria linha de limite entre os universos masculino e feminino. Ele, com seus sacos de pancada, cervejas, TV, máscara de lutador. Elas, com roupas, maquiagens e confissões. Revelam compulsivamente seus pensamentos e segredos ao público.
Segundo Paroni de Castro, 44, o texto foi construído a partir de uma técnica em que o ator é o suporte da dramaturgia, atuada no tal grau zero de representação (a confissão pública).
“As personagens falam diretamente ao público, mas não são interativas. Há mentiras e verdades nas narrativas, apesar de o espetáculo e o local, o bar do N.Ex.T., remeterem à ficção”, diz ele. O recurso vem da experiência como encenador na Itália, desde os anos 80, com o Centro di Ricerca per il Teatro e a Escola de Arte Dramática de Milão. Conviveu com artistas como o belga Thierry Salmon e a italiana Renata Molinari, que radicalizavam essa perspectiva “confessional” do intérprete.
O assistente de direção Diego Ruiz e a figurinista Marília Jardim completam a equipe de criação que promete embalar “O Confessionário do Sultão” no ambiente de cabaré do N.Ex.T., em meio a sonhos, mistérios, fé e desilusões.