20.10.2005 | por Valmir Santos
São Paulo, quinta-feira, 20 de outubro de 2005
TEATRO
Ishin-Ha busca o limite de cada linguagem em “A Porta do Verão”
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Em tradução livre, por Erika Yamauti, o nome da companhia japonesa Ishin-Ha significa “Partido da Revolução”. A trupe nasceu há 25 anos, em Osaka, motivada a confrontar as tradições nas artes cênicas. O que não implica mera ruptura.
“O teatro japonês é múltiplo, as várias correntes se respeitam e de certa forma se harmonizam. A vanguarda remete muitas vezes ao antigo”, disse o diretor Yukichi Matsumoto, 59, à Folha.
Ele é um dos fundadores da Ishin-Ha, que vem ao Brasil com o espetáculo mais recente, “A Porta do Verão” (“Natsu no Tobira”).
Em dez cenas com 28 atores-dançarinos, o espetáculo flagra um típico dia da estação, sob o ponto de vista de uma menina (Yuriko Koyama) que passa as férias assistindo à televisão e funde fantasia e realidade.
As apresentações acontecem de amanhã a domingo no Sesc Santos. Abaixo, os principais trechos da entrevista com Matsumoto.
O DESAFIO – O embate para o criador é exatamente usar as formalidades clássicas para alcançar a contemporaneidade. A Ishin-Ha já trabalhou com contos tradicionais japoneses. Acho que as peças clássicas têm características de contos e, nesse sentido, os jovens podem entender melhor seu significado, sua narrativa, de modo presente.
A MUSICALIDADE – O termo Jan Jan Ópera tem a ver com os “chindonyá”, artistas de rua que antigamente andavam pelas vilas japonesas, tocando tambor, pratos, cornetas e divertindo as pessoas com o barulho, conhecido como “jan jan”. Eu busco preservar a musicalidade das palavras. Se respeitarmos a musicalidade contida nas palavras faladas, não é preciso colocar outra música. Chamar isso de ópera nos causa uma certa angústia. Por outro lado, chamar de musical também se distancia muito. Por isso, tento construir um musical sem música, utilizando a música do cotidiano.
O TEATRO TOTAL – Eu penso no teatro realmente como uma experiência completa. Existe um tipo de teatro, é claro, que remete à palavra, mas o que eu chamo de teatro total, que é o objetivo do Ishin-Ha, é tentar extrair a máxima potência, a especificidade de cada linguagem, seja a música, a dança, o espaço cênico. A minha concepção de cenário, por exemplo, é que ele seja como os atores: se transforme e se movimente.