3.11.2007 | por Valmir Santos
São Paulo, sábado, 03 de novembro de 2007
TEATRO
“Argumas de Assaré” discute temas da obra do compositor, como má distribuição de renda, fome e seca
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Patativa do Assaré perdeu o olho direito aos quatro anos, “dor d’olhos” com a qual viu o mundo até a casa dos 70, sem perder o humor pela vida. Sua obra, entrelaçamento do homem, do poeta e do cantador, é adaptada para o teatro em “Argumas de Assaré”, que estreou ontem no teatro Alfredo Mesquita e tem entrada franca neste primeiro final de semana.
O espetáculo do Teatro do Pé, de Santos, estreou há três anos e percorreu o interior paulista. Segundo o diretor, Mateus Faconti, 31, o desafio é transpor para a forma dramática a estrutura lírica da obra de Patativa do Assaré (1909-2002), o agricultor cearense Antônio Gonçalves da Silva.
O espetáculo, que inaugura o trabalho da companhia, recorre ao teatro de bonecos, inclusive o mamulengo típico da cultura popular nordestina, e à música tocada e cantada ao vivo pelos quatro intérpretes: Danilo Nunes, Iris La Cava, Juliana Bordallo e Mateus Lopes.
“O roteiro abre com um lugar mais escuro da obra dele, como em “A Morte de Nanã”, com palavras de lamento, e fecha com uma imagem do Nordeste que “zomba de sofrer”, como em “Cabra da Peste”. A gente quer retratar em cena essa dinâmica da superação do sofrimento”, diz Faconti, que co-assina o tratamento dramatúrgico com Olavo Dada O’Garon.
Para Faconti, a peça é “resultado de um painel de temas recorrentes na obra dele, como a questão da má distribuição de renda, da fome, da seca”. Uma realidade que contrasta dor e alegria. Como Patativa afirma por meio de seus versos, “Digo a verdade completa/ Pois tenho rima de saldo”.