26.3.2007 | por Valmir Santos
São Paulo, segunda-feira, 26 de março de 2007
TEATRO
Curitiba estréia montagens do monólogo “O Incrível Menino na Fotografia” e da tragicômica “Eu Odeio Kombi”
Festival segue até domingo na capital paranaense; peças, sobre a realidade brasileira, chegam a São Paulo nos próximos dias
VALMIR SANTOS
Enviado Especial a Curitiba
Três autores de São Paulo têm peças inéditas montadas na mostra principal do Festival de Teatro de Curitiba, que vai até domingo. Fernando Bonassi, Hugo Possolo e Newton Moreno tocam em temas que ora se atraem, ora se repelem: a miséria, o fracasso e o canibalismo. O tripé de uma possível contemporaneidade brasileira estréia em São Paulo nos próximos dias.
Em “O Incrível Menino na Fotografia”, Bonassi, 44, leva para o palco, também como diretor, uma das narrativas do seu livro “Histórias Extraordinárias” (ed. Conrad).
É um monólogo sobre um aluno de 14 anos paralisado diante do rito de passagem da foto obrigatória no grupo escolar, em 1936.
Ele tem de ocupar uma cadeira, atrás de uma mesa, cercada por bandeira e outros símbolos nacionais. O personagem interpretado por Eucir de Souza se vê paralisado no tempo.
Inércia à qual o autor associa o presente. “É um registro que simboliza muito do que o Brasil fez consigo dos anos 40 até aqui”, diz Bonassi. Para ele, o texto trata de um período “fundador” do estado de coisas a que a sociedade chegou com a falta de distribuição de renda.
“No início, pensava ter em mãos um texto mais trágico, amargo, mas o Eucir e a equipe me ajudaram a descobrir também o viés cômico”, afirma Bonassi. “O Incrível Menino na Fotografia” tem apresentações amanhã e quarta, às 20h30, no teatro Paiol.
Antes de ser co-fundador do grupo Parlapatões, no início dos anos 90, Possolo, 44, chegou a rodar por muitas estradas a bordo de uma perua Kombi, num projeto mambembe de teatro infantil. Parte do imaginário daquele veículo está em
“Eu Odeio Kombi”, que Jairo Mattos, justamente um dos parceiros à época, dirige em sessões na quarta e na quinta, às 20h30, na Casa Vermelha. Mote: dois homens empilham seus fracassos durante uma viagem e, súbito, são acometidos pela dúvida hamletiana de continuar ou não a aventura. Passam a agir com sordidez e criam um campo de batalha para suas misérias pessoais. Nonsense. Sobra até para a Kombi, de cores verde e amarela. Eles tentam destruir o “terceiro personagem”.
“Apesar de o humor estar presente, como sempre ocorre em meus textos, este não se pretende uma comédia. Não há aquela face do palhaço sob o eixo da alegria, mas do palhaço que não se encaixa no mundo, que usa roupas desajeitadas, que tropeça. Parti um pouco dessa idéia de desajuste”, afirma Possolo.
Nova peça de Moreno
O canibalismo é trampolim para as três históricas curtas de “A Refeição”, de Newton Moreno, 38. O texto foi amadurecido durante intercâmbio, em São Paulo e em Londres, em 2004 e 2005, com a equipe do Royal Court Theatre, centro inglês de fomento à dramaturgia.
A primeira se passa no quarto de um hospital, quando o ato canibal explode questões e vontades castradas de um casal.
A segunda, no centro da cidade, onde um mendigo e um executivo formam um casal improvável. A terceira, numa tribo indígena, quando um antropólogo se vê acuado pelo pedido de um índio velho, último de sua tribo, que morre lentamente e quer empreender o movimento de volta às raízes.
“A Refeição” é dirigida por Denise Weinberg e fez sua última sessão ontem.