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“Santidade flagra alienação coletiva"

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Folha de S.Paulo

São Paulo, terça-feira, 08 de maio de 2007

TEATRO 
Escrita em 1967, peça com Zé Celso no elenco transcende religião ao mostrar crise de jovem prestes a se tornar padre

Marcelo Drummond dirige primeira obra de José Vicente para o teatro em espetáculo que estréia nesta quinta no Oficina 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Em outubro de 1997, José Celso Martinez Corrêa era Sua Santidade em “Ela”, adaptação de “Elle” (1955), do dramaturgo francês Jean Genet, sobre um papa às voltas com a propagação mundial de sua imagem fotográfica, espécie de premonição da era midiática. O então papa João Paulo 2º visitava o Brasil justamente naquele mês. 

Quase dez anos depois, no mesmo teatro Oficina, a partir de quinta-feira, o ator Marcelo Drummond, que fazia parte do elenco, dirige Zé Celso em “Santidade”, de José Vicente, às vésperas da chegada de Bento 16 ao país. 

Primeira peça de Vicente, 61, escrita em 1967 -autor que agrega rebeldia e poesia à geração da contracultura-, “Santidade” flagra a crise de um jovem prestes a se tornar padre. Mas os questionamentos quanto à vocação religiosa não são os únicos. 

“Não é só uma peça gay como também não fala só de religião, apesar da tentativa de derrubar a moral cristã. Ataca a Igreja Católica do mesmo jeito que pode atacar a arte convencional”, diz Drummond, 44. O estilista Ivo (Zé Celso) e o ex-seminarista Arthur (Haroldo Costa Ferrari) são amantes. 

Moram juntos. Arthur vive às custas de Ivo, mais velho. A relação estremece com a chegada do irmão do segundo, Nicolau (Fransérgio Araújo), que busca aconselhamento sobre ordenar-se ou não. 

Para o diretor, a peça suscita indagações sobre idéias e comportamentos em torno de “alienação coletiva”, “asfixia cultural” e reação do indivíduo para se livrar, de forma independente e criativa, de pressões sociais e políticas. É a terceira direção que Marcelo Drummond, integrante do grupo desde 1986, assina no Oficina. 

Como em “O Assalto” (2004), outra peça de Vicente, na qual igualmente dirigiu Araújo e Ferrari (que ancora o projeto de encenação das peças do autor), aqui o tom é de intimismo. O desafio é equilibrar a cena no espaço expandido da pista do teatro. 

Os intérpretes usam microfones. Boa parte da peça é concentrada no miolo da passarela, mas os três se deslocam por galerias, por exemplo. O público é convidado a sentar-se em pufes. Os figurinos são do estilista Alexandre Herchcovitch. 

As duas montagens mais importantes da peça foram assinadas por Fauzi Arap, em 1967 e 1997, esta com Antônio de Andrade, Mário Bortolotto e Nívio Diegues no elenco. 



Santidade
Onde:
Oficina (r. Jaceguai, 520, Bexiga, tel. 0/xx/11/3106-2818) 
Quando: estréia qui., às 21h; qui. a sáb., às 21h; e dom., às 19h. Até 12/6 
Quanto: R$ 20