5.6.2005 | por Valmir Santos
São Paulo, quarta-feira, 5 de junho de 2005
TEATRO
Espetáculos como “Agreste” e “Regurgitofagia” são exemplos de “circulação” por diferentes regiões da cidade
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Na concorrida oferta de espetáculos de teatro em cartaz na cidade (cerca de 60 peças na semana passada), o semestre revela que produções “off” vingam com uma espécie de “circulação”. Num dia estão na Lapa, noutro em Cerqueira César; num dia no centro, noutro na zona sul, variando o público e o preço do ingresso.
O caso mais emblemático é o de “Agreste”, um projeto da Cia. Razões Inversas. Estreou em janeiro de 2004 no teatro distrital Cacilda Becker, na Lapa (zona oeste). O boca-a-boca cravou filas com ingressos a R$ 10. Muita gente foi atraída para aquele teatro pela primeira vez.
Hoje, “Agreste” faz temporada no teatro Vivo, no Morumbi (zona sul), com ingressos três ou quatro vezes mais caros. “Existem diferentes tipos de platéia na cidade. Seria burro não levar em consideração que esses espaços mais comerciais também possam receber trabalhos que experimentam outras linguagens, que apresentam uma nova dramaturgia, por exemplo”, diz o encenador de “Agreste”, Marcio Aurelio, 56.
A peça foi escrita pelo pernambucano Newton Moreno, que vive em São Paulo há anos e alinha suas pesquisas em torno do homoerotismo.
Entre o Cacilda Becker e o Vivo, “Agreste” percorreu ainda unidades do Centro Educacional Unificado (CEU), em bairros da periferia, viajou para o interior do Estado, participou de um festival internacional no Chile e ainda cumpriu temporada no teatro Aliança Francesa, na Vila Buarque (centro).
É justamente nesse espaço que está em cartaz “Regurgitofagia”, o solo de Michel Melamed que vem do Rio e repercutiu bastante em sua primeira temporada paulistana no Sesc Belenzinho (zona leste), desde janeiro passado.
“São Paulo tem um público de teatro; melhor, um público de arte e de cultura, um público que não tem preconceito diante da generosidade do mundo em nos ofertar coisas”, diz Melamed, 28.
A peça sofreu metamorfose em seu espaço cênico: saiu de um galpão do Sesc Belenzinho, num formado por vezes semi-arena, para o palco italiano do Aliança Francesa. Segundo o ator e poeta, foi bom para testar a comunicação com o público, que “segue equivalente”.
Quando “Regurgitofagia” encerrar temporada no Aliança Francesa, no próximo domingo, chega “Dança Lenta no Local do Crime”, que vem de temporada no teatro Sesc Ipiranga (zona sul), com sessões somente às quartas-feiras, e participou do último Festival de Teatro de Curitiba.
“Não haverá mudanças na estrutura da encenação. Agora, de sexta a domingo, o espetáculo ganha em aquecimento, dá para medir melhor a resposta do público e o nosso ritmo”, diz o diretor de “Dança Lenta no Local do Crime”, Luiz Valcazaras, 43, do Núcleo de Investigação Teatral.
“A Entrevista” também protagoniza deslocamento: estreou primeiro no teatro Cultura Inglesa de Pinheiros e saltou depois para o teatro Renaissance, no sofisticado hotel de mesmo nome, em Cerqueira César.
Quem administra os teatros Vivo, Aliança Francesa e Renaissance é a empresa Cult Empreendimentos Culturais, que acolheu criações que entretêm sem abdicar de vôos de risco no texto, direção e interpretação. Não à toa, montagens bem cotadas pela crítica e pelo público.