7.5.2005 | por Valmir Santos
São Paulo, quarta-feira, 07 de maio de 2005
TEATRO
Atriz cria espetáculo solo no Sesc Belenzinho sobre vida da escultora francesa, que também assina objetos do cenário
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Conhecida pela dramaturgia que recorta questões sociais e políticas, a atriz Denise Stoklos, 54, identifica em seu encontro com a escultora, desenhista e gravurista francesa Louise Bourgeois, 93, um “divisor de águas”.
A partir do espetáculo “Louise Bourgeois: Faço, Desfaço, Refaço”, que estreou em 2000 no LaMama -espaço voltado para o teatro experimental em Nova York-, o repertório de Stoklos se encaminhou para um plano mais introspectivo.
Como se vê na temporada paulistana, que começou ontem no Sesc Belenzinho, depois de passar pelo Rio de Janeiro, trata-se de uma performance solo que coloca Bourgeois na primeira pessoa.
Vida, obra e pensamento. “São situações difíceis pelas quais ela passou. Enxergando seus medos, sua dor, sua imensa angústia e a coragem de se encontrar com o vazio, estarei falando da minha dor, da dor de cada um de nós, com a diferença de que nosso pai não trouxe uma amante para dentro de casa”, diz Stoklos, ilustrando uma das passagens.
Movida pelo “âmago dos indivíduos e sua luta por libertação”, a atriz recolheu depoimentos que a escultora francesa radicada nos EUA deu à imprensa. Também serviu de fonte a autobiografia “Louise Bourgeois – Desconstrução do Pai/Reconstrução do Pai”.
Normalmente autora de seus projetos, aqui Stoklos faz as vezes de tradutora. “É a faísca desse diálogo que faz com que a gente se transforme, se torne sensível e crítico”, diz ela.
O impulso para dentro -antes, mirava mais os “inimigos externos”, instituições que lidam com o poder- se reflete no último espetáculo, “Olhos Recém-Nascidos” (2004), que é “quase confessional” se comparado à indignação presente em “Vozes Dissonantes”, por exemplo.
Esta montagem, aliás, retorna ao cartaz no Teatro Folha, dentro do projeto “Grandes Baratos”, a partir do dia 17 deste mês, que traz “Calendário da Pedra”, às terças-feiras, e “Vozes Dissonantes”, às quartas.
O cenário de “Faço, Desfaço, Refaço” incorpora uma escada de ferro, um espelho oval e uma gaiola de ferro, todos criados pela própria artista homenageada, que vive em Nova York.
“A Louise é uma personalidade incrível, está em contato permanente consigo, não se desliga em nenhum momento, nem de dia nem de noite.”