19.10.2005 | por Valmir Santos
São Paulo, quarta-feira, 19 de outubro de 2005
TEATRO
Intervenção do suíço Stefan Kaegi transforma porteiros em protagonistas na calçada da av. Paulista
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Quando foi a última vez em que você olhou nos olhos do porteiro do prédio, aquele homem atrás do vidro fumê, dono da voz ao interfone?
Muitas vezes alvo de galhofas, esses personagens “invisíveis” da cidade, no vão entre a classe social que guarda e a classe social que o espia da rua (e à qual pertence), ocupam a cena na intervenção “Torero Portero”, projeto que o diretor suíço Stefan Kaegi apresenta de hoje a sexta-feira na calçada e portaria do Sesc Paulista, em plena avenida cartão-postal.
Três porteiros de Buenos Aires, dois do Rio de Janeiro e um de São Paulo narram episódios da vida e do ofício em meio à dramaturgia costurada por Kaegi, que casa imagens do filme “Por Amor ou por Dinheiro” (1993), no qual um recepcionista de hotel interpretado por Michael J. Fox sonha em montar seu próprio negócio.
A intenção é inverter os papéis sociais. “No teatro, gosto de usar e abusar desses mecanismos de representação. Busco um caráter mais documental”, diz Kaegi, 33.
O artista se diz cansado da formação de ator, sobretudo na Europa, que resulta em “artefato que os põe muito distante da vida”. Daí a predileção por não-atores.
“Torero Portero” -o título encerra mais sonoridade do que significado- nasceu na cidade argentina de Córdoba, em 2001, quando os porteiros desempregados Edgardo Freitas, Thomas Kenny e Juan Spicogna atenderam ao anúncio dos jornais para participar do projeto.
Juntam-se a eles agora os brasileiros Antônio Paulino Tadeu e Manoel Paiva Carneiro, vindos do Rio de Janeiro.
Dessa vez, a platéia vai postar-se do lado de cá da “cápsula de vidro”, a perspectiva da portaria. “Interessa-me sondar os mecanismos de teatralização que transformam nossas vidas cotidianas, demasiado artificiais”, afirma Stefan Kaegi.
Radicado na Alemanha, ele é ligado ao grupo Rimini-Protokoll, cujo trabalho também poderá ser conhecido na exposição “A Vida Interessa Mais Que o Teatro”, reunião de vídeos, fotos e textos de seis projetos no Instituto Cultural Capobianco.
Na performance “Call Cutta”, por exemplo, um espectador de Berlim atende a uma ligação de um funcionário que está na Índia, mas se passa por alemão, pois sua origem pode provocar desconfiança.
A Vida Interessa Mais Que o Teatro
Onde: Instituto Cultural Capobianco (r. Álvaro de Carvalho, 97, centro, tel. 3237-1187)
Quando: de qua. a sáb., das 14h às 18h; até 18/11
Quanto: entrada franca