9.6.2007 | por Valmir Santos
São Paulo, sábado, 09 de junho de 2007
TEATRO
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Paulista radicado no Rio, Caio de Andrade, 45, escreve para teatro desde o início da década. Suas peças apresentam pano de fundo histórico. É o caso de “Trindade”, primeiro texto em palco paulistano, sob direção do próprio, a partir de hoje no teatro Aliança Francesa.
O contexto é o da disputa entre os segmentos civil e militar no início da República. Em 1909, a sucessão presidencial é disputada pelo marechal Hermes da Fonseca e pelo escritor Rui Barbosa, derrotado.
“Era um momento de confusão política, vários poderes tentavam se estabelecer. Era a chance para falcatruas”, diz Andrade. Espetáculo carioca de 2004, remontado para a nova temporada, “Trindade” põe em relevo o drama do jovem médico Emílio (Pedro Neschling).
Criado pela família de um general (Luciano Chirolli), o rapaz se depara com o pai natural (Guilherme Leme), que dava por morto. Sabe-se depois, virou militante da causa operária. Encontros clandestinos expõem os conflitos. Para Andrade, a configuração é brechtiana, à la “O Círculo de Giz Caucasiano”, que põe em xeque os direitos da mãe que dá à luz sobre aquela que cria.
“O personagem vive o dilema entre o general que o criou e o pai que foi lutar por um mundo melhor. Estão em jogo também os limites que a história impõe a cada pessoa”, diz o autor. Chirolli, 45, ilustra o assunto com uma citação de Sartre: “Você é aquilo que você faz do que fizeram de você”.
Para Leme, 46, que vive o pai em identidade dupla, a peça constata que transformações se dão a partir do questionamento individual da ordem e das instituições. A Neschling, 25, coube estabelecer a trilha, angústia juvenil sintonizada em bandas como Muse e Radiohead.