Folha de S.Paulo
18.2.2005 | por Valmir Santos
São Paulo, sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005
TEATRO
Emanoel Araújo é pressionado em evento
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
“Vim aqui para aprender, para ouvir”, disse Emanoel Araújo ao abrir o debate sobre formas de financiamento à cultura, na noite de anteontem, em São Paulo. Cerca de 90 minutos depois, porém, o secretário municipal da Cultura chegou a gritar para se fazer ouvir diante dos 400 artistas de teatro, dança, circo, música, cinema e artes visuais que lotaram a galeria Olido, com capacidade para 300 pessoas. Muitos ficaram em pé e saíram “tristes, pessimistas” diante de suas declarações, como afirmou o representante da Apetesp, a associação dos produtores de teatro do Estado, Paulo Pelico.
“Tenha calma. Tivemos apenas um mês de trabalho. Pensa que sou o quê? Super-Homem, Homem-Aranha?”, respondeu Araújo a Pelico. O secretário irritou-se com a cobrança de parte da platéia dos pagamentos atrasados dos corpos estáveis do Teatro Municipal (cerca de 280 artistas, entre dançarinos, músicos e outros, aos quais Araújo se referiu várias vezes como “corpos instáveis”) e dos prestadores de serviço (um primeiro levantamento estimou as dívidas em R$ 16 mi).
“Não sou secretário das Finanças nem do Tesouro. Eu, inclusive, não devo a ninguém [referindo-se a compromissos da gestão anterior]. Se isso não agrada a vocês, não posso fazer nada. Se querem uma discussão democrática, têm que entender os dois lados.”
O secretário se queixou de que o encontro “pouco” tratou das formas de financiamento. “Se vocês querem discutir a corporação de ofício, não é aqui. Aqui se está envolvendo o governo numa discussão sobre leis de incentivo. Não adianta dizer que estamos devendo. Acho legítimas todas as considerações, mas não adianta me olharem como inimigo.”
A Folha apurou que a assessoria de Araújo, apesar de anfitrião, disse que o secretário “foi colocado numa armadilha” pelos organizadores do debate, o movimento Arte contra a Barbárie e a Cooperativa Paulista de Teatro.
Além de Araújo e Pelico, estavam à mesa o diretor regional do Sesc, Danilo Santos de Miranda, o consultor de patrocínio Yacoff Sarkovas, o diretor Luiz Carlos Moreira (Engenho Teatral) e o dramaturgo Aimar Labaki.
Várias intervenções da mesa e da platéia, ainda que breves, pontuaram questões como as “raquíticas” dotações da cultura nos Orçamentos municipal, estadual e federal; a distorção do dinheiro público pela iniciativa privada (“É preciso regulamentação para não confundir marketing como ação cultural”, disse Miranda); o “achatamento de cachês”; a programação dos equipamentos dos CEUs e a necessidade de mais políticas públicas, nas formas de programas ou fundos.
Teatro Municipal
Emanoel Araújo faz uma reunião hoje com o secretário adjunto, Francisco Almeida Ribeiro, integrantes dos Patronos do Municipal e críticos de música para tentar definir o nome do novo diretor artístico do Teatro Municipal.
Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.