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Folha de S.Paulo

Secretário pede tempo a artistas e diz que não é Super-Homem

18.2.2005  |  por Valmir Santos

São Paulo, sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005

TEATRO 
Emanoel Araújo é pressionado em evento

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Publicações dedicadas ao teatro contemporâneo ganharam novas edições no fim de 2005 e neste começo de ano no Rio, em São Paulo e em Belo Horizonte.
Iniciativa do grupo carioca Teatro do Pequeno Gesto, a revista “Folhetim” nº 22 é dedicada ao projeto “Convite à Politika!”, organizado ao longo do ano passado. Entre os ensaios, está “Teatro e Identidade Coletiva; Teatro e Interculturalidade”, do francês Jean-Jacques Alcandre. Trata da importância dessa arte tanto no processo histórico de formação dos Estados nacionais quanto no interior de grupos sociais que põem à prova sua capacidade de convivência e mestiçagem.
Na seção de entrevista, “Folhetim” destaca o diretor baiano Marcio Meirelles, do Bando de Teatro Olodum e do Teatro Vila Velha, em Salvador.
O grupo paulistano Folias d’Arte circula o sétimo “Caderno do Folias”. Dedica cerca de 75% de suas páginas ao debate “Política Cultural & Cultura Política”, realizado em maio passado no galpão-sede em Santa Cecília.
Participaram do encontro a pesquisadora Iná Camargo Costa (USP), os diretores Luís Carlos Moreira (Engenho Teatral) e Roberto Lage (Ágora) e o ator e palhaço Hugo Possolo (Parlapatões). A mediação do dramaturgo Reinaldo Maia e da atriz Renata Zhaneta, ambos do Folias.
Em meados de dezembro, na seqüência do 2º Redemoinho (Rede Brasileira de Espaços de Criação, Compartilhamento e Pesquisa Teatral), o centro cultural Galpão Cine Horto, braço do grupo Galpão em Belo Horizonte, lançou a segunda edição da sua revista de teatro, “Subtexto”.
A publicação reúne textos sobre o processo de criação de três espetáculos: “Antígona”, que o Centro de Pesquisa Teatral (CPT) estreou em maio no Sesc Anchieta; “Um Homem É um Homem”, encenação de Paulo José para o próprio Galpão, que estreou em outubro na capital mineira; e “BR3”, do grupo Teatro da Vertigem, cuja previsão de estréia é em fevereiro.
Essas publicações, somadas a outras como “Sala Preta” (ECA-USP), “Camarim” (Cooperativa Paulista de Teatro”) e “O Sarrafo” (projeto coletivo de 16 grupos de São Paulo) funcionam como plataformas de reflexão e documentação sobre sua época.
Todas vêm à luz com muito custo, daí a periodicidade bamba. Custo não só material, diga-se, mas de esforço de alguns de seus fazedores em fomentar o exercício crítico, a maturação das idéias e a conseqüente conversão para o papel -uma trajetória de fôlego que chama o público para o antes e o depois do que vê em cena.
Folhetim nº 22
Quanto: R$ 10 a R$ 12 (114 págs)
Mais informações: Teatro do Pequeno Gesto (tel. 0/xx/21/2205-0671; www.pequenogesto.com.br)
Caderno do Folias
Quanto: R$ 10 (66 págs)
Mais informações: Galpão do Folias (tel. 0/xx/11/3361-2223; www.galpaodofolias.com)
Subtexto
Quanto: grátis (94 págs; pedidos por e-mail: cinehorto@grupogalpao.com.br)
Mais informações: Galpão Cine Horto (tel. 0/xx/31/3481-5580; www.grupogalpao.com.br)

“Vim aqui para aprender, para ouvir”, disse Emanoel Araújo ao abrir o debate sobre formas de financiamento à cultura, na noite de anteontem, em São Paulo. Cerca de 90 minutos depois, porém, o secretário municipal da Cultura chegou a gritar para se fazer ouvir diante dos 400 artistas de teatro, dança, circo, música, cinema e artes visuais que lotaram a galeria Olido, com capacidade para 300 pessoas. Muitos ficaram em pé e saíram “tristes, pessimistas” diante de suas declarações, como afirmou o representante da Apetesp, a associação dos produtores de teatro do Estado, Paulo Pelico.

“Tenha calma. Tivemos apenas um mês de trabalho. Pensa que sou o quê? Super-Homem, Homem-Aranha?”, respondeu Araújo a Pelico. O secretário irritou-se com a cobrança de parte da platéia dos pagamentos atrasados dos corpos estáveis do Teatro Municipal (cerca de 280 artistas, entre dançarinos, músicos e outros, aos quais Araújo se referiu várias vezes como “corpos instáveis”) e dos prestadores de serviço (um primeiro levantamento estimou as dívidas em R$ 16 mi).

“Não sou secretário das Finanças nem do Tesouro. Eu, inclusive, não devo a ninguém [referindo-se a compromissos da gestão anterior]. Se isso não agrada a vocês, não posso fazer nada. Se querem uma discussão democrática, têm que entender os dois lados.”

O secretário se queixou de que o encontro “pouco” tratou das formas de financiamento. “Se vocês querem discutir a corporação de ofício, não é aqui. Aqui se está envolvendo o governo numa discussão sobre leis de incentivo. Não adianta dizer que estamos devendo. Acho legítimas todas as considerações, mas não adianta me olharem como inimigo.”

A Folha apurou que a assessoria de Araújo, apesar de anfitrião, disse que o secretário “foi colocado numa armadilha” pelos organizadores do debate, o movimento Arte contra a Barbárie e a Cooperativa Paulista de Teatro.

Além de Araújo e Pelico, estavam à mesa o diretor regional do Sesc, Danilo Santos de Miranda, o consultor de patrocínio Yacoff Sarkovas, o diretor Luiz Carlos Moreira (Engenho Teatral) e o dramaturgo Aimar Labaki.

Várias intervenções da mesa e da platéia, ainda que breves, pontuaram questões como as “raquíticas” dotações da cultura nos Orçamentos municipal, estadual e federal; a distorção do dinheiro público pela iniciativa privada (“É preciso regulamentação para não confundir marketing como ação cultural”, disse Miranda); o “achatamento de cachês”; a programação dos equipamentos dos CEUs e a necessidade de mais políticas públicas, nas formas de programas ou fundos.

Teatro Municipal
Emanoel Araújo faz uma reunião hoje com o secretário adjunto, Francisco Almeida Ribeiro, integrantes dos Patronos do Municipal e críticos de música para tentar definir o nome do novo diretor artístico do Teatro Municipal.

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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