21.3.2025 | por Valmir Santos
A zona leste de São Paulo são muitas, e atualmente abrange doze subprefeituras. Os territórios da Penha e de São Miguel Paulista, por exemplo, são ao mesmo tempo bairro e distrito. A Penha fica mais próxima do centro expandido da cidade. São Miguel, no limite da periferia urbana. Uma visita à memória da sociedade na década de 1970 permitiria constatar facilmente que essa noção de tempo e espaço era mais dilatada considerando-se a perspectiva do marco zero na Praça da Sé. Ao longo dos anos, o transbordamento geográfico avançou glebas adiante em direção a áreas rurais que viriam a conformar no mapa o também bairro e distrito Cidade Tiradentes.
Leia mais20.3.2025 | por Valmir Santos
Nos últimos dias, a memória reacendeu imagens dilacerantes geradas pela pandemia de coronavírus que causou mais de 7 milhões de óbitos no planeta, desde março de 2020. O distanciamento social foi uma das medidas mais adotadas por governos não negacionistas, ao contrário da criminosa gestão do Ministério da Saúde no Brasil, sob governo civil-militar. Como se sabe, nos períodos mais críticos, antes da chegada das vacinas, a medida visava a restringir a interação entre pessoas para diminuir a velocidade de transmissão. Pois reminiscências daquele olho de furacão sanitário podem ser percebidas em outras chaves segundo o corpo sócio-histórico de diferentes formas de lonjuras e proximidades, os vãos e vens que cruzaram espetáculos e ações de Rondônia e Rio Grande do Sul durante a segunda e última semana do Projeto Conexões Norte-Sul, organizado por Sesc RS e Itaú Cultural, de 6 a 16 de março, na sede da instituição paulista, em simultaneidade aos cinco anos do princípio da COVID-19.
Leia mais13.3.2025 | por Valmir Santos
“A gente é feito roda, sanfoneiro, só se equilibra em movimento”. Quando o dono da trupe e cafetão Lorde Cigano fala ao sanfoneiro Ciço, na parte final do filme Bye bye, Brasil (1979), de Cacá Diegues, a Caravana Rolidei já tinha trocado de caminhão e adotado a grafia Rolidey, agora em letreiro luminoso. No roteiro, seus artistas ambulantes rumam de Brasília para Rondônia, na tentativa de desviar da modernidade da televisão que tomava de assalto os lares urbanos do país. Levemente adaptada, a frase é citada no espetáculo teatral Meu amigo inglês (2022), do diretor e dramaturgo Mário Zumba, uma produção do Grupo O Imaginário, em atividade desde 2005 em Porto Velho.
Leia mais18.1.2024 | por Valmir Santos
Analisar reverberações das linguagens circo, dança e teatro mencionadas na quarta edição da pesquisa nacional Hábitos Culturais, divulgada em meados de dezembro, permite sondar o grau de relacionamento dos públicos com as artes cênicas na sociedade atual.
Leia mais25.10.2023 | por Valmir Santos
No intervalo de três meses e meio o teatro nacional se despediu de artistas vitais na fundação de dois de seus grupos há mais tempo em atividade na capital paulista: o Oficina/Uzyna Uzona de José Celso Martinez Corrêa, morto em julho, aos 86 anos, então prestes a completar 65 de trabalho artístico continuado, e o Teatro União e Olho Vivo, o TUOV de César Vieira, que morreu na segunda (23), aos 92 anos e 57 de caminhada coletiva.
Leia mais6.10.2023 | por Valmir Santos
Vencedor do Prêmio Nobel de Literatura 2023, atribuído pela Academia Sueca na quinta (5), o escritor e dramaturgo norueguês Jon Fosse, de 64 anos, é encenado no Brasil desde pelo menos 2004. Em março daquele ano, Denise Weinberg assinou a montagem de O nome, sob produção do Núcleo Experimental do Sesi, então coordenado por Isabel Setti. A criação inaugurou um espaço intimista e não teatral, o Mezanino, com cerca de 50 lugares, mantido em atividade até hoje na arquitetura de aço e concreto do Centro Cultural Fiesp, na Avenida Paulista.
Leia mais28.7.2023 | por Valmir Santos
Na 25ª cidade mais populosa do Estado de São Paulo, 307 mil habitantes no Censo de 2022, um teatro multiúso construído majoritariamente pelas mãos e recursos de seus artistas a partir de um projeto arquitetônico incomum, modulado por contêineres, em terreno vizinho a uma Unidade Básica de Saúde (UBS) e a uma escola estadual, encontra-se ameaçado de desmonte após quase quatro anos de atividades, inclusive no atravessamento da pandemia.
Leia mais30.6.2023 | por Valmir Santos
“Havia uma aldeia em algum lugar, nem maior nem menor, com velhos e velhas que velhavam, homens e mulheres que esperavam, e meninos e meninas que nasciam e cresciam”. O neologismo “velhar”, por subentendido, salta das primeiras linhas do conto Fita verde no cabelo (Nova velha estória), de João Guimarães Rosa, de 1964, feito verbo a sugerir seres inertes diante da vida. Seres, por assim dizer, antípodas às personagens assalariadas, moradoras na periferia urbana e ora desempregadas em Mãos trêmulas, a peça em que a mulher que costura figurinos para teatro há 60 anos e o auxiliar de cozinha que exerceu a função por 50 anos são pródigos em nadar contra a maré. Coisa que a equipe de criação do espetáculo também o faz em termos de contrapés temporais e espaciais na narrativa e na encenação abertas ao insólito e ao cotidiano para falar de afetos transformadores profundos no encontro de sujeitos sociais atuados por Cleide Queiroz e Plínio Soares.
Leia mais22.6.2023 | por Valmir Santos
Quanto mais prospecta as origens, mais a atriz sedimenta corpo e voz à memória da avó materna, Maria Cândida, que viveu 30 anos ao ritmo de rotação por minuto de quem alcançou mais que o dobro, a exemplo de Nena Inoue, autodeclarada na casa dos 60 e principal elo nesse entremundos. Em Sobrevivente, as únicas materialidades acerca da existência daquela mulher seriam o respectivo atestado de óbito, ora digitalizado e exibido em tela, e a deliciosa história de que a avó deixava a panela de arroz queimar levemente, de propósito, só para raspar a casquinha e compartir com as duas filhas ainda crianças. Hábito de cozinha que a neta artista herdou inconscientemente ou, melhor, ancestralmente, conforme a experiência de fruir a obra permite constatar.
Leia mais9.6.2023 | por Valmir Santos
Assim como a companhia Oficina Uzyna Uzona cumpriu um autodeclarado “desmassacre” em Os sertões, entre 2000 e 2007, quando montou cinco peças a partir da obra literária de Euclides da Cunha, pode-se dizer que o Grupo Clariô de Teatro levanta das bordas de Taboão da Serra com a zona sul de São Paulo, a seu modo, o “desmassacre” da Irmandade Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, no sul do Ceará, referente a ataques ocorridos entre 1936 e 1937, há 86 anos, quatro décadas depois da Guerra de Canudos, e revisitado no espetáculo Boi Mansinho e a Santa Cruz do Deserto, uma bem urdida síntese de sua cosmovisão comunitária e artística esculpida em 18 anos de trabalho.
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