Folha de S.Paulo
28.5.2005 | por Valmir Santos
São Paulo, sábado, 28 de maio de 2005
TEATRO
Hersch Basbaum reafirma idéia de uma entidade nacional nos moldes da ABL
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
A idéia vem em banho-maria desde 2003, mas agora o ex-diretor de marketing da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (2000-2003), Hersch Basbaum, 66, também ele inclinado à escrita para teatro, se diz mais articulado para a criação da Academia Brasileira de Dramaturgia.
Carrega debaixo do braço o esboço do estatuto da futura entidade que já teria apoio de Renata Pallottini, Lauro César Muniz, Consuelo de Castro, Maria Helena Küsher e Chico de Assis.
“Na Academia Brasileira de Letras não há dramaturgos desde que Dias Gomes [1922-99] se foi. Outros que escreveram teatro e que lá estão/estiveram não receberam a honraria por terem escrito peças teatrais”, diz Basbaum. Mas é preciso citar o imortal Ariano Suassuna (“O Auto da Compadecida”).
Para Basbaum, ainda há quem encare o teatro como “literatura menor”, porque implica a presença do ator e de outros elementos para fruí-lo. “De todas as artes, é o teatro, sem dúvida, quem melhor apresenta o ethos e o pathos de uma nação e, no conceito de Norberto Elias [sociólogo alemão, 1897-1990], a que traduz o verdadeiro “animus” da nacionalidade”, escreve Basbaum, que em 2002 organizou um congresso de dramaturgia no teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo.
A idéia da ABD, diz, é “imortalizar aqueles que escreveram e consolidaram o nosso teatro, cultuar a sua obra e a sua pessoa”. Mais: discutir os gêneros, as relações com o governo, o suporte financeiro, criar um museu de imagem e som, orientar novos autores, organizar concursos etc.
“Gostaria que a escolha de um ocupante de uma cadeira, de tempos em tempos, causasse o mesmo frisson que ocorre na ABL”, diz. No momento, ele busca apoio de entidades e gostaria de sediar a ABD em algum espaço público em São Paulo, cidade onde mora.
A idéia repercute. “Não conheço os fundamentos do estatuto, mas se é para criar um centro de estudos e de difusão da dramaturgia, acho excelente. Agora, a ser um lugar onde se sepultam imortais, não vejo nenhum sentido”, diz o dramaturgo Alcione Araújo, 55, que integra o conselho diretor da Sbat, sediada no Rio.
“Em princípio, nada contra, mas há muito a se fazer pela dramaturgia brasileira antes de fundar uma academia. Como incentivar novos autores, montar novos textos, formar novas platéias e divulgar esses trabalhos. O teatro é mais vivo do que se imagina, e a formação de uma academia pode fortalecer justamente a idéia contrária”, diz Samir Yazbek, 37.
“Muitos autores regionais importantes são pouco conhecidos no eixo Rio-São Paulo e uma academia brasileira lhes daria projeção. Faço votos de que ela vá para frente”, diz Maria Helena Kühner, do Rio. “Se existe a ABL, por que não a ABD? As pessoas dão grande importância a esse tipo de entidade, mas é preciso consenso nacional”, diz Chico de Assis, 71, que integrou os históricos seminários de dramaturgia do Teatro de Arena em São Paulo, nos anos 50 e 60.
“No momento, a dramaturgia brasileira está procurando um caminho. Já teve um, que perdeu em 1964: o brilhante caminho em que buscou o homem e o fato brasileiros”, diz Assis. Seria a academia uma vereda da salvação?
Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.