Folha de S.Paulo
21.5.2005 | por Valmir Santos
São Paulo, sábado, 21 de maio de 2005
TEATRO
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Na mostra paralela Fringe do Festival de Teatro de Curitiba, a cidade costuma ser tomada pela praga de espetáculos locais que apelam ao riso fácil, interação forçada e outras muletas “televisivas”. A vinda do grupo antropofocus para uma primeira e curta temporada de duas semanas em São Paulo é prova de que há vida inteligente em raras comédias daquelas paragens.
Com sessões esgotadas no Fringe, visto por quase 2.200 pessoas (a temporada paulistana é apoiada pelo FTC), “Pequenas Caquinhas” não é o que o nome sugere, como tampouco o era “Amores & Sacanagens Urbanas”, a peça anterior. A nova peça experimenta várias maneiras de fazer rir, sempre abusando da imaginação da platéia. Desde 2002, o grupo procura investir com mais “criatividade e inteligência” na interpretação e dramaturgia de humor.
São cenas curtas sobre ocasiões inusitadas, como a visita ao ginecologista, uma cantada no bar e a presença de um homem invisível.
Um sexteto de rapazes dá conta do jogo. Jully Mar domina os trocadilhos. Jairo Bankhardt brinca com seu clown. Danilo extrai sons onomatopaicos da boca. Anderson Lau, de ascendência chinesa, é um esguio faceiro da piada em si (ator revelação no Troféu Gralha Azul 2003). Marcelo Rodrigues rebola para amarrar uma coreografia possível ao grupo. E Andrei Moscheto é “o gordinho que faz contraponto aos magrinhos”.
Moscheto, 28, é o diretor do antropofocus. Ele fez parte do Ateliê de Criação Teatral, o ACT de Luis Melo, com quem contracenou em “Cãocoisa e a Coisa Homem”.
A primeira vez que Moscheto se deu conta de que poderia levar comédia a sério foi em 1996, quando estudava em Campinas e operou o som para um espetáculo de formação dirigido por Hugo Possolo (Parlapatões).
Anos depois, o antropofocus também buscaria referências nos britânicos do Monty Python e nos argentinos do Les Luthiers.
Em 2002, Moscheto e parte dos atores estudavam artes cênicas na Faculdade de Artes do Paraná (FAP). Foram convidados a apresentar cenas curtas num festival da cidade de Castro, no interior. Oficialmente, o nome antropofocus põe o homem no centro da comédia mas também discorre sobre variações impublicáveis.
Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.