Folha de S.Paulo
15.11.2005 | por Valmir Santos
São Paulo, terça-feira, 15 de novembro de 2005
TEATRO
Grupo mostra duas montagens em passagem relâmpago pelo Sesc Santana
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Um dos nomes fundamentais do movimento teatral em Campinas, a Boa Companhia de Teatro volta a São Paulo em passagem relâmpago pelo recém-inaugurado Sesc Santana. E traz simbiose recorrente em seus 13 anos: um texto literário convertido para a cena e um clássico da dramaturgia.
Hoje, apresenta “Primus” (2002), versão para o teatro do conto de Franz Kafka “Comunicado para uma Academia” (1917). Amanhã, é a vez de “Esperando Godot”, escrito em 1953 pelo irlandês Samuel Beckett.
Assinado pela diretora artística da companhia, Verônica Fabrini, “Primus” dá ênfase à expressão dos atores. Para contar a história do macaco que aprendeu a ser homem e se tornou uma estrela do teatro de variedades, o quarteto Alexandre Caetano, Daves Otani, Eduardo Osorio e Moacir Ferraz ora se converte em feras amestradas, ora em amestradores. Vão da base primitiva à dita civilização.
Se a imanência de “Primus” está no corpo, em “Esperando Godot” ela atravessa o território da palavra e do silêncio.
A meta é materializar poeticamente a condição humana retratada por Beckett naquele pós-guerra intermitente em que dois homens, Vladimir (por Osório) e Estragon (Otani), sentados à beira de uma estrada, esperam por alguém chamado Godot. Os dias passam e nada acontece. Godot, que não se sabe quem, quando ou como, nunca aparece.
A cia. nota a atualidade do texto nesta época que assistiria à deterioração do afeto. “Um mundo em que gastamos mais, mas possuímos menos; compramos mais e aproveitamos menos; temos mais conveniências e menos tempo; mais diplomas, mas menos razão; mais especialistas e ainda mais problemas; mais medicina, menos bem-estar; dominamos o átomo, mas não o preconceito”, diz o programa da peça.
Esperando Godot
Quando: amanhã, às 21h
Onde: Sesc Santana – teatro
Quanto: R$ 2
Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.