Folha de S.Paulo
1.11.2005 | por Valmir Santos
São Paulo, terça-feira, 01 de novembro de 2005
TEATRO
Mostra, resultado de cursos ministrados no espaço por Samir Yazbek, aposta na despretensão e na síntese dos textos
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Na esteira dos novos (e nem tanto assim) autores que buscam espaço na cena paulistana, a 1ª Mostra de Dramaturgia Contemporânea do Teatro do Centro da Terra é fruto de processo de criação consumido ao longo de 2005.
Da escrita ao palco, a trajetória permite paralelo com repertório mostrado há pouco pela recém-nascida Cia. dos Dramaturgos.
No Centro da Terra, estão seis dramaturgos de primeira viagem que despontaram em cursos ministrados há três anos por Samir Yazbek, autor de “O Fingidor” (Prêmio Shell de Teatro-SP, 1999).
A mostra começa hoje, com três peças permanentes a cada noite, às terças e quartas.
“Considero o resultado como um exercício de estilo, uma busca muito particular dos autores em expressar determinados temas”, diz Yazbek, 38. Não há propriamente um recorte comum.
“São textos de média duração, escritos de forma despretensiosa, uma qualidade de síntese que destoa daquela inclinação comum ao rebuscamento quando se tenta ser contemporâneo.”
Do surgimento da idéia à encenação, o princípio foi o da coletivização, diz Yazbek. Leu-se e discutiu-se os textos sempre em grupo. Mesmo na etapa final, quando atores e diretores foram agregados, os dramaturgos não deixaram de compartilhar, de promover mudanças aqui e ali.
Em “Meu Lado Daqui, Seu Lado de Lá”, que abre a primeira noite, a atriz Gisela Marques, 36, escreve sobre a ruptura brutal de um casamento, “a incapacidade do ser humano em lidar com sua própria sombra”.
Na peça “Um Q”, do engenheiro aeronáutico Mauro Hirdes, 46, um homem se vê impossibilitado de estabelecer uma relação afetiva real e recorre à fantasia para moldar uma cópia da amada conforme sua perspectiva de mundo.
Em “Desencontro”, a produtora Priscila Nicolielo, 24, trata do eterno retorno de ex-namorados que se reencontram por acaso.
Amanhã, são mais três peças. Em “Encaracolado”, escrita e dirigida pelo ator Eduardo Brisa, 26, casal vive o dilema da falta de espaço provocado pelo apego do marido a bens materiais. A situação fica crítica com uma gravidez.
Formada em marketing e com extensão em dramaturgia na Universidade da Califórnia (EUA), Juliana Rosenthal, 25, criou “Feliz Aniversário”, em que registra três fases na vida de uma mulher que odeia festejar aniversários.
Por fim, um segredo provoca as dores de um encontro amoroso refletido por um casal de escritores em “Um Chão Feito de Mar”, da musicista Patrícia Maês, 35.
Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.