Folha de S.Paulo
9.11.2005 | por Valmir Santos
São Paulo, quarta-feira, 09 de novembro de 2005
TEATRO
Espetáculo da companhia, que estréia hoje no Sesc Pompéia, trata das barreiras físicas e simbólicas na sociedade
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Na fieira da memória da humanidade, a imagem do arame farpado puxa muito do que foi o século 20 -os campos de concentração, por exemplo- e traduz um outro tanto daquele que corre. O arame farpado é constituído por fios enrolados uns nos outros.
Só que, em intervalos iguais, estão lá as pontas agudas a ameaçar a quem se aventurar a pular a cerca.
É numa espécie de túnel circundado por essas farpas que o espectador adentra o espetáculo “Pulando Muros”, a nova montagem do grupo XPTO, em cartaz a partir de hoje no Sesc Pompéia.
A área de convivência projetada pela arquiteta Lina Bo Bardi (1914-1992) será paradoxalmente tomada por barreiras, físicas ou simbólicas.
O diretor Osvaldo Gabriele concebe uma crítica à indústria do medo, quer na cenografia -que projeta um pátio de quartel por meio de oito torres-, quer nos personagens, vítimas ou algozes.
“O nosso cotidiano reflete uma intervenção concreta no desejo de cada um. Diante de uma ameaça externa, desviamos, cortamos, nos afastamos”, diz Gabriele, 47.
A metáfora do muro ganhou mais força quando Gabriele integrou a turnê do grupo Oficina pela Alemanha, com a epopéia “Os Sertões”. Em Berlim, ele notou o quanto a queda do Muro, em 1989, ainda não baixou a poeira do medo do outro.
A geografia do espetáculo espraia-se por Cisjordânia, Rocinha e outros contrastes virtuais, sociais, culturais, religiosos etc.
Entre as cenas de colagens, há a figura do Grande Blindador, que faz citações ao presidente dos EUA, George W. Bush, e depois se transforma num apresentador de programa de TV sensacionalista.
“O espetáculo traz esse lado sombrio, mas ao mesmo tempo se propõe à ironia e à diversão”, diz o diretor do XPTO, Osvaldo Gabriele.
Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.