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Folha de S.Paulo

Mostra revela as inovações da arte cenográfica de Josef Svoboda

8.12.2005  |  por Valmir Santos

São Paulo, quinta-feira, 08 de dezembro de 2005

TEATRO

Sesc Pinheiros abriga exposição do tcheco

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

O ano em que a cidade de São Paulo recebeu o arquiteto francês Jean-Guy Lecat, parceiro do encenador inglês Peter Brook, fecha com uma exposição dedicada ao tcheco Josef Svoboda. A cenografia ganha merecido e alentado olhar como elemento vital e orgânico das artes cênicas.

O Sesc Pinheiros abriga, a partir de hoje, a mostra “Josef Svoboda -°A Magia do Espaço Teatral”. É a mesma que passou em outubro pelo festival Riocenacontemporânea, sob curadoria da tcheca Helena Albertovà, pesquisadora responsável pelo acervo de Svoboda, morto em 2002, aos 81 anos. A obra e o pensamento dele transformaram as percepções sobre cenografia na segunda metade do século 20, conjugando tecnologia sem perder de vista a face humanista. A diferença é que o projeto atual é assinado por J.C. Serroni, que há oito anos mantém o Espaço Cenográfico, centro de referência na rua Teodoro Baiama.

Serroni e Hélio Eichbauer, que trabalhou com Svoboda, são interlocutores das representações do Brasil na Quadrienal de Praga, desde 1967 o principal evento mundial voltado para a cenografia. “Svoboda devotou seu talento genial ao teatro, sua musa mais efêmera, e dessa forma devemos rever a grandiosa obra de sua vida -pensando não somente em suas descobertas tecnológicas, mas em seu dom artístico e teatral”, diz Helena Albertovà, 64.

A curadora conviveu com o cenógrafo desde os anos 80 e prepara um livro que vai rastrear toda a produção do cenógrafo em teatro, dança e ópera. No dia 10, Albertovà fará uma palestra gratuita no Sesc sobre seu objeto de estudo, exibindo slides que dão conta da evolução do trabalho de Svoboda.

O artista foi revelado na Expo 1958, em Bruxelas, quando representou sistemas inovadores na apropriação de imagens e espelhos: a “lanterna mágica” e o “poliécran”. Em colaboração com Alfred Radok, artista tcheco decisivo em sua formação, buscou outra forma dramática na simbiose com telas, filmes, intérpretes etc.

“A Arte da Cenografia” permite uma imersão nessas experiências, ocupando o térreo e o terceiro andar do Sesc. Num dos módulos, construiu-se um túnel de 11 metros com os diversos efeitos de iluminação, projeção e reflexão de imagem. A entrada, no térreo, destaca sua trajetória de Praga para o mundo, com painéis de fotos que retratam mais de cem cenários concebidos para ópera e dança, como “Édipo Rei”, de Sófocles; “Anel dos Nibelungos” e “Tristão e Isolda”, ambos de Wagner.

Aliás, criações para encenações de obras do compositor alemão foram uma constante na vida do cenógrafo tcheco, ênfase percebida também no térreo. No terceiro andar são exibidos painéis fotográficos, maquetes de trabalhos internacionais e documentários sobre a produção de Svoboda. Em 1961, participou da seção de teatro da Bienal Internacional de São Paulo, onde expôs também em 1963 e 1965, sempre premiado.

A primeira grande mostra que chega por aqui marca o reencontro com a cidade por meio de material inédito. Em 1984, Svoboda escreveu: “Quando sento numa platéia deserta e olho para o espaço obscuro do palco, sou cada vez atraído pelo medo que ele se torne impenetrável. E espero que esse receio não me abandone jamais. Sem essa tentativa perpétua de revelar o segredo da criação, não há criação. É necessário sempre recomeçar do zero, e é isso que é maravilhoso”.



Josef Svoboda – A Magia do Espaço Teatral
Onde: Sesc Pinheiros (r. Paes Leme, 195, tel. 0/xx/11/3095-9400) 
Quando: abre hoje, às 20h, para convidados; a partir de amanhã para o público; de ter. a sex., das 13h às 21h30; sáb., das 10h às 21h30; dom. e feriado, das 10h às 18h30; palestra com Helena Albertovà: sáb., às 11h 
Quanto: entrada franca

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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