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Folha de S.Paulo

Teatro político de Pavlovsky chega ao palco do Rio

3.12.2005  |  por Valmir Santos

São Paulo, sábado, 03 de dezembro de 2005

TEATRO

Dramaturgo argentino é um dos destaques de evento na unidade do Sesc de Copacabana

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

A segunda edição do evento “Pratas do Rio”, diálogo cultural entre Brasil e Argentina, traz para o Rio de Janeiro um dos artistas mais respeitados da cena teatral vizinha, o ator e dramaturgo Eduardo Pavlovsky, 72.

“Tato”, como é mais conhecido, protagoniza seu texto mais recente, “Variaciones Meyerhold”, fragmentos da vida e do pensamento de Vsevolod Meyerhold (1798-1855), diretor russo dedicado à pesquisa da interpretação e parceiro de Stanislavski no lendário Teatro de Arte de Moscou -referência de formação de ator para o Ocidente.

Neto de russos, Pavlovsky é dirigido pelo filho Martín e contracena com a mulher, Susana Evans, com quem é casado há 25 anos.

Em 1978, o ator morou por quatro meses no Rio, a caminho do exílio na Espanha, por causa da ditadura argentina (1976-1983). A tortura é tema recorrente em sua obra, recortada por eventos históricos, políticos e sociais.

O evento inclui exibição de dois filmes inspirados em peças de Pavlovsky, que também é psicoterapeuta. A seguir, trechos da entrevista.

TEATRO POLÍTICO“Minha geração foi muito marcada pelos eventos históricos, quer latino-americanos ou argentinos. Meu pai, por exemplo, foi exilado durante o governo [de Juan Domingos] Perón, nos anos 50. Eu também fui para o exílio. Ou seja, não se trata da política que lemos nos livros, mas da política que vivemos no corpo.”


TORTURA
“Em 1971, escrevi a peça “Sr. Galíndez”, que tratava da institucionalização da tortura, de órgãos dedicados a transmitir aos jovens uma pedagogia da repressão. Escrevi antes da ditadura. Em termos de dramaturgia, investigava um tema difícil, o da lógica do repressor, sua subjetividade. Não se pode fazer teatro sem uma atitude crítica em relação aos personagens.”

MEYERHOLD“Meyerhold foi torturado e assassinado durante o stalinismo. Isso foi revelado recentemente, em 1992, com a abertura de alguns arquivos da KGB. Sofreu extensas sessões de tortura por integrar o partido comunista e sobretudo por criar uma arma ainda mais revolucionária: a liberdade criadora. Ele se opôs à linha do realismo socialista, uma política linear.

Além do eixo ideológico, outro ponto em comum do meu modo de fazer teatro com o pensamento de Meyerhold é a improvisação. A peça não tem uma dramaturgia pronta, escrita. Em cena, trato basicamente dos temas teatrais pelos quais Meyerhold foi atacado. Para ele, o protagonista do teatro é o corpo.”
 

PSICODRAMA“Ele sempre foi importante para mim. Aplico essa técnica [psicoterapia de grupo em que os pacientes escolhem os papéis que vão desempenhar na dramatização de uma situação] desde o final dos anos 50. Trabalhava com crianças em hospitais e me dei conta de que as diferentes formas de expressar a criação eram muito terapêuticas. Recorri a jogos em grupo e nunca mais deixei o psicodrama. Costumo dizer que o teatro é uma amante, enquanto o psicodrama é mais um casamento.”

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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