Folha de S.Paulo
11.2.2006 | por Valmir Santos
São Paulo, sábado, 11 de fevereiro de 2006
TEATRO
Márcia Abujamra encena peça de autor espanhol sobre a dificuldade de mostrar sentimentos
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Encontros e desencontros de homens e mulheres pontuam as 11 cenas de “Carícias” (1991), texto do espanhol Sergi Belbel que ganha primeira montagem em São Paulo, assinada por Márcia Abujamra, a partir de hoje no Sesc Belenzinho.
A tônica está na incapacidade de comunicar o afeto. Começa com um jovem casal perturbado pela falta de diálogo. Enquanto preparam o jantar, ele a esbofeteia e ela devolve o troco com naturalidade, sem que a tentativa de conversa seja interrompida.
“Os personagens de “Carícias”, título que muitos consideram irônico, reagem com violência não porque sejam violentos, mas porque não encontram canais de comunicação para expressar seus sentimentos”, diz Belbel.
Para o autor catalão, que é professor universitário e exerce a dramaturgia há duas décadas, a intenção é discutir a desumanização nos grandes centros urbanos. Seus personagens transitam medos e inseguranças.
As cenas são interligadas -cada quadro traz uma dupla, íntima ou não, e um deles sempre avança para a situação seguinte, em outro tempo e lugar.
“As pessoas são apanhadas no ápice de uma briga ou de uma aproximação, por exemplo. É quando elas se revelam com suas carícias possíveis. Todos nós somos um pouco tortos nessa tentativa de acesso”, diz a diretora Márcia Abujamra, 47.
Os 11 intérpretes (entre eles Cláudia Missura, Jiddu Pinheiro e Malu Bierrenbach) permanecem o tempo todo no cenário, emoldurado por um tablado e parede vermelhos. Também são 11 as cadeiras.
Apesar de pender para o drama, “Carícias” é pontuada por passagens cômicas. “O riso é algo quase terapêutico, talvez um dos últimos redutos da famosa “catarse” aristotélica”, diz Belbel.
Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.