Folha de S.Paulo
30.3.2006 | por Valmir Santos
São Paulo, quinta-feira, 30 de março de 2006
TEATRO
“O Cabaré dos Quase-Vivos” estréia no Centro Cultural
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Com 20 anos de teatro, o grupo Sobrevento gosta de encarar o boneco e a animação como artes ilimitadas. Borra formas, linguagens, técnicas, platéias de adultos e crianças. Enquanto um espetáculo fala de um gênio da música erudita (“Mozart Moments”, 1991), o seguinte recorre a uma banda de heavy metal ao vivo (“Ubu”, 1996).
Essa opção pela diversidade é condensada em sua nova peça, “O Cabaré dos Quase-Vivos”, que entra em cartaz amanhã no CCSP (Centro Cultural São Paulo).
Num plano da dramaturgia, criada pelo próprio grupo, surge o espaço do cabaré. Quatro atores demasiado humanos seduzem a platéia para uma noitada de diversão e escapismos.
Em outro plano, os cerca de 40 tipos de bonecos manipulados por esses mesmos atores pincelam um quadro de contrastes com um drama “real e humano”. Caem as máscaras.
“O espetáculo provoca um efeito beckettiano, em que o público se envolve e depois se dá conta de que aquilo não é tão engraçado quanto parece”, diz o diretor Luiz André Cherubini, 40. O Sobrevento já transpôs o universo do dramaturgo irlandês para os bonecos em “Beckett” (1992).
“Cabaré dos Mortos Quase-Vivos” quer se opor ao elogio da superficialidade nos dias que correm. [A visão superficial] é a que de triste já basta a vida, como se fosse possível caminhar fora dela”, diz Cherubini. “Aqui, os bonecos servem justamente para mostrar a humanidade que os “atores” perderam nesse mundo.”
Cherubini é um dos fundadores do Sobrevento, ao lado de Miguel Vellinho e Sandra Vargas. Ela e o diretor dividem o elenco com Anderson Gangla, Maurício Santana e Agnaldo Silva, todos ex-aprendizes de oficinas do grupo.
A música ao vivo é outro elemento crucial. Foi concebida por Pedro Paulo Bogosian (piano), acompanhado por Rodrigo Gonzalez (bateria) e Micaela Marcondes (violino). Os cenários e figurinos são de Márcio Medina, enquanto Renato Machado desenha a luz do espétáculo.
Antes de chegar ao CCSP, o novo espetáculo percorreu seis Centros Educacionais Unificados (CEUs) na periferia. Com sede na Mooca, o Sobrevento utilizou 25 jovens no processo de criação do espetáculo. A estréia encerra projeto contemplado pela Lei de Fomento ao Teatro.
Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.