Folha de S.Paulo
19.5.2006 | por Valmir Santos
São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 2006
TEATRO
Roteiro de Luiz Antônio Martinez Corrêa é inspirado em opereta
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Em duas apresentações gratuitas que fez no Sesi Sorocaba, no início da semana, Paulo Betti, 53, teve uma prova do potencial do espetáculo “A Canção Brasileira”, que estreou no Rio em 2005 e chega para curta temporada paulistana no Sesc Santana.
“É uma peça absolutamente popular, um delírio”, diz o ator, que assina seu primeiro musical.
A exultação tem a ver com o mote, o rapto de uma personagem carismática, a recém-nascida Canção Brasileira, por um trio de chorões: Violão, Cavaquinho e Flauta. Eles a levam para o morro e propõem um divertido inventário das suas influências, de modo a evitar a contaminação estrangeira, como o assédio da Valsa e do Fado.
No entanto, não tem jeito: a Canção desce o asfalto e se enamora do Tango. O texto de teatro de revista de Luis Iglesias e Miguel Santos estreou em 1933 e trazia, no elenco, Vicente Celestino e Gilda de Abreu, artistas que terminaram se casando em cena.
Na linha dos sucessos
A montagem que vem à luz agora é a versão do roteiro de Luiz Antônio Martinez Corrêa (1950-1987), diretor assassinado a facadas num apartamento do Rio. Ele vinha de sucessos com o gênero, como “Theatro Musical Brazileiro – Parte 1 (1860/1914)”, de 1985, e “Theatro Musical Brazileiro – Parte 2 (1914/1945)”, de 1986, sempre em parceria com Marshall Netherland.
A dupla já tinha planos para a montagem da opereta “A Canção Brasileira” (a opereta é um tipo de teatro musicado, leve, que entrelaça diálogos).
O roteiro deixado por Corrêa não estava completo, faltavam as partituras das músicas compostas por Henrique Vogeler (1888-1964), alemão radicado no Brasil. O processo de resgate foi parcimonioso. Primeiro, a irmã do diretor, Maria Helena Martinez, encontrou o roteiro. Em 1994, ela foi procurada por French Gomes da Costa, antigo freqüentador do teatro musicado, que assistiu à primeira montagem de 1933 e tinha cópia da partitura original.
“Depois da morte do Luiz Antônio, eu ficava na praça Tiradentes [no Rio], à noite, conversando com as pessoas que andavam por ali sobre os musicais e o teatro brasileiro. Uma vez, comentei que não conseguia achar essas partituras. Até que French apareceu em frente à minha casa e me deu de presente todas as partituras do espetáculo. Considero isso um milagre”, afirma Maria Helena, 82, que também colaborou na adaptação -ela é irmã ainda de outro diretor teatral, Zé Celso, do Oficina.
Em cena, são três músicos e 14 atores, entre eles Édio Nunes, Wladimir Pinheiro, José Mauro Brant, Erom Cordeiro e Juliana Betti. Depois de São Paulo, o espetáculo seguirá para Santos, Campinas, Santo André, Bauru e Poços Caldas.
Pelo resgate popular, “A Canção Brasileira” faz coro com outra produção carioca em cartaz na cidade, “Otelo da Mangueira”, no Sesc Anchieta.
Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.