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Folha de S.Paulo

Plume usa água como metáfora em “Plic Ploc”

24.7.2006  |  por Valmir Santos

São Paulo, segunda-feira, 24 de julho de 2006

TEATRO 

O diretor Bernard Kudlak fala sobre o espetáculo e comenta as propostas adotadas há 22 anos pela companhia
 

Grupo circense francês traz 13 esquetes em que predominam movimentos acrobáticos (solos e aéreos), a maioria “sob chuva”

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

“O circo é a nostalgia do Paraíso”, eis o lema do palhaço e malabarista Bernard Kudlak, do Cirque Plume. Ele não está em cena, mas dirige o espetáculo “Plic Ploc”. São 13 esquetes em que predominam movimentos acrobáticos (solos e aéreos), a maioria “sob chuva”. Segundo Kudlak, “os homens voam, suas sombras são vivas e os guarda-chuvas também são seres vivos”. Leia trechos da entrevista.
 

FOLHA – Quando o Plume surgiu, há 22 anos, quais eram as motivações artísticas? 

BERNARD KUDLAK
– Queríamos encontrar uma linguagem que fosse a mais universal possível. Um espetáculo rigoroso, mas que fosse capaz de se comunicar com todo tipo de público. Ao estilo do que dizia [o diretor francês] Jean Vilar: a idéia de um teatro popular e, ao mesmo tempo, elitista. Abrimos os baús do circo e ali dentro havia um tesouro. Essa arte nos permite encenar um universo de poeta. Por outro lado, nos obriga a ter uma prática física cotidiana, o que põe em equilíbrio o sonho e a realidade. O circo era uma arte à margem do espetáculo vivo, não tinha conhecido as mudanças que o teatro conheceu, assim como a dança. Era de certo modo marginal essa idéia de praticar uma arte popular. Marginal mas fascinante, e que tanto influenciou os poetas, os escritores, os cineastas e os pintores.
 

FOLHA – Como a metáfora da água é usada em “Plic Ploc”? 

KUDLAK
– “Plic Ploc” coloca os atores em cena lidando com um elemento desagradável. Esse tipo de elemento pode se transformar em catástrofe. A questão da água é colocada de modo poético. Aciona entre os seres humanos a possibilidade de abordar os transtornos, coletivamente e recorrendo ao riso, transformando por meio do imaginário e da inventividade o tal elemento desagradável em questão. Não proferimos um discurso ideológico. O circo é um poema encenado, escreveu Henry Miller.
Essa é a nossa filosofia.


FOLHA – O aspecto visual parece ter um poder decisivo no Plume. Como o circo pode enfrentar a ditadura da imagem no mundo contemporâneo? 

KUDLAK
– O mundo contemporâneo coloca telas em tudo. Procuramos a poesia das trocas simples. Não vamos além com as tecnologias sofisticadas utilizadas em outros lugares. Não procuramos mais cor, mais sons, mais efeitos, mais, mais… Procuramos o gesto exato.
 

FOLHA – A temporada do Plume em São Paulo antecede a do Soleil. A comparação é inevitável… 

KUDLAK
– A comparação entre as duas companhias sempre vem à tona. Elas têm em comum o fato de terem sido criadas na mesma época, em 1984, a partir de um projeto de renovação do circo. Os fundadores tiveram uma trajetória de artistas de rua antes de criar seu próprio circo. Sem fazer comparações, privilegiamos o encontro poético com o público.



Plic Ploc
Onde:
teatro Alfa – sala A (r. Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel. 0/xx/11/5693-4000) 
Quando: Estréia na sexta (29/7), às 21h; de seg. a sáb., às 21h; e dom., às 19h. Até 3/8 
Quanto: de R$ 40 a R$ 90 


Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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